lírio (castidade)

COM LÍRIO (símbolo de castidade)

Outras virtudes de santidade (pureza e espírito de mortificação) 
Um  quadro  atribuído  ao  pincel  do  flamengo  Anthony  Van  Dyck  (1599-1641)  nas colecções dos Museus do Vaticano mostra anjos a colocar uma coroa de rosas na cabeça  de  Francisco  Xavier,  enquanto  lhe  oferecem  um  lírio,  símbolo  iconográfico da  pureza  ou  da  castidade.  A  difusão  desta  iconografia  iniciou-se  todavia  ainda  no séc.  XVI.  Na  descrição  das  pinturas  perdidas  que  decoravam  o  noviciado  romano  da Companhia de  Jesus  de  Sant’Andrea  al  Quirinale  nos  inícios  de  1580  pelo  jesuíta  francês  Louis  de  Richeôme  (1611)  lê-se:  “num  dos  cantos  da  enfermaria  que  tinha  sido dedicada  a  Francisco  Xavier,  pode-se  observar  um  lírio,  no  outro  canto  uma  rosa. Estas  flores  significavam  as  virtudes  raras  da  castidade  e  caridade  deste  homem santo e que eram notáveis nele”41. A  iconografia  difundiu  assim  a  iconografia  de  Francisco  Xavier  com  um  lírio  na mão.  Conhecemos  várias  outras  representações  nas  quais  Nossa  Senhora  entrega  o lírio  ao  Santo.  A  virtude  da  pureza  ou  castidade  foi  aliás  objecto  de  inquirição  durante  os  primeiros  processos  realizados  em  Goa  e  Cochim  entre  1556  e  1557,  tendo sido  confirmada  pela  bula  de  canonização.  A  difusão  desta  virtude  atribuída  a  Francisco  Xavier  foi  sobretudo  difundida  pela  biografia  de  Inácio  de  Loyola  pelo  P.  Pedro de Ribadeneira a partir de 158742. Em  1536  Inácio  de  Loyola  deixou  Lisboa  em  direcção  a  Veneza  com  os  seus  primeiros  companheiros,  incluindo  Francisco  Xavier.  De  acordo  com  a  hagiografia  e  a iconografia,  Loyola  e  os  seus  companheiros  caminharam  descalços,  estavam  vestidos  pobremente  e  sofreram  grandes  padecimentos  ao  cruzarem  os  Alpes  cheios  de neve durante um Inverno particularmente agreste. 39  Georg  Schurhammer  SJ,  “Das  Krebswunder  Xaver  -  eine  budhistische  Legende?”,  in  Monumenta Xaveriana, ed. Georg Schurhammer (Roma: Institutum Historicum Societatis Iesu, 1964), III, 537-564. 40 Carta  do  P.  Simão  de  Fiegueiredo  ao  P.  Diogo  Monteiro,  Goa,  25  de  Novembro  de  1614,  in  Monumenta  Xaveriana, II, 144 e Osswald 2007, 133-134. 41 Louis  Richeôme  SJ,  La  peinture  spirituelle  ou  l’art  d’admirer,  aimer  et  louer  Dieu,  (Lyon:  chez  Pierre  Rigault, 1611), 427. 42 Usamos  a  reedição  mais  recente  da  biografia  do  P.  Inácio  de  Loyola  pelo  P.Ribanedeira  data  de  1989. (Pedro de Ribadeneira SJ,  Vita de Ignatio de Loyola (Milão: Claudio Gallone, 1989). 

No Ocidente como no Oriente, a açucena ou o lírio são um atributo constante na iconografia xaveriana até à actualidade. A sua fixação como atributo iconográfico essencial da figura de Xavier está intimamente ligada à cronologia da sua beatificação e da sua canonização. Data de 1619 uma gravura do Padre Sadeler com este atributo, sendo de destacar que a estátua de S. Francisco Javier deco-rando o interior do Collegio Romano em 1622 segurava a açucena nas mãos36. a questão da castidade ou pureza de Francisco Xavier tinha antes sido objecto de especial interesse durante os processos de Cochim em 1556, tendo sido sobretudo divulgada ao grande público, graças à biografia de Inácio de Loyola pelo Padre Ribadeneira, que escreveu:
«consérvole Dios limpio en su virginidad, y sin mancilla»37.Como observado por Ricardo Fernández Gracia: «es frecuente leer cómo, entre tantas insignias que identificaban el santo jesuita – estandarte, cruz y otras – la que el santo prefería era la de las azucenas, por singular devoción a la Virgen. Por esta razón Javier se mostraba y manifestaba, publica y privadamente en sus apariciones con ellas, tal y como ocurrió en Pótamo»38.
NOTA:
37Monumenta Xaveriana, vol. II, 269, 270, e Pedro RIBADENEIRA SJ, Vita de Ignatio de Loyola,Madrid, 1967, Livro IV, Cap. 7, 651.
38Ricardo FERNANDEZ GRàCIA, San Francisco Javier en la memoria colectiva de Navarra. Fiesta, religiosidad e iconografía en los siglos XVII-XVIII, Pamplona, Gobierno de Navarra, 2004
36 Pietro TACCHI VENTURI SJ, Le  immagini  dei  martiri  della  Compagnia  di  Gesù  nell’addobbo del Tempio Farnesiano per la Canonizzazione del 1622, in La Canonizzazione dei Santi Ignazio di Loiola Fondatore della Compagnia di Gesù e Francesco Saverio Apostolo dell’Oriente, Ricordo del Terzo Centenario, XII Marzo 1922, (ed. Comitato Romano Ispano per le Centenarie Onoranze), Roma, 1922, 107
.FONTE: Maria Cristina Osswald








Até mesmo na iconografia da morte de Xavier o lírio é um dos componentes , mas fica com os anjos

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