Brâmanes: classe idólatra -
CARTA DE 12/01/1544, EM COCHIM NA ÍNDIA
"Entre os
pagãos deste país [Índia], existe uma classe de homens que se denominam brâames
ou brâamanes, eles guardam os templos e servem neles. É uma raça perversa e má,
que me faz dizer muitas vezes, dirigindo-me a Deus: Senhor, livrai-me desta
carta ímpia, desses homens traidores e perversos.
Toda a sua ciência e habilidade consiste em envolver nas suas ciladas a
gente sincera e ignorante. Em nome dos seus deuses fazem levar para os seus
templos tudo quanto desejam, e eles, suas mulheres e seus filhos vivem assim a
expensas do povo, a quem persuadem que as suas estátuas comem e bebem como os
mortais.
Além disto os pobres ignorantes não se atrevem a tomar as suas refeições
antes de oferecer ao ídolo uma moeda de dinheiro. Os brâmanes não cessam de
aterrar os crédulos, ameaçando-os com toda a espécie de males, se falam à
generosidade para com os deuses; e o povo, oprimido pelo terror, apressa-se em
satisfazer a cobiça desses impostores.
Os brâmanes desta Costa. estão furiosos contra mim, porque tenho
manifestado e provado as suas torpezas. Quando estão a sós comigo, confessam-me,
sem escrúpulo, que não vivem senão das suas mentiras; concordam que são
ignorantes e dizem-me que eu somente sei mais do que todos eles juntos. Muitas
vezes me enviam presentes que eu recuso sempre, a seu pesar, porque eles
desejam impor-me obrigações para me orçar ao silêncio. Esforçam-se em
lisonjear-me e dizem-me muitas vezes:
Sabemos perfeitamente que não há mais que um Deus, e nós lhe rogaremos
por ti.
A todas as suas lisonjas eu respondo como convém, e continuo a trabalhar
em desvendar os olhos ao povo.
Uma grande parte daqueles pobres ignorantes recebeu já o batismo mas
muitos resistem ainda pelo temor que lhes inspiram os brâmanes.
Desde que estou nestas terras não tenho podido converter mais do que um
brâmane, mancebo bastante novo que ensina às crianças os primeiros elementos da
religião cristã.
Orientação aos Brâmanes - Quando
percorro as povoações dos neófitos [recém convertidos], passo de ordinário por
entre os pagodes que aqueles impostores habitam. Há pouco tive a idéia de entrar
em um daqueles templos, onde duzentos brâmanes se achavam reunidos. Muitos
saíram ao meu encontro, e depois da troca de algumas palavras indiferentes e de
cumprimentos perguntei-lhes a que preceitos os seus deuses ligam a felicidade
futura.
Travou-se imediatamente entre eles uma discussão tão acalorada como
prolongada para resolverem o que me responderiam; finalmente foi concedida a
palavra ao mais idoso.
O velho octogenário pergunta-me então, por sua vez; o que nos prescreve
o Deus dos cristãos. Conhecendo eu para onde se dirigia o seu ardil
respondi-lhe que não o satisfaria enquanto não respondesse à minha questão.
Forçado a descobrir-me a sua ignorância, disse-me que os deuses não exigiam
mais do que duas coisas: a primeira não matar as vacas, cuja forma eles tomam;
a segunda fazer bem aos brâmanes, que são os seus servos e seus favoritos.
Aquela resposta penalizou-me profundamente! Experimentei no fundo da
minha alma uma pungente dor, vendo até que ponto o demônio cega os homens! Pedi
então aos brâmanes que me ouvissem, e recitei em voz alta o Símbolo dos
Apóstolos e os Mandamentos de Deus. Depois expliquei-lhes em poucas palavras o
paraíso, o inferno e o juízo final. Disse-lhes quais seriam os que gozarão da
bem-aventurança eterna, e os que serão votados aos suplícios que terão a
duração da eternidade, à intensidade do fogo sem fim.
A estas últimas palavras, todos eles se levantaram e todos em chusma me
vieram abraçar, exclamando que o Deus dos cristãos é o único Deus verdadeiro, e
que as suas leis estão em perfeita harmonia com a razão.
Perguntaram-me se as almas dos homens morriam com o corpo, assim como as
dos animais.
Naquele momento Deus me sugeriu um raciocínio para lhes responder tão à
medida dos seus desejos e inteligência, que ficaram todos convencidos da
imortalidade da alma. Os argumentos pelos quais se busca convencer os
ignorantes, não devem ter nunca a sublimidade dos que os nossos doutores
empregam nos seus livros; é preciso, antes de tudo, avaliar a capacidade
intelectual dessas pobres inteligências.
Os brâmanes ainda me perguntaram, como era que acontecia, que no sono,
nós víamos pais e amigos, e nos comunicávamos com eles, - o que, meus amados
irmãos me acontece muitas vezes para convosco-; - se Deus é branco ou negro;
porque os Índios, que geralmente são negros, atribuem aquela cor às suas
divindades. Os seus ídolos pintados de negro e untados dum óleo infecto, têm um
aspecto hediondo e repugnante!
Depois de haver satisfeito a todas as suas instâncias, chamei-os a
abraçar uma religião que eles próprios reconheciam ser a única verdadeira. A
isto me opuseram os frívolos pretextos de que muitos cristãos temem uma mudança
de vida; que isto daria que falar e eles perderiam o único recurso que lhes dá
com que viver.
Seita dos brâmanes: Em toda a Costa não
encontrei senão um brâmane com alguma instrução e que se diz ter sido discípulo
dum nobre e célebre colégio. Procurei vê-lo em particular e ele se prestou da
melhor vontade, e sobre as questões e perguntas que lhe dirigi, me respondeu que
eles estavam todos comprometidos por um juramento e não podiam revelar nada das
suas doutrinas; mas, que por amizade e como exceção para comigo, me falaria
abertamente.
Fiquei assim sabendo que o primeiro dos seus mistérios é que não existe
senão um só Deus, criador do céu e da terra, a quem somente devem um culto, e
que os seus ídolos são só as imagens dos demônios. Possuem monumentos que olham
como livros sagrados, e que contêm as leis que eles crêem divinas. Para as
ensinarem, servem-se duma língua tão pouco vulgarizada como é o latim entre
nós.
O meu brâmane desenvolveu-me também em seguida os seus preceitos
divinos, que não vale a pena repetir-vos. Observam e guardam o sétimo dia,
recitando nesse dia a seguinte súplica, que repetem por várias vezes: Deus, eu
te venero, eu imploro o teu socorro para sempre.
Em virtude do seu juramento recitam esta oração em voz baixa para que
ninguém a possa ouvir. O seu livro contém uma profecia anunciando que um dia
todos os povos da terra professarão uma única e mesma religião.
O mesmo brâmane me pediu que lhe explicasse também os preceitos do
Cristianismo, prometendo-me guardar o mais absoluto segredo. Respondi que nada
lhe diria, se ele me não prometesse o contrário, de publicar, por toda a parte
e em alta voz o que soubesse da nossa religião. Com a sua promessa, lhe
expliquei as seguintes palavras do divino Salvador, e que é a essência do
Cristianismo: Aquele que crer e que tiver sido baptizado será salvo. Dei-lhe
esta máxima e o Símbolo dos Apóstolos com um extenso comentário; ajuntei o
Decálogo e fiz-lhe ver a relação que existe entre o dogma e a moral.
Um dia veio ele procurar-me; disse-me que tinha sonhado que era já
cristão, que se achava associado aos meus trabalhos e que experimentara nisto a
maior alegria.
Rogou-me em seguida que o admitisse secretamente nos nossos mistérios;
mas como esta condição era ilícita, não concedi o batismo. Estou convencido que
Deus lhe concederá algum dia a graça de o fazer cristão. Recomendei-lhe que
ensinasse aos inocentes e aos ignorantes que não há mais que um Deus, criador
do céu e da terra, e que reina nos céus. Este homem seria já cristão se não se
visse retido pelo temor de ser perseguido pelos demônios, faltando ao seu
juramento".
MUÇULMANOS
MUÇULMANOS
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