sábado, 11 de junho de 2016

Relíquias de São Francisco Xavier

           O facto de S. Francisco Xavier se ter distinguido como missionário do Oriente determinou a “santificação” ou “veneração” de certos lugares com ele associados, assim como a proliferação de inúmeras relíquias, tanto corpóreas como objectos de contacto, praticamente em toda a Ásia. Uma tradição muito antiga diz que S. Francisco Xavier teria determinado a construção duma capela no interior do Colégio de S. Paulo onde teria celebrado missa. Esta capela poderá corresponder à actual Capela de S. Francisco Xavier, a qual sofreu importantes obras de reformulação e decoração nos finais do séc. XIX 11.
          Em Yamaguchi, Japão, conserva-se um poço, junto ao qual, segundo a tradição local, S. Francisco Xavier costumava fazer as suas pregações e que continua a ser um tema favorito da iconografia de S. Francisco Xavier12. Verificou-se, de igual modo, o crescente interesse pelas suas relíquias, em particular pelas relíquias corpóreas. De 1553 data a extração de um bocado de carne da coxa direita13. Em 1556 existia um relicário com cabelo de S. Francisco Xavier no Colégio de S. Paulo Uma parte do dedo do pé do Santo que a devota exaltada Condessa de Villahermosa tinha arrancado em 1554 era transportada em procissão em Goa nos finais do séc. XVII14. Todavia, a distribuição de relíquias corpóreas e de contato de Francisco Xavier iniciou-se verdadeiramente nos anos antecedendo a sua beatificação.
             Destaca-se em 1614 a separação do seu braço direito, aquele com o qual o Santo baptizava, a pedido do Geral Cláudio Acquaviva.

Relíquia do braço de S. Francisco Xavier,
Macau, Igreja de S. José 
A parte inferior do braço (o antebraço) foi levada para il Gesù em 1615, onde ainda se conserva. A parte superior do braço foi dividida em várias relíquias ex brachio, as quais foram distribuídas por casas jesuítas, incluindo as missões em Macau, Cochim e no Japão também em 1619. S. Francisco Xavier no Oriente – Aspectos de devoção e iconografia 127 Data das décadas de 1620 e 1630 a moda da distribuição de relíquias ex visceribus. No que refere ao Oriente, em 1637 Francisco Mastrilli ofereceu uma parte da sua relíquia ex visceribus à Província das Filipinas, a qual em 1643 era objecto de especial veneração15. Esta relíquia corpórea tinha um valor acrescentado, dado que os intestinos são os órgãos que normalmente entram primeiro em decomposição16.


Cofre em prata com a sobrepeliz de S. Francisco Xavier,
Museu de Arte Sacra, Goa 
           Maria Serrão, moradora em Goa, afirmou em 1556 que estava na posse duma pequena relíquia do cordão que o santo trazia em cima da alba, a qual teria poderes curativos17. Durante os processos de Lisboa (1614-1616) o Padre Francisco da Costa mencionou não só a devoção pelo túmulo de Xavier, como destacou a veneração pelas suas vestes, em particular pela sobrepeliz que o Santo vestiu em vida e com a qual foi enterrado em Malaca18.
       Durante os mesmos processos, o Padre Luís Pereira testemunhou acerca do estado de conservação considerado milagroso da sobrepeliz. Para evitar os excessos de veneração (os devotos mais fervorosos tinham por hábito arrancar bocados da sobrepeliz com a boca), em 1611 os jesuítas locais terão ordenado a execução dum cofre coberto de veludo com placas em prata. Este cofre foi substituído na década de trinta do mesmo século pelo relicário em prata atualmente no Museu de Arte Sacra em Velha Goa19. A medida do corpo morto de S. Francisco Xavier é uma outra relíquia dispensadora de milagres.
        No início do séc. XVII, como nos relata o cronista Sebastião Gonçalves SJ, as mulheres parturientes com dificuldades em terem os seus filhos, costumavam cingir a medida à volta da barriga20. Estas capacidades taumatúrgicas, sobretudo no caso de mulheres grávidas, aparecem aliás incluídas nas inquirições relativas à beatificação e posterior canonização de Francisco Xavier21. Devido às várias aberturas do seu túmulo em Goa22, este tipo de relíquia de contacto teve aliás enorme sucesso, enquanto objeto de culto de S. Francisco em Goa, existindo ainda as medidas tiradas ao corpo do santo por ocasião da abertura oficial do túmulo em 1859(23).
         Um missionário jesuíta, o Padre J. P. Porro SJ escreveu em 1625: «A uma hora de Yamaguchi encontra-se Myano. Aqui viveu o Santo Francisco Xavier. Coloquei um quadro de Francisco Xavier na parede, e as lágrimas, que os cristãos verteram perante a sua visão, mostraram claramente a sua veneração, a sua emoção e o seu amor pelo Santo»24. De facto, nas primeiras décadas do séc. XVI, assistiu-se no Oriente à proliferação de imagens de Francisco Xavier. Muitas destas imagens teriam um carácter taumatúrgico, tendo sido, por isso, um importante instrumento da Companhia de Jesus para fomentar a beatificação de Francisco Xavier.
         Uma carta do Padre Simão de Figueiredo ao Padre Diogo Monteiro de Goa e com a data de 25 de Novembro de 1614 refere entre os vários episódios taumatúrgicos atribuídos a Francisco Xavier e dos quais foi tomado instrumento público uma cura milagrosa dum velha de cento e vinte anos em Cochim, graças à intercessão duma imagem de Francisco Xavier25. De igual modo, os actos dos processos desta época mencionam imagens e medalhas de S. Francisco Xavier para culto privado e público e detentoras de capacidades taumatúgicas nas várias missões orientais26

NOTAS:
10 Sebastião GONÇALVES SJ, Primeira parte da História dos Religiosos da Companhia de Jesus, Coimbra, Atlântida, 1957, I, 517-519. 11 Mariano SALDANHA, História de Goa (política e religiosa), Nova Deli, Asian Educational Services 1990, II, 22. 12 Fernando GARÍA GUTIERREZ SJ, San Francisco Javier en el arte de España y Oriente, Sevilha, Guadalquivir, 2005, 219. 13 Georg SCHURHAMMER SJ, Die Xaveriusreliquien und ihre Geschichte, op. cit., 345. 14 Monumenta Xaveriana ex autographis vel ex antiquiribus exemplis colecta, (ed. ed. M. Lecina e D. Restrepo), Madrid, Roma, Institutum Historicum Societatis Iesu, 1912, II, 405-408. 
15 Georg SCHURHAMMER SJ, Die Xaveriusreliquien und ihre Geschichte, op. cit., 348-349. 
16 O médico Cosme Saraiva afirmou durante os processos de Goa em 1556 que: «achou tanto tacto e corpulência, e não estava balsamado, e lhe parece que tinha seus intestinos pelo tacto». (Processos de Goa (1556), Testemunho de Cosme Saraiva, in Monumenta Xaveriana, op. cit., II, 190). 
 17 Ibidem, 196. 18 Georg Schurhammer SJ, Die Lissaboner Heiligsprechungsprozesse Franz Xaver, in Gesammelte Studien, op.cit., 4, pp. 427-428. 19 Sebastião Gonçalves SJ, Primeira Parte da História da Companhia de Jesus no Oriente, op. cit., I, 454. 20 Ibidem, vol. I, 517. 21 António Ferreira testemunhou em 1615 no Processo de Goa: «que haveria des annos que, cahindo huma mulher prenha de huma escada para baixo, de que matou a criança que trazia no ventre, e perigou a sua vida, (….), mandara trazer a medida do sepulchro do B. P.e Francisco, e cingindo-se com a dita medida en continent deitara o menino menino morto, ficando ela com vida». (Uma relação inédita do P.e Manuel Barradas SI sobre São Francisco Xavier, in Gesammelte Studien, op. cit., 4, 463) 22 Acerca das várias exposições do corpo de S. Francisco Xavier, ver Filipa Lowdes Vicente, Canonização e exposições do corpo de S. Francisco Xavier em Goa, in Catálogo da Exposição São Francisco Xavier – A Sua vida e o seu Tempo (1506 - 1552), Lisboa, Comissão para as Comemorações do V Centenário do Nascimento de S. Francisco Xavier, 2006, 139-147 e Pamila GUPTA, The Relic State: St. Francis Xavier and the Politics of Ritual in Portuguese India (tese de PhD), Columbia, Columbia University, 2004. S. Francisco Xavier no Oriente – Aspectos de devoção e iconografia 129 
23 Duas destas medidas estiveram recentemente na exposição São Francisco Xavier – A Sua vida e o seu Tempo (1506-1552), 152, nr, cat. VIII. 141a, 141b e 142. 
24 Padre J. P. Porro SJ in Georg Schurhammer SJ, Die Heiligsprechung Xaver, op. cit., 473. 
25 Carta do padre Simão de Figueiredo ao Padre Diogo Monteiro, Goa, 25 de Novembro de 1614, in Monumenta Xaveriana, vol. II, 143-144. 
26 Monumenta Xaveriana, vol. II, 455, 479, 486-487, 513, 517sgs.



Encontram-se, atualmente, diversas relíquias de São Francisco Xavier espalhadas em diversos países do mundo, inclusive, o Brasil.

Corpo Incorrupto   / Túmulo na Índia
            O corpo de S. Francisco Xavier está hoje na Basílica do Bom Jesus em Velha Goa. A sua urna é exposta de dez em dez anos publicamente na Sé Catedral. O dia de São Francisco Xavier celebra-se a 3 de Dezembro de todos os anos. O corpo do santo encontra-se miraculosamente bem conservado, faltando-lhe, contudo um braço.
                                                     
São Francisco Xavier morreu aos 46 anos, em 1552, tentando entrar clandestinamente na China. Seu corpo foi levado primeiramente à Malaca, na Malásia. Porém, em 1637, os jesuítas levaram os restos mortais do santo para a Basílica do Bom Jesus, em Goa, na Índia, onde se encontram até hoje.
O corpo de São Francisco Xavier foi encontrado incorrupto e se manteve durante muitos anos em um estado de conservação muito notável desde seu falecimento em 1552. No entanto, este milagre que contribuiu para confirmar a extraordinária fama de santidade do missionário jesuíta, cessou há muito tempo. Ou seja, a afeição do corpo, perdeu sinais de frescura natural, depois de sucessivas intervenções humana quando fez-se cirurgias para extrair parte do corpo para servir de relíquia em outras igrejas espalhadas pelo mundo. A maior delas, é a retirada do braço direito que foi enviada para Roma. Depois dessas intervenções, é óbvio a perda de massa e líquido que mantinham o aspecto vital. "O que temos agora são as relíquias ou restos do corpo", esclareceu o Padre Vaz. Os restos mortais serão visíveis aos fiéis graças a uma luz instalada dentro do féretro e os fiéis valorizam muito esta oportunidade de aproximar-se das relíquias e tocar no relicário, "buscando as bênçãos", segundo referiu o sacerdote.

 A Exposição das Sagradas Relíquias de São Francisco Xavier no estado indiano de Goa é uma das maiores manifestações públicas da Fé Católica na Índia, e ocorre a cada dez anos. Durante 40 dias, o corpo do Santo, preservado incorrupto em um féretro de cristal, será transladado de sua tumba na Basílica do Bom Jesus à Catedral da Sé, onde será venerado por uma grande quantidade de devotos, que se calcula poderiam superar os cinco milhões de pessoas.
Pessoas de todo o mundo foram atraídas pelas relíquias, porque elas sentem que ele (São Francisco Xavier) está vivo e não morto", descreveu o sacerdote. O Reitor também indicou que entre os peregrinos se encontram numerosos não católicos que adquiriram a devoção ao Santo por causa da piedade popular dos crentes. Os devotos tiveram que formar longas filas sob o intenso calor para venerar ao Santo, as quais chegaram a reunir até 10 mil pessoas no último dia de exibição.
A primeira destas exibições ocorreu em 1782, 23 anos depois de que a comunidade dos Jesuítas a qual pertencia o Santo fosse expulsa do país após sua supressão. O objetivo da iniciativa era demonstrar que as relíquias não haviam sido levadas pelos religiosos a sua saída do território e desta forma dissipar os temores da povoação local.
A cada 10 anos, desde 1964, as relíquias sagradas de São Francisco Xavier são expostas para a veneração dos fiéis durante 40 dias, em Goa. Esses momentos marcam sempre a grande devoção de pessoas do mundo todo ao santo jesuíta. Entre 22 de novembro de 2014 e 4 de janeiro de 2015, (período que inclui a festividade de 03 de dezembro) pela 17ª vez, as relíquias  forão expostas. Em 2004, a exposição recebeu mais de 2 milhões de visitantes, quase o dobro que em 1994.
A exposição das relíquias de forma periódica a cada dez anos durante 40 dias se realiza desde 1964 e inclui neste período a celebração da memória litúrgica do Santo no dia 03 de dezembro. (GPE/EPC)

Pessoas de todo o mundo foram atraídas pelas relíquias, porque elas sentem que ele (São Francisco Xavier) está vivo e não morto", descreveu o sacerdote. O Reitor também indicou que entre os peregrinos se encontram numerosos não católicos que adquiriram a devoção ao Santo por causa da piedade popular dos crentes. Os devotos tiveram que formar longas filas sob o intenso calor para venerar ao Santo, as quais chegaram a reunir até 10 mil pessoas no último dia de exibição.

A próxima oportunidade de venerar de perto as relíquias de São Francisco Xavier não será em 2024 como exigia o prazo de dez anos, mas em 2022, já que nesse ano se celebram os 400 anos da canonização do missionário. 

Exposição das Relíquias (corpo incorrupto) nas Índias
Noticiário de 02 jornais com referencia as Exposição das Relíquias

Jornal 01 (2004)
Relíquias de São Francisco Xavier chamam milhões de visitantes
A exibição das relíquias de São Francisco Xavier na Índia está a ser um acontecimento marcante, para o qual se conta com a presença de três milhões de pessoas. A Basílica do Bom Jesus, onde está o túmulo do missionário, na parte antiga de Goa, será o lugar onde estarão expostos à veneração os restos do jesuíta, grande apóstolo do Oriente.
Desde o próximo Domingo, 21 de Novembro (2004) a 2 de Janeiro de 2005, as relíquias de uma das maiores figuras do cristianismo na Ásia serão expostas à veneração dos fiéis da região. Perante dos ataques de extremistas hindus no país e do recente incêndio na Basílica do Bom Jesus, em Goa (Índia), estão a ser reforçadas as medidas de segurança.
Goa, capital do Império português na Índia oriental, foi, em 1542, o local de chegada de São Francisco Xavier (1506-1552) e o ponto de partida do seu trabalho de evangelização no país e no extremo Oriente.
A primeira exposição dos restos mortais do santo Jesuíta aconteceu em 1782. Durante algum tempo, o corpo era exibido para veneração a cada ano, com ocasião da festa de São Francisco Xavier, em 3 de Dezembro, mas desde 1864, a exibição foi-se tornando menos frequente por motivos de segurança e, posteriormente, foi fixada a cada dez anos, criando um sentido de grande expectativa em toda a comunidade cristã.

Jornal 02 – (18/11/2004 – Roma)
Índia se prepara para exposição de relíquias de São Francisco Xavier.
Com grande expectativa e fortes medidas de segurança entre em 21 de novembro e 2 de janeiro se expor às relíquias de São Francisco Xavier na Basílica do Bom Jesus em Goa na costa ocidental da Índia.
Procissão com o corpo de Xavier pelas ruas de Goa na India
Conforme informou a agência vaticano Fides, depois do recrudescimento dos ataques de extremistas hindus registrados na Índia, a comunidade local instalou câmaras de circuito interno, policiais com detectores de metais e um serviço de voluntários que garantirá dentro e fora da igreja a ordem e a segurança dos peregrinos.
Estima-se que uns três milhões de peregrinos cheguem à Basílica, muitos passarão a noite dentro do complexo da Basílica ou acampando nos arredores.
Dom Filippo Neri Ferrao, Arcebispo de Goa e Daman, pediu aos peregrinos que colaborem com as medidas de segurança, levando seus documentos de identidade e uma carta de apresentação do pároco ou de uma autoridade eclesiástica.
Por sua vez, o Padre Sábio Barreto, reitor da Basílica do Bom Jesus afirmou que não se pode proibir esta prática de peregrinação tão enraizada desde os tempos antigos, explicando que “com algumas precauções, podemos estar seguros da sinceridade dos peregrinos que chegam”.                                             
Úmero (osso do antebraço) de Xavier na Igreja de
São José em Macau (China)


Nesta fotografia (lado direito) pode-se observar a autêntica romaria que de dez em dez anos se dirige a Velha Goa e à Sé Catedral para pedir proteção ao Santo Padroeiro de Goa. De todo o mundo vêm cristãos e são também muitos os hindus que veneram São Francisco Xavier.















Francisco Xavier chegou a Goa em 1542. A primeira exposição de seus restos foi em 1782. Desde 1864 esta prática se fez menos freqüente por motivos de segurança e depois se fixou a cada dez anos. A última teve aconteceu entre em 21 de novembro de 1994 e em 7 de janeiro de 1995

Relíquia do braço de São Francisco Xavier na Igreja de Gesù, em Roma

 











Local onde se encontra a maior de todas as reliquias:
o corpo incorrupto de São Francisco Xavier

Alta da Basílica de Goa na India com o corpo de São Francisco Xavier


PROCESSO VERBAL DA ABERTURA DO TÚMULO DE S. FRANCISCO XAVIER - 12 DE OUTUBRO DE 1859   


No ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1859, a 12 de Outubro, às 9 horas da manhã na igreja do Bom Jesus, antiga casa professa dos Padres da Companhia, sita na antiga cidade de Goa, onde se acha o túmulo com o corpo de S. Francisco Xavier, com pareceram o Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Visconde de Torres Novas, Governador Geral do Estado da Índia; o Governador do arcebispado de Goa, a Relação do Estado, Câmara Municipal do Concelho das Ilhas, e outras corporações, autoridades e chefes das repartições deste Estado, abaixo assinados, os quais haviam sido convidados para assistir à abertura do dito túmulo com o fim de se conhecer o estado em que se achava o corpo do mesmo Santo, em virtude da autorização concedida por Sua Majestade, em portaria do ministério da marinha e ultramar n. 100 de 11 de Setembro do mesmo ano e abaixo transcrita.
E logo com as chaves que existiam na secretaria geral e que foram apresentadas neste ato, se abriu o cofre em que se acha o corpo do Santo e se encontrou revestido de hábitos sacerdotais; depois, os facultativos de que se compõe a junta de Saúde, o físico-mor Eduardo de Freitas e Almeida, o cirurgião-mor José Antônio de Oliveira e o cirurgião da 1º. classe Antônio José da Gama, tendo procedido ao exame do corpo, acharam o crânio revestido, do lado direito da respectiva pele cabeluda, onde se vêem ainda alguns raros cabelos, e completamente descoberto do lado esquerdo.
A face toda está revestida de uma pele seca e escura com uma abertura do lado direito comunicando com o seio maxilar do mesmo lado, e que parece corresponder ao lugar da contusão de que trata o processo verbal lavrado em i de janeiro de 1782; dos dentes visíveis, só falta um dos incisivos inferiores; existem ambas as orelhas. Falta o braço direito; a mão esquerda está completa, compreendendo unhas, como se disse no processo verbal de 1782; as paredes abdominais acham-se cobertas de uma pele ressequida e algum tanto escura; o ventre não contém intestinos; os pés estão cobertos de uma pele igualmente seca e escura, deixando ver a saliência dos tendões; faltam no pé direito o quarto e o quinto dedos; contudo existem ainda em um deles restos de pele e das falanges num estado muito esponjoso.
À vista disto foi decidido que o corpo e as relíquias do mesmo Santo estão em estado tal que podem ser expostos à veneração pública, a fim de excitar e aumentar a devoção dos povos; e de tudo, eu Cristóvão Sebastião Xavier, oficial-maior da secretaria do Governo deste Estado, redigi este processo verbal, no qual se assinam todas as corporações e autoridades acima mencionadas. E eu Joaquim Heliodoro da Cunha Rivara, secretário do Governo Geral o fiz escrever. - Visconde de Torres Novas. - O governador do arcebispado, Caetano Peres, etc... seguem 57 assinaturas.
Ajuntemos aqui a descrição do túmulo do nosso Santo.
S. Francisco Xavier, está depositado em um caixão de prata lavrada e dourada. Este caixão está colocado em um soberbo mausoléu de mármore negro de Itália, circundado por três altares que ocupam as três faces do mesmo mausoléu, onde se acham esculpidas sobre o mármore, em baixo relevo, e com toda a perfeição artística, as principais ações da vida deste Santo apóstolo.
Este monumento, rico e precioso, merece ser minuciosamente admirado.
Era naquela igreja que vinham outrora tomar posse do poder os antigos vice-reis e capitães generais, e os actuais governadores gerais também continuam aquele uso praticando as mesmas formalidades.
A sacristia é em tudo proporcionada à magnificência deste templo, e vê-se aí uma bela coleção de pinturas e quadros.
Atrás do túmulo, dirigindo-se da sacristia para o convento, vê-se o quadro representando S. Francisco Xavier É, segundo se diz, o seu verdadeiro retrato, tirado pouco tempo depois da sua morte. Próximo da porta deste majestoso templo lê-se a seguinte inscrição:
"Sepultura de D. Jerónimo Mascarenhas, capitão de Cochim e de Ormuz, que mandou edificar esta igreja à sua custa; e, em reconhecimento, a Companhia de Jesus lhe consagrou este lugar".
Sobre uma coluna à entrada da porta principal, lê-se:
"Reverendissimus et illustrissimus D. Alexis Menezeus, archiepiscopus Goanensis, Indiae primas, Anno Domini MDCVI. d. ma ".
Havia sido anunciado que a exposição do Santo corpo seria pública desde 2 de Dezembro, dia da morte do grande apóstolo das Índias, até 1 de janeiro de 1860. Mas já se contavam mais de trinta mil estrangeiros chegados a Goa antes do dia da verificação jurídica da santa relíquia. "As ruas desertas da cidade de Goa, viram desfilar uma multidão de povo pertencente a todas as seitas e a todas as religiões. O rio estava coberto de embarcações, e o templo majestoso do Bom Jesus, onde está depositado o Santo, cheio de pessoas distintas que concorreram a este ato solene. Um outro ato semelhante, e que havia excitado talvez menos entusiasmo, tivera lugar, há mais de 77 anos, ao 1 de Janeiro de 1782; porém pouca gente assistiu ".
Monsenhor Canoz, da Companhia de Jesus, bispo de Tamase e vigário apostólico de Maduré, convidado a fazer parte dos peregrinos aos quais o governador de Bombaim havia oferecido o seu barco para se transportarem ao lugar da exposição solene do santo corpo, vai-nos dar a interessante descrição daquela cerimônia e dizer-nos a felicidade que ele gozou, junto do túmulo venerado do nosso ilustre Santo. Achamos estes pormenores na carta que ele escreveu ao Rev. Padre Bekx, geral da Companhia de Jesus e tem a data de 10 de Dezembro de 1859.
            "A igreja do Bom Jesus, ligada à antiga casa professa da Companhia e edificada por D. Pedro de Mascarenhas em 1592, não tem, diz ele, "senão uma só nave mui larga, e dois braços de cruz, no fundo dos quais se acham, dum lado o altar de S. Francisco Xaxier, e doutro o de S. Francisco de Borja. O altar-mor é dedicado a Santo Inácio...
Atrás da capela de S. Francisco Xavier eleva-se o famoso monumento erigido à memória do apóstolo das Índias pelo grão-duque de Toscam em 1655, e que se distingue através de uma larga grade de bronze dourado e artisticamente trabalhado. É para sentir que esteja encerrado em um espaço estreito e escuro que não permite apreciá-lo como merece. É formado de mármore branco, deixando nos quatro lados da base um largo espaço livre para um altar.
A segunda parte do monumento, colocado sobre aquela base, é ornada no meio de baixos relevos em bronze; representam, dum lado o Santo baptizando pobres infiéis, do outro pregando verdades da salvação, e sobre a terceira face, morrendo, abandonado na ilha de Sancião, próximo da China.
Finalmente a terceira parte diminui gradualmente de largura á proporção que se eleva; está encimada por um magnífico caixão de prata contendo o corpo do Santo e ornado de pequenas colunas entre as quais estão colocados vidros. Tinha-se feito descer aquele caixão para o colocar sobre um estrado elevado no meio do cruzeiro da igreja, e coberto de um tapete verde; mas o caixão forrado de um rico estofo, que encerra o santo -corpo, tinha sido retirado e deposto sobre uma das faces do monumento onde era permitido aos fiéis venerá-lo.
Um dia, depois de ter dito a santa missa no altar oposto, vim prostrar-me diante daquele caixão que abracei com toda a efusão do coração; e até à chegada dos piedosos peregrinos prolonguei com delicias minha ação de graças, meditando sobre as virtudes e merecimentos do Santo que o próprio corpo de Jesus Cristo que eu acabava de receber, santificara duma maneira tão prodigiosa.
Finalmente chegara o grande dia da festa de S. Francisco Xavier que foi anunciado solenemente pelo som majestoso dos sinos da Catedral e de todas as igrejas da cidade, assim como pelas salvas de artilharia.
As tropas, reunidas naquela ocasião, desfilavam com a música à frente, por diante da fachada da igreja do Bom Jesus e iam postar-se m estrada por onde devia passar o governador. Os cônegos da Catedral e a clerezia achavam-se já na capela do monumento esperando S. Ex.. Logo que ele chegou, ás io horas precisamente, começou a procissão que, atravessando o largo corredor do claustro, entrou m igreja. O caixão era levado por seis cônegos com capas de seda prateadas, debaixo do pálio e seguido do governador, do seu estado maior e de todos os funcionários civis e militares do Estado, convidados para aquela imponente cerimônia. Parou junto da barreira do santuário para se abrir o caixão e tirar-se a parte superior.
Então o corpo do Santo, posto a descoberto foi deslizado no interior do mesmo caixão, dando-se em seguida começo a uma missa solene com música que foi interrompida pelo panegírico do apóstolo das Índias.
O administrador daquela casa tinha preparado para nós um lugar na tribuna de onde podíamos contemplar à nossa vontade a procissão. Quanto ao sermão, foi-nos impossível entender uma só palavra por causa da distância em que nos achávamos e do grande sussurro do povo que ia e vinha dirigindo-se para junto do túmulo sagrado, sem prestar atenção ao pregador a quem também não compreendia...
Acabada a missa, um dos sacerdotes de serviço veio procurar-me assim como aos meus dois companheiros, o P. Gard e o P. Charmillot, chegados na véspera de Belgão, para nos introduzir no santuário a beijar os pés do Santo. Eu detive-me em presença do caixão, penetrado de devoção, deixando passar livremente por diante de mim todos os cônegos e os clérigos em serviço. Não posso exprimir-vos meu M. R. Padre, a comoção e o sentimento de alegria e felicidade que experimentei colando os meus lábios sobre aqueles pés sagrados que percorreram tantas regiões longínquas e pisaram tantas vezes esta terra da Índia para anunciar a tão diversos povos, abismados nas trevas da idolatria, a boa nova da paz e da salvação: Quam speciosi pedes evangelizantium pacem, evangelizantium bona! - Que formosos pés os daqueles que evangelizam a paz, que evangelizam o bem!
Quanto Deus é admirável nos seus santos, e como ele se compraz em glorificar, mesmo aqui em baixo, aqueles que só têm trabalhado pela sua glória! Eu considerei-me como delegado, com os meus dois companheiros, em nome de toda a Companhia, numa tão imponente cerimônia, e orei com todo o fervor de que era capaz, pela Igreja e seu chefe nas graves conjunturas em que ele se acha atualmente; por toda a Companhia e por aquele que a dirige; e por todas as missões da India e da China, unindo no meu coração o Maduré e Bombaim pedindo para todos os nossos missionários o espírito apostólico de S. Francisco Xavier e para os povos infiéis a graça da conversão.
O meu espírito, entregue a uma multidão de reflexões piedosas, não podia separar-se deste lugar abençoado. Não me achava satisfeito com aquele primeiro ato de veneração; voltei para ali naquela tarde, tornei a ir na seguinte manhã. Porém para satisfazer mais à vontade, a minha devoção, desejei ser admitido a uma visita particular; tinha já falado nisto ao cônego Pereira, vigário geral, encarregado de presidir no domingo à veneração das santas relíquias. Falei ainda ao administrador, depois ao secretário do governador, e fui bem sucedido. Conheceu-se que tinha esquecido colocar debaixo do caixão uma prancha com rebordos e guarnecida de pequenas rodas que devessem facilitar o movimento diário antes e depois da veneração. Foi fixado para o meio dia aquele trabalho e fui para aí convidado com os meus companheiros. Podeis imaginar se nós fomos fiéis ao chamamento. Ajudei por minhas próprias mãos a levantar a preciosa carga que foi deposta sobre o estrado em frente da uma de maneira, que nos deixava todo o vagar para contemplar o santo cor o. Ele está coberto de uma rica casula bordada a oiro e guarnecia de pérolas, presente de uma Rainha de Portugal em 1699, quando S. Francisco Xavier foi declarado defensor das Índias. Mas não era isto que atraia tanto a nossa atenção; ocupávamo-nos mais em fazer tocar os objetos de devoção, imagens, medalhas e rosários a seus pés sagrados.
Naquela ocasião um dos assistentes mandou-me uma fita cor de rosa, medida do comprimento do corpo, que eu envio a Vossa Paternidade. Auxiliei de novo a colocar o caixão no esquife; e foi então especialmente que ajoelhando-me junto daquela cabeça venerável, pus-me a contemplar aquele rosto do apóstolo, que parecia pregar ainda todas as virtudes apostólicas de que deixou no mundo tão belos exemplos, e sobretudo aquela máxima salutar que, saída da boca de Inácio, tinha feito nele uma impressão tão profunda e duradoira, e exercido uma tão maravilhosa influencia para a sua conversão e sua dedicação completa, ao serviço de Deus; aquela máxima que ele citava a todos, especialmente aos felizes do mundo e aos príncipes da terra, que mais precisavam: Quid prodest homini si mundum universum lucretur, animae vero suae detrimentum patiatur? - De que serve ao homem ganhar o universo se ele chega a perder a alma?
Reconhecem-se ainda os traços daquele heróico personagem que três séculos não puderam apagar. A pele que cobre o rosto está algum tanto trigueira; a boca entre-aberta dessa ver os dentes; distinguem-se os lábios, o nariz, as fontes; dir-se-iam espalhados sobre o crânio cabelos grisalhos, como encrustado na pele; a cabeça está algum tanto elevada, apoiada sobre um coxim. O braço esquerdo coberto duma alva preciosa estendido sobre a casula, deixa a descoberto a mão toda, cujos dedos se conservam suspensos e algum tanto separados uns dos outros.
Sabe-se que o braço direito foi cortado em 1616 por ordem do P. Geral Aquaviva e transportado a Roma, onde está exposto no Gesú, no altar de S. Francisco Xavier. Depois daquela amputação, feita numa grande sala da casa professa, o corpo do Santo perdeu aquela frescura e flexibilidade que conservara até ali.
Os pés conservam a sua forma e todos os dedos, exceto os dois pequenos do pé direito que foram tirados.
Entro nestes pequenos pormenores porque me persuado que agradará a Vossa Paternidade e àqueles dos nossos que lerem e que sem dúvida invejarão a minha felicidade de ter rosto com meus olhos aqueles restos milagrosamente conservados, que nos pregam tão fortemente a penitência e a mortificação, fazendo-nos ver sobre a terra a glória daqueles membros crucificados pelo serviço de Deus...".      
Um fragmento do braço direito do Santo, como já dissemos, foi concedido ao colégio que a Companhia de Jesus tinha estabelecido em Macau; mas sob a influência, ou antes, sob a dominação inglesa, o colégio dos jesuítas foi transformado em caserna e somente a igreja conservada.
Em 1834, uma imprudência dos soldados incendiou a caserna, os socorros foram mal dirigidos, o incêndio devorou os estabelecimentos, alcançou a igreja e não deixou senão ruínas... Não nos enganamos: no meio daquela grande e deplorável destruição um admirável milagre se verificou: quatro estátuas somente foram respeitadas pelas chamas e se conservaram de pé perfeitamente intactas: eram as de Santo Inácio de Loyola, S. Francisco Xavier, S. Francisco de Borja e S. Luís Gonzaga.
Numerosas relíquias dos mártires do Japão desapareceram naquele desastre... A de S. Francisco Xavier foi a única salva!

Poderíamos citar factos ainda mais recentes, atestando que o poder dos merecimentos do ilustre apóstolo, cuja admirável vida nos foi tão agradável escrever, está bem longe de enfraquecer; mas limitar-nos-emos a afirmar que ele se não invoca em vão. 




As cartas escritas (ou ditadas) por São Francisco Xavier são preciosíssimas relíquias e constituiem a principal fonte histórica para se conhecer sua atividade missionária, mesmo que nelas, o santo tenha evitado citar os inúmeros milagres e honrarias, frutos da boa impressão causada por ele.


Outro importante fator histórico que liga-nos diretamente a vida de São Francisco Xavier é o castelo de Xavier na Espanha onde nosso santo nasceu e viveu até sua juventude. Este era o simbolo de poder, ao qual lhe estava reservado por direito, mas Francisco abdicou dessa honraria para viver na extrema pobreza servido a Cristo e aos irmaos.





Em Salvador-Bahia encontra-se uma relíquia de S. F. Xavier, contudo, ainda, eu não possa identificá-la. Está visivel, aos fieis, como nesta foto, impregnada no busto do Santo, que como, andor sai em procissão em 10 de maio de cada ano no translado entre a Camara de Vereadores e a catedral da Sé de Salvador, que o tem como padroeiro.

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