quarta-feira, 22 de junho de 2016

Por que Francisco Xavier foi para a Índia?

Evangelizar e sofrer ainda mais - No meio destes penosos trabalhos desejava o nosso Santo outros ainda mais cruéis. Tudo isto nada era para o zelo que o animava. Falava muitas vezes do bem que se poderia fazer nos grandes países conquistados pelos portugueses nas Índias orientais, e da felicidade que gozariam aqueles que obtivessem a graça de serem para ali mandados, expostos a todos os sofrimentos, a todos os perigos e a todas as privações inseparáveis de um tal apostolado.
Era tal a sua preocupação que quase diariamente, nos poucos momentos que concedia ao sono, sonhava que tinha em seus braços ou às costas um negro sofrendo penas horríveis. Então ouvia-se-lhe gritar, no excesso do seu amor a Deus e do seu zelo pela sua glória:
"Ainda mais, Senhor! ainda mais!"

Ocupava-se Xavier desses cuidados em Roma, já que a viagem para a Terra Santa não foi possivel devido a guerra .Neste contexto, entra um importante personagem, Diogo de Gouveia, natural de Portugal.

Diogo de Gouveia (1471 - 1557), conhecido como Diogo de Gouveia, foi um destacado pedagogoteólogodiplomata e humanista português do Renascimento. Com extenso currículo acadêmico como reitor na Universidade de Paris, esteve ao serviço do rei D. Manuel I e de D. João III, que aconselhou na criação das capitanias hereditárias do Brasil e na vinda de missionários Jesuitas liderados por Francisco Xavier.
Biografia
Diogo de Gouveia nasceu em Beja. 
Foi um dos primeiros bolseiros portugueses em Paris: estudou no Collège Montaigu em 1499, beneficiando de uma de duas bolsas oferecidas ao rei D. Manuel I como compensação pelo ataque de corsários franceses a um navio português.[3]
Estudou na Universidade de Paris, onde foi Mestre de Artes. Ordenado sacerdote, concluiu os estudos na Sorbonne onde, em 1507, se tornou bibliotecário. Formou-se Doutor em Teologia em 29 de Abril de 1510.
De 1512 a 1521 foi agente diplomático de D. Manuel I em França, cuidando das queixas de armadores portugueses alvo de corsários. Em 1520 teve a ideia de comprar com fundos do rei o Colégio de Santa Bárbara, em Paris. Perante as dificuldades postas pelo proprietário Robert Dugast, o colégio foi alugado e Diogo de Gouveia tornou-se seu Principal (reitor), transformando-o num verdadeiro colégio português na Universidade de Paris.[5] Aí afluíram estudantes portugueses e os navarreses Inácio de Loyola e Francisco Xavier (o futuro fundador a Companhia de Jesus e o apóstolo das Índias).
Quando D. João III de Portugal subiu ao trono quis reformular o ensino para a servir as crescentes exigências dos vastos territórios administrados pela coroa. 
Como conselheiro de D. João III, Diogo de Gouveia 
Entre 1530 e 1534, devido às constantes viagens, confiou a direcção do Colégio de Santa Bárbara ao sobrinho André de Gouveia.
Alguns anos depois, pelo acaso ou providencia divina, eles se encontram em Roma, e daí surge a proposta de Diogo de Gouveia ao Rei de Portugal, a quem era seu embaixador.

Precisa-se de missionários para as Índias - Disseram-lhe, um dia, que D. João III, rei de Portugal, solicitara do soberano Pontífice a graça de lhe conceder seis Padres formados na escola de Inácio.
 Diogo de Gouveia, reitor do colégio de Santa Bárbara na época em que Francisco, Fabro e Inácio ali estiveram, voltara depois a Portugal. Enviado a Roma, pelo seu governo, a fim de ali tratar dum negócio de interesse da coroa, veio encontrar naquela cidade os seus antigos alunos do colégio Santa Bárbara, e presenciou os trabalhos dedicados que prestavam durante a fome aqueles cujas brilhantes faculdades e prodigioso talento ninguém melhor do que ele conhecia, e que mostravam não saber praticar senão atos de humilhação e caridade. Comunicou a sua admiração ao rei seu soberano, cujo zelo pela glória de Deus ele conhecia, pedindo-lhe que solicitasse alguns destes santos Padres para evangelizar as Índias orientais.
O rei de Portugal, aceitando gostoso esta proposta, acabava de escrever ao seu embaixador Pedro de Mascarenhas encarregando-o de dirigir aquele pedido ao Papa em seu nome. O Papa deixou o negócio à decisão de Inácio, que resolveu não dever conceder mais que dois dos seus discípulos para aquele apostolado, porque ele não tinha até ali mais que dez.

Quem são os escolhidos - Xavier sentiu o seu coração palpitar com maior força quando soube desta decisão, e, contudo, poderia pensar em si para um tal destino? Não, porque se julgava mil vezes indigno daquele favor! Não sabia, é verdade, qual dos seus irmãos merecesse mais para poder ser escolhido; achava-os todos tão perfeitos, que não via senão em si a exceção e humilhava-se profundamente perante Deus por aquela incapacidade.
Enquanto se tratava este negócio, Inácio ocupava-se em constituir a sua Companhia em Ordem religiosa, e em submetê-la à aprovação do soberano Pontífice. Comunicara todo o seu projecto aos seus discípulos e lhes rogara que reflectissem maduramente, perante Deus, sobre a escolha daquele a quem deveriam dar o título de Geral, logo que o Papa tivesse aprovado os estatutos da Sociedade e a tivesse autorizado.
Chamado naquela ocasião pelo rei, o embaixador de Portugal, e encarregado de acompanhar os dois Padres que lhe tinham sido prometidos, empregou este as maiores diligências e instâncias em obtê-los desde logo, e para que a sua partida fosse o mais breve possível Inácio designou então Simão Rodrigues e Nicolau Bobadilha; não se lembrou de Xavier, e o nosso Santo achou muito natural que o seu querido mestre não o tivesse escolhido para uma tal missão.
Simão Rodrigues achava-se então em Sena e Nicolau Bobadilha no reino de Nápoles, e ambos voltaram à ordem de Inácio. Rodrigues, ferido de febres intermitentes, mal podia ter-se de pé, mas mesmo assim ia obedecer: embarcou imediatamente em Civita-Vecchia no primeiro navio que se fazia de vela para Lisboa. Bobadilha adoeceu logo que chegou a Roma, mas como não estava ainda designado o dia da partida, esperava recuperar as forças perdidas, para poder obedecer também...
Xavier humilhava-se cada dia mais da sua indignidade, por ver os mais perfeitos do que ele destinados para aquele apostolado, que ocupava dia e noite o seu pensamento.

Xavier destinado às missões na Índia - A partida do embaixador fora finalmente fixada para o dia imediato. Sabe-o o nosso Santo, e faz ardentes votos pelo bom êxito dos seus irmãos; orava por eles com todo o fervor da sua alma, quando Inácio o chama.
- Francisco, lhe disse ele, eu havia designado Bobadilha para a missão das Índias, porém aprouve ao Céu escolher um outro. Sois vós que ele acaba de designar hoje mesmo, e eu vo-lo anuncio em nome do Vigário de Jesus Cristo...
Xavier, prostrado aos pés do seu santo mestre escutava no maior recolhimento de gratidão e humildade.
Inácio continuou: - Aceitai a missão de que Sua Santidade vos encarrega, como se Jesus Cristo em pessoa vo-la tivesse intimado, e alegrai-vos por encontrardes nela o cumprimento do ardente desejo de que nós todos nos achamos animados: levar a fé para além dos mares. Não é somente a Palestina, ou uma província da Ásia que tereis de evangelizar; são países imensos, estados inumeráveis, o mundo todo! Aquele tão vasto campo é digno da vossa coragem, é digno do vosso zelo! Ide, Francisco; ide, meu irmão, onde a voz de Deus vos chama, onde a Santa Sé vos -envia, e desenvolvei todo o fogo que vos anima!
As lágrimas de Francisco corriam até ao chão; porém eram lágrimas de felicidade!
- Pai da minha alma, respondeu ele, como pudestes vós pensar em mim para uma missão que exige um verdadeiro apóstolo? Eu sou o mais inerte, o mais fraco, o mais incapaz e o menos virtuoso dos vossos discípulos! E é por isso que eu me considero duplamente feliz!
"Meu Padre, eu obedecerei ao mandato de Deus! Estou preparado e pronto a sofrer tudo e com a maior alegria do meu coração, para a salvação dos pobres índios Confesso-vos, hoje, meu amado Padre, que há muito tempo o meu coração suspirava pelas Índias; porém não me atrevia a confessá-lo senão a mim próprio, por isso que me julgava indigno duma tal graça. Ah! Eu espero em Deus, que naqueles países idólatras, encontrarei o que a Terra Santa me recusou.
"Espero também que terei a felicidade de ali morrer por Jesus Cristo!...".

Inácio tinha já feito levantar o seu amigo: apertava-o ao seu coração de pai, profundamente comovido. 

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