Sofrimento e morte

ICONOGRAFIA DA MORTE DE SÃO FRANCISCO XAVIER

XAVIER DOENTE, SOLITÁRIO
Em Sancião,  Xavier doente

























Xavier agonizando















A Morte de Francisco Xavier 
A veneração do túmulo dum santo é uma dos aspectos principais do seu culto. No caso de S. Francisco Xavier, a veneração do seu túmulo iniciou-se praticamente logo após a sua morte. O seu corpo foi inumado de Sanchuão dois meses e meio após a sua morte, mais concretamente em 17 de Fevereiro de 1553 foi trasladado para Malaca onde chegou a 22 de Março de 1553, sendo finalmente transportado para Goa, onde, à sua chegada a 16 de Março de 1554, foi alvo duma imponente recepção liderada pelo Vice-Rei e na qual participaram membros de todos os institutos religiosos e da nobreza portuguesa, assim como a população local em grande número.
De imediato, o corpo de Xavier começou a dispensar milagres. Pois o seu corpo incorrupto e de bom odor vertia constantemente sangue e água fresca, como terá sido testemunhado, entre outros, pelo próprio Vice-rei, quando meteu a mão numa ferida aberta do corpo de Francisco Xavier por volta de 1556. Encontramos a referência a outros milagres precoces nos primeiros processos em Goa em 1556. Por exemplo, o escrivão dos órfãos António Rodrigues testemunhou acerca da cura milagrosa dos seus problemas do foro oftalmológico, após ter beijado os pés e as mãos de Francisco Xavier. Por sua vez, o Padre Baltazar Dias ter-se-á curado dos seus males de garganta, após ter pousado a garganta no corpo de Francisco Xavier.
A dupla trasladação do corpo de Francisco Xavier originou um importante culto junto do seu túmulo não só em Goa, como também em Sanchuão e em Malaca, tendo sido assinalados vários milagres durante as trasladações e junto aos seus três túmulos. Em especial, liga-se a Sanchuão um dos principais indícios da santidade de Francisco Xavier – a incorruptibilidade do seu corpo. Quando Diogo Pereira abriu o túmulo de Xavier em Sanchuão, ficou assombrado com a incorruptibilidade do corpo, não obstante o corpo ter sido coberto de cal viva para acelerar o processo de decomposição. Por essa razão, colocou algumas pedras sobre o túmulo que deviam servir de recordação. Em 1640 o Reitor de Macau ordenou que fosse ali colocada uma pedra sobre o monte decorada com uma inscrição latina e outra portuguesa. Seguiu-se, a partir de 1644, a proliferação de vários milagres. Em 1700 foi assim decidida a reconstrução do túmulo em Macau. Na origem de tal decisão encontra-se o facto de, após vários anos de seca, ter chovido, bênção divina que foi relacionada pelos devotos locais do santo com a reedificação do túmulo pelo italiano Padre Carocci dois anos antes.
Durante a Época Moderna, S. Francisco Xavier ganhou reputação como um dos santos mais eficazes em caso de peste ou epidemia, facto ilustrado em três quadros na Casa Professa de Goa e que representam Xavier em profunda oração pedindo o final da epidemia que então grassava na Ilha de Manar. A intercessão a Francisco Xavier é considerada, pelo menos tão eficaz in vita, como post mortem, no caso de epidemias de peste. Nesse sentido, vários moradores de Goa testemunharam em 1556 e 1567 que a peste cessara em Malaca logo após a chegada do cadáver àquela cidade.
Em paralelo à crescente veneração do corpo de Francisco Xavier, desenvolveu- se a iconografia da sua morte.

No Oriente, esta iconografia parece ter-se aliás desenvolvido exatamente na Índia e na China. No caso da arte indo-portuguesa conhecemos, porventura apenas documentalmente, várias obras representando este tema. No Fundo Schurhammer descobrimos aliás uma gravura do flamengo Fred. Bouttats, com a data de 1662, mas cujo subtítulo em latim é «Verdadeira Imagem, segundo o protótipo emitido em Goa, de S. F.co de Xavier, Apóstolo das Índias, morrendo afastado de todos». Esta gravura ter-se-á portanto inspirado no protótipo iconográfico da sua morte criado em Goa com a morte solitária de S. Francisco Xavier. Vemos, portanto, Francisco Xavier moribundo num tugúrio na Ilha de Sanchuão com o crucifixo e o rosário nas mãos, um barco simbolizando o sonho não realizado da viajem à China e uma segunda cabana de palha que foi um motivo muito divulgado pela gravura flamenga.
Curiosamente, não obstante a concepção iconográfica da morte solitária de Xavier ter sido, como vimos, eventualmente criada em Goa, a mesma concepção só se começou a impor na arte oriental no séc. XIX. O relevo em prata do seu túmulo, que se inspirou diretamente na respectiva gravura do ciclo de Regnartius, mostra já duas figuras, obviamente o convertido chinês Paulo de Santa Fé e o indiano Cristóvão junto a Xavier em agonia. De igual modo, uma pintura na Casa Professa de Goa representando Xavier moribundo e ainda com os anjos evoca a pintura do italiano Gaulli, mais conhecido por il Bacciccia, que com o Maratta foi um dos grandes especialistas da iconografia da morte de S Francisco Xavier.

Gaspar Conrado (atr.),
Morte de S. Francisco Xavier, séc. XVII,
 óleo sobre tela, Cidade do México,
Casa Professa.
Uma outra notável pintura da morte de Xavier é atribuída a Gaspar Conrado, finais do séc. XVII. Esta pintura segue o modelo mais raro de São Francisco deitado com a cabeça à direita do quadro e segurando os três atributos característicos da iconografia da sua morte (o crucifixo, o rosário e o breviário). Aos pés do Santo encontra-se o chinês António de Santa Fé vestido com trajes chineses. A cena é coroada pelos anjos tocando música e tem ainda ao fundo uma paisagem marinha com vários barcos.









Xavier agonizando







































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