Chamou o Padre
Mandas, confiou-lhe o cuidado das povoações da Costa da Pescaria e partiu.
Chegou a Cochim a
20 de janeiro de 1545; ali se deteve para tratar dos interesses daquela cristandade
com D. Miguel Vaz, vigário geral de Goa, que ali trabalhava, incansavelmente
pela salvação das almas, sob a sua direção, e viu coxas pesar que os obstáculos
que se opunham aos progressos do Cristianismo eram bastante difíceis de vencer.
Cobiça
dos portugueses -
A cobiça dos portugueses, os desregramentos dos seus costumes, a sua severidade
e dureza para os indígenas, era espinhos que em extremo mortificavam o coração
do nosso Santo.
Os funcionários do
governo, longe de secundarem os desejos de D. João III, prestando à religião o
apoio das suas autoridades, deixavam-se seduzir pelo oiro dos brâmanes e
toleravam o culto dos ídolos na cidade de Goa.
Os cargos públicos
eram vendidos aos muçulmanos, ao passo que os cristãos eram deles excluídos. Concedia-se
ao rei de Cochim, tributário do de Portugal, a liberdade de confiscar os bens
de todos os seus vassalos que abraçassem o Cristianismo.
D. Miguel
deplorava amargamente um semelhante estado de coisas que punha entraves a todos
os esforços do seu zelo; desejava que Francisco Xavier fosse levar as suas
queixas aos pés do trono; porém o grande apóstolo não podia ausentar-se sem
perigo para as suas cristandades, e ficou combinado que D. Miguel Vaz
embarcaria no primeiro navio a fazer-se à vela, e iria apresentar ao rei, em
nome de Xavier, as queixas da religião.
Francisco Xavier
escreveu a D. João III com tanta energia, dignidade e santa liberdade, na
convicção de que ela agradará, não obstante ser algum tanto longa.]
46
A D. JOÃO III, REI DE PORTUGAL
Cochim, 20 de Janeiro 1545
Duma tradução em latim, feita em 1661
Senhor!
Fim que Deus teve em dar ao rei de Portugal o império da Índia e contas
que lhe há-de pedir.
1. Muito
desejo que Vossa Alteza tenha presente e lhe suplico o considere consigo mesmo:
que Deus Nosso Senhor concedeu a Vossa Alteza, de preferência a todos os outros
príncipes cristãos, o Império destas Índias, para o experimentar e ver com que
fidelidade cumpre o encargo que lhe foi confiado, e com que agradecimento
corresponde aos benefícios recebidos. Porque, nisto, não olhou tanto o Senhor
a enriquecer o real fisco de Vossa Alteza, com o produto de frutos preciosos
trazidos de longes terras ou com a importação de peregrinos tesouros, quanto,
com a ocasião de heróicos empreendimentos, oferecer benignamente à virtude e
religiosidade de Vossa Alteza a oportunidade de distinguir-se e mostrar o seu
ardente zelo, aplicando ao trabalho apostólico activos missionários que por
Vossa Alteza tragam ao conhecimento do Criador e Redentor do mundo os infiéis
destas regiões.
2. Com toda a
razão recomenda insistentemente Vossa Alteza, aos que envia a estas regiões,
que trabalhem infatigavelmente na propagação da nossa santa fé e aumento da
religião, pois sabe Vossa Alteza que Deus lhe há-de pedir conta da salvação de
tão numerosos gentios, que estariam dispostos a seguir melhor caminho se houvesse
alguém que lho mostrasse. Submergidos, porém, por escassez de mestres, em
obscuras trevas e imundícies de gravíssimos crimes, ofendem continuamente o seu
Criador e eles mesmos precipitam miseravelmente as suas almas na morte eterna.
Elogio ao Vigário geral que vai a Portugal e necessidade de que volte
para a Índia
3. Miguel Vaz,
que tem sido aqui Vigário e agora vai encontrar-se com Vossa Alteza, o informará
do que tem visto por si mesmo, da docilidade destas nações para abraçar a fé, e
das demais circunstâncias favoráveis que aqui há para a sua cristianização.
Este senhor é tão desejado pelos cristãos daqui, que convém o reenvie para cá
Vossa Alteza no ano que vem, para consolação e protecção deles. Aliás, os
próprios interesses de Vossa Alteza reclamam essa determinação, pois a grave
obrigação que pesa sobre Vossa Alteza de procurar a glória de Deus nestas
paragens, a descarrega em tão idóneo e laborioso delegado. Estando à frente
desta obra administrador tão fiel e experimentado, pode Vossa Alteza descansar
tranquilamente, seguro de que ele, com a sua excelente virtude – que submetida
à prova por tantos anos mereceu a veneração de todo este povo – não deixará
passar ocasião alguma para defesa e dilatação da religião.
4. Uma e outra
vez rogo e suplico a Vossa Alteza que, se quiser olhar pelo serviço de Deus e
pelos interesses da Igreja, se quiser galardoar de algum modo nesta vida a
tantas pessoas probas e honradas que vivem na Índia, aos cristãos recentemente
convertidos à nossa santa fé, e a mim mesmo, nos mande de volta o Vigário
Miguel Vaz, que dentro de pouco vai partir daqui. Não me movem a pedir isto
outras razões, a não ser a glória divina, o aumento da nossa santa fé e o
descargo de consciência de Vossa Alteza. Deus Nosso Senhor me é testemunha de
que digo a verdade, porque sei quão desejado é, nestas partes, varão tão
exímio, e quanta necessidade há dele. De maneira que, para cumprir com o meu ofício
e descarregar também eu a minha consciência, digo e asseguro a Vossa Alteza que
– para que se promova e dilate a nossa santa fé, para que os que vão sendo
agregados à Igreja não sejam arrancados a ela e voltem às suas naturais
superstições, ofendidos e aterrados com as muitas injúrias e graves vexames,
que recebem principalmente dos funcionários de Vossa Alteza – é absolutamente
necessário mandar-nos de volta Miguel Vaz que é quem tem fortaleza e constância
para se opor aos perseguidores dos cristãos.
O Bispo de Goa, embora de consumada virtude, tem já muita idade e
necessita de ajudante
5. Embora o
Bispo seja de virtude tão consumada como realmente é, não ignora Vossa Alteza
que, na sua velhice e achaques, ainda que lhe sobrem e aumentem de dia para dia
as forças espirituais, carece das corporais para suportar os extraordinários
trabalhos que supõe o diligente cumprimento do governo destas partes. É bem
verdade que Deus lhe concede tanta graça que, quanto mais se debilita no corpo,
mais se robustece no espírito. Este é o galardão que Deus Nosso Senhor concede
aos que perseveram muitos anos no seu serviço e empregam toda a vida e forças
em levar por sua causa os maiores trabalhos, até obter quase completa vitória
do seu corpo, sempre rebelde ao espírito. A esses concede Deus, nos últimos
anos, o fruto das suas contínuas lutas, para exemplo e perseverança dos
súbditos, ao verem como eles se sentem rejuvenescer, com a renovação das suas
forças espirituais, precisamente na idade em que a natureza degenera, oprimida
pelos males da velhice decrépita. E assim, na medida em que vão decaindo as
forças, vai-se mudando o corpo, de terreno em espírito celestial, com o
exercício da virtude. Por isso urge que se dê ao Bispo ajuda, para que possa
levar a carga do seu ofício.
Pede mais exigência com os funcionários reais da Índia e mais
autoridade e independência para quem esteja à frente do Padroado missionário
6. Peço a
Vossa Alteza e pela glória de Deus lhe suplico que, com a mesma rectíssima
intenção e sinceríssima verdade com que escrevo estas linhas, aceite também com
correspondente equidade e benevolência as minhas sugestões. Com o único desejo
da honra e glória de Deus e o de descarregar a consciência de Vossa Alteza, lhe
rogo instantemente que recomende aos seus funcionários da Índia as coisas do
serviço divino. Não só por cartas, mas também aplicando justas penas aos que
forem negligentes no cumprimento dos seus deveres e sancionando as suas
recomendações com exemplares castigos. Porque existe o perigo de que, quando
Deus Nosso Senhor o chame a Juízo [e isto pode suceder quando menos se espera,
e esse Juízo é absolutamente iniludível], possa ouvir de Deus irado: «Porque
não advertiste os que na Índia recebiam de ti autoridade e eram teus súbditos,
de serem meus inimigos quando, a esses mesmos, se os encontrasses negligentes
na vigilância e cuidados dos impostos e do fisco, os castigarias severamente?»
E não sei que valor teria para escusar Vossa Alteza naquele transe a resposta:
«Todos os anos, ao escrever para lá, recomendava as coisas do vosso serviço».
Pois se lhe replicaria imediatamente: «Aos que recebiam com indiferença estes
santos mandatos, deixáva-los impunes; quando, ao mesmo tempo, aos que se
mostravam pouco fiéis ou negligentes no governo das tuas coisas, lhes aplicavas
as devidas penas».
7. Peço e rogo
o mais encarecidamente que posso a Vossa Alteza que, pelo zelo ardente que tem
da glória de Deus, e pelo cuidado que sempre põe em cumprir o seu dever no que
se refere a Deus, e para descargo da sua consciência: envie à Índia um ministro
idóneo, com a necessária autoridade, cujo único cuidado seja olhar pela
salvação de inumeráveis almas que perigam nestas paragens; e este, no desempenho
do seu cargo, receba de Vossa Alteza autoridade que não dependa das ordens e
jurisdição daqueles a que Vossa Alteza confia o encargo dos impostos e negócios
do seu reino. Assim se evitariam, no futuro, os muitos e graves inconvenientes
e até escândalos que, em tempos anteriores, tem sofrido aqui a religião.
Não há proporção entre os meios destinados ao Padroado e aos outros
interesses reais
8. Considere
bem Vossa Alteza e faça exactas contas de todos os benefícios e bens temporais
que, pela graça de Deus, recebe destas Índias. Separe, da soma total, o que nestas
regiões emprega no serviço de Deus e bem da religião. E assim, fazendo uma
serena comparação entre os interesses da coroa real e os de Deus e da sua
glória, faça a distribuição que o ânimo agradecido e religioso de Vossa Alteza
creia boa e equitativa, tendo o cuidado de que o Criador de todas as coisas,
que tão pródigo se tem mostrado em conceder-lhe bens, não pareça receber de
Vossa Alteza uma remuneração escassa e parca. Nem vacile por mais tempo, nem o
retarde Vossa Alteza, pois por muito que se apresse, toda a diligência é pouca.
O amor verdadeiro e ardente que tenho por Vossa Alteza me move a escrever isto.
De facto, imagino as vozes de queixa, que da Índia se elevam ao céu, por Vossa
Alteza se mostrar avaro com ela, uma vez que, dos abundantes benefícios que
daqui vão para enriquecer o real erário, só uma pequena parte dedica Vossa
Alteza ao remédio das gravíssimas necessidades espirituais que há nestas
regiões.
Estado geral das missões em Ceilão, Goa, Cabo de Comorim e Cranganor.
Necessidade de missionários jesuítas de que possa dispor para a Índia e Extremo
Oriente
9. Creio que
não desagradará a Vossa Alteza conhecer em que ponto e estado se encontra o
negócio da salvação das almas nestes seus povos da Índia, aos que, por cargo,
tem obrigação de atender. Em Jafanapatão (*Jaffna) e na costa de Coulão3, só
neste ano, facilmente se agregarão à Igreja de Jesus Cristo mais de cem mil
pessoas4. Não falo da ilha de Ceilão: oxalá que o muito favor que Vossa Alteza
concede ao seu rei5 suavizasse a dureza com que se empenha aquele príncipe em
excluir Jesus Cristo de todos os territórios da sua jurisdição.
10. Rogo a
Vossa Alteza que envie a estas partes muitos da Companhia [de Jesus] que sejam
suficientes, não só para batizar e instruir na doutrina cristã tantas pessoas
que se sentem movidas a abraçar a fé em Jesus Cristo nestas paragens, mas
também para enviar alguns a Malaca e regiões circunvizinhas, onde são
muitíssimos os que se fazem cristãos6.
O P. Mestre
Diogo e micer Paulo estão no colégio da Santa Fé. Uma vez que eles escrevem
muito por miúdo a Vossa Alteza sobre aquela santa casa, nada mais digo dela, a
não ser que não leve a mal pedir a Vossa Alteza, como última graça, que escreva
a Cosme Anes7, para que leve a termo e acabe aquele santo colégio que ele
começou e promoveu: que não se canse daquela obra, pois Deus, em primeiro
lugar, e também Vossa Alteza, o galardoarão como merece por tão preclara obra.
3
Região meridional do Malabar, que outrora pertenceu à jurisdição de Iniquitriberrim
e de Mârtânda Varma.
4
Esta esperança desvaneceu-se com o fracasso da expedição punitiva contra Jaffna
(Xavier-doc. 51,1) e com a resolução que se tomou de não ajudar os reis de
Coulão e Travancor, por consideração com o imperador de Vijayanagar .
5
Bhuvaneka Bâhu, rei de Cota (Kôttê, perto de Colombo) em 1521-1551, chamado
também imperador de Ceilão. Xavier entregou-lhe, em princípios de 1544, uma
carta de D. João III para que aderisse à fé cristã, como prometera por um
delegado seu, mas em vão (ib. 588). Xavier ainda não sabia que este mesmo rei
de Cota tinha matado o príncipe Yugo em 20 de Janeiro de 1545 (cf. Doc. Indica
I 44 59).
6
Ainda não sabia Xavier que dois reis de Macassar se tinham convertido ao
cristianismo.
7 Cosme Anes, de nobre estirpe, foi um dos fundadores
do colégio de S. Paulo. Era amicíssimo de Xavier e da Companhia de Jesus. Tinha
ido para a Índia em 1538, com o cargo de Escrivão geral da matrícula, vindo a
desempenhar depois o de Secretário geral (1547-1548) e o de Vedor da fazenda real
(1548-1560). Morreu em Goa, em 1560.
11. Francisco
Mansilhas e eu encontramo-nos no Cabo de Comorim com os cristãos que converteu
Miguel Vaz8, vigário do Bispo da Índia. Agora tenho comigo três sacerdotes
naturais desta terra9.
O colégio de
Cranganor10, obra do Padre Frei Vicente11, vai em notável aumento. Se Vossa
Alteza o continuar a favorecer, como tem feito até agora, irá de bem em melhor.
Há motivo para dar muitíssimas graças a Deus pelo enorme fruto que brota
daquele colégio para glória de Jesus Cristo Nosso Senhor. Espera-se
fundadamente que, dentro de poucos anos, saiam dali varões religiosos que levem
todo o Malabar, atolado actualmente em vícios e erros, a ter vergonha salutar
do seu miserável estado, e que iluminem aqueles entendimentos cegos com a luz
de Cristo Nosso Senhor e lhes manifestem o seu nome, graças ao trabalho e
ministério desses discípulos de Frei Vicente. Rogo e suplico a Vossa Alteza
que, pela causa de Deus, se digne favorecê-lo, manifestando-lhe a sua régia
benignidade e concedendo-lhe a esmola que pede.
Espera morrer na missão
12. Como
espero exalar o último suspiro nestas regiões da Índia, e já não tornarei a ver
Vossa Alteza neste mundo, rogo-lhe que me ajude, com as suas orações, para que
na outra vida, com mais descanso do que o que agora temos, nos vejamos
mutuamente. Peça a Deus Nosso Senhor por mim, o que eu lhe peço também por
Vossa Alteza: que nesta vida lhe dê graça para sentir e fazer o que, na hora da
morte, desejaria ter feito.
De Cochim, a 20 de Janeiro de
1545
Servo de Vossa Alteza, FRANCISCO
8 Em 1536-1537 (cf.
SCHURHAMMER, Die Bekehrung 209-224).
9
Francisco Coelho, Manuel e Gaspar.
10
Cranganor, para norte de Cochim, ficava na região dos cristãos de S. Tomé.
11
Frei Vicente de Lagos OFM, da Província da Piedade dos franciscanos reformados
(capuchos) a que pertencia também o Bispo de Goa, foi para a Índia com este
prelado em 1538 e em Cranganor fundou o referido colégio para filhos dos
cristãos de S. Tomé. Morreu em 1552. Era amicíssimo de Xavier e da Companhia de
Jesus (SCHURHAMMER, Ceylon; Quellen).
46 bis12
GRAÇAS E INDULGÊNCIAS QUE PEÇO PARA REMÉDIO DESTES MALES E DAS MUITAS
ALMAS PERDIDAS QUE POR ESTAS PARTES ANDAM
Princípios de 1545
1. Se a Vossa Alteza parece bem:
mandar, a todos os que têm encargo da justiça na Índia, que nenhuma testemunha
seja válida sem primeiro se confessar e levar um bilhete do seu confessor [de]
como é verdade que está confessada [e só assim] faça o juiz o seu ofício13; e,
o que a testemunha assentar, que não seja válido nem se [lhe] dê fé, até que,
sobre o que tem assentado, tome o Senhor e traga outro bilhete de seu confessor
que faça fé de como tomou o Senhor; sejam válidas testemunhas assim e doutra
maneira não, para que não digam os infiéis destas partes que falam mais
verdade jurando eles sobre os seus pagodes, que os portugueses sobre os
Evangelhos14.
2. [E porque é
necessário que Vossa Alteza olhe] muito por ela15 [Índia], por Deus Nosso
Senhor lhe ter dado como rei, seu pai16 e, depois, Vossa Alteza, para governo a
bem dela, peço a Vossa Alteza, por amor e serviço de Deus Nosso Senhor, que
mande pedir a Sua Santidade, dos tesouros da Igreja, esta graça e indulgência,
tão necessária para estas partes da Índia: que em qualquer lugar da Índia,
povoado de portugueses, nos dias em que se celebra a festa de qualquer ermida
ou ermidas do lugar onde vivem, todos os que se confessarem ou comungarem em
sua véspera ou dia, ganhem indulgência plenária. Porque faço saber a Vossa
Alteza que muito pouca é a gente da Índia que se confessa: é que, na Quaresma,
a gente de guerra anda de armada e os casados e pobres vão para o mar ganhar a
vida. De maneira que, senhor, na Quaresma não se confessam e, ainda que
quisessem, não poderiam confessar-se todos, por serem muitos17…
12
É de crer que era um suplemento a outra carta que o santo escreveu a D. João
III em 20 de Janeiro de 1545 e que o seu amigo, o Vigário geral Miguel Vaz,
devia entregar ao rei juntamente com o seu próprio relatório sobre a missão da
Índia. Essa outra carta extraviou-se (cf. EX I, 255 n. 46a).
13
À margem, faz notar o secretário do Rei sobre a resposta a enviar a Xavier:
«Que isto não parece bem pelos inconvenientes».
14
Aqui, acrescenta o secretário, à margem: «Tomará (o) Senhor e jurará para
isso». Cf. tentativas de S. Inácio de Loyola sobre o reforço do decreto do Papa
Inocêncio III, Cum infirmitas, segundo o qual, aos doentes que recusam os auxílios
espirituais, também se lhe devem negar os auxílios do médico (Monumenta
Ignatiana – Epistolae I,). Numa post-data de Janeiro de 1544 comunicava Inácio
a Xavier o êxito das suas tentativas em Roma (ib. 271).
15
Na incompleta parte antecedente, falava Xavier da Índia. Por isso completamos
assim: «E porque é necessário que V. A. olhe por ela».
16
D. Manuel I.
17
Este segundo pedido devia seguir para Roma. Por isso, o secretário acrescentou
à margem: «Que S.A. mandará suplicar e lhas mandará». Efectivamente D. João III
escrevia em 19 de Fevereiro do ano seguinte, 1546, ao seu embaixador em Roma:
«Peçais da minha parte as graças e faculdades declaradas na informação, que vos
com esta envio… E, porque o tempo é tão curto, daqui à partida das naus para a
Índia, e há lá muito grande necessidade destas faculdades que mando pedir a Sua
Santidade, e as queria por isso mandar nesta armada,… trabalheis, quanto vos
for possível, com Sua Santidade, que vos queira conceder todas as ditas
faculdades logo». A carta real não chegou a Roma antes de 4 de Abril:
demasiado tarde, pois naquela mesma semana saíam de Lisboa as naus da Índia
(ib. VI, 47).
[*Cartas
- Pela mesma
ocasião escrevia o nosso Santo a Santo Inácio pedindo que lhe mandasse Padres
da sua Companhia de reconhecida virtude e de saúde robusta e capazes de
resistirem a grandes fadigas
Xavier escreveu
também ao seu amigo Simão Rodrigues, que se conservava ainda em Lisboa, pedindo
igualmente para que lhe enviasse obreiros evangélicos. Desta carta se deixa
conhecer toda a sensibilidade do amável coração do nosso Santo. Isto não era
bastante para o coração do santo apóstolo; ele remeteu ainda pelo Pe. Miguel
Vaz uma extensa carta dirigida à Companhia de Jesus em Roma. Parece que toda
a sua alma se expande sobre aquelas páginas, que se segue.]
47
AO PADRE INÁCIO DE LOYOLA
Cochim, 27 de Janeiro 1545
Duma cópia em castelhano, feita em 1567
IHS.
Pax Christi
A graça e amor de Deus Nosso
Senhor seja sempre em nossa ajuda e favor. Amen.
Manda pedir ao Papa faculdades privilegiadas para celebrações no
altar-mor do colégio e outras graças e indulgências já antes referidas
1. Para satisfazer aos devotos do
colégio da Santa Fé1 e principalmente ao Governador (*Martim Afonso de Sousa) por ser tão devoto daquele colégio, por
amor e serviço de Deus Nosso Senhor, [vos rogo] que, se puder ser, mandeis
aquela graça que vos mandaram pedir que alcançásseis de Sua Santidade: que o
altar-mor daquele santo colégio seja privilegiado, que todos os que disserem
Missa nele por um defunto saquem uma alma do purgatório, da maneira que haverá
agora dois anos vos escrevi da parte do Governador, com outras graças e
indulgências que da sua parte [também] vos escrevia3.
Qualidades físicas e espirituais requeridas para os missionários a
enviar para a Índia. Dureza de clima, de meios e de perigos que os esperam.
Rezem também por ele
2. As pessoas
que não têm talento para confessar, pregar, ou fazer coisas anexas à Companhia
[de Jesus], depois de terem acabado os seus Exercícios [Espirituais] e terem
servido em ofícios humildes alguns meses4, fariam muito serviço nestas partes,
se tivessem forças corporais juntamente com as espirituais. É que, para estas
partes de infiéis, não são necessárias letras, senão ensinar as orações e
visitar os lugares, batizando os meninos que nascem: morrem muitos sem serem batizados
por falta de quem os baptize, porque a todas as partes não podemos acudir. Por
isso, os que não são para a Companhia [de Jesus]5, e virdes que são para andar
de lugar em lugar batizando e ensinando as orações, mandá-los-eis, porque aqui
servirão muito a Deus Nosso Senhor.
Digo que sejam
para muitos trabalhos corporais, porque estas partes são muito trabalhosas,
por causa dos grandes calores e, em muitas partes, faltosas de boas águas. Os
mantimentos corporais são poucos e são só estes, sem haver outros: arroz,
pescado e galinhas, sem haver pão, nem vinho, nem outras coisas de que nessas
terras há muita abundância. Hão-de ser [mancebos] sãos, e não enfermos [nem
velhos], para poderem levar os contínuos trabalhos de batizar, ensinar, andar
de lugar em lugar batizando os meninos que nascem e favorecendo os cristãos nas
suas perseguições [e insultos] dos infiéis.
1
Por ex. Cosme Anes, Mestre Diogo, Francisco Toscano (cf. SCHURHAMMER, Quellen
2263).
3
No Xavier-doc. 16.
4
Já em 1539, Inácio e os seus companheiros tinham determinado: «Os que hão-de
ser admitidos, devem, antes de ser provados com o ano de provação, empregar
três meses em fazer Exercícios Espirituais, em peregrinar e em serviço dos
pobres nos hospitais ou em outros serviços» (MI Const. I 12).
5
Só em 1546 Paulo III, pelo Breve Expone nobis, permitiu que, além dos jesuítas
professos, se admitissem também na Ordem coadjutores espirituais clérigos e
temporais leigos (ib. 170-171). Mas em 1547, ainda se duvidava: «Se, os que não
são professos na Companhia, se devem chamar da Companhia de Jesus. E parece que
não» (ib. 274).
E também Deus
Nosso Senhor lhes fará mercê, aos que vierem a estas partes, de se verem em
perigos de morte. Isto não se pode evitar senão pervertendo a ordem da
caridade: e [mesmo] guardando-a, hão-de passar por eles, recordando-se que
nasceram para morrer pelo seu Redentor e Senhor. É por esta causa e razão que
hão-de participar de forças espirituais. Porque destas careço e ando em partes
que tenho muita necessidade delas, por amor e serviço de Deus Nosso Senhor vos
rogo que tenhais especial memória de mim, encomendando-me a todos os da
Companhia: dos perigos que Deus Nosso Senhor me tem guardado, creio, sem
duvidar, que foi por vossas orações e dos da Companhia. Esta conta vos dou
destas partes, para os que haveis de [nos] mandar.
E os que
virdes que têm forças corporais para levar os trabalhos que tenho dito e não
para mais, não deixeis de mandá-los, porque também há partes, nas quais não há
perigos de morte, onde muito poderão servir a Deus. Já disse que para andar
entre infiéis não têm necessidade de letras: [a] estes, andando nestas partes
durante alguns anos, Deus Nosso Senhor lhes dará forças para o resto.
E os que
tiverem talento, ou para confessar ou dar os Exercícios [Espirituais], mesmo que
não tenham corpo para levar mais trabalhos, mandá-los-eis, porque esses ficarão
em Goa ou Cochim, onde farão muito serviço a Deus. Nestas cidades há todas as
coisas em abundância, como em Portugal, porque são povoadas de portugueses. Nas
enfermidades corporais serão curados, pois há muitos médicos e medicinas, o
que não há onde não habitam portugueses, como onde andamos Francisco Mansilhas
e eu. Em dar Exercícios [Espirituais] em cada uma destas cidades se faria
grande serviço a Deus Nosso Senhor.
Tem recebido poucas cartas da Europa e ainda não chegaram dois
companheiros que vinham a caminho
3. Quatro anos
há que parti de Portugal. [Em] todo este tempo só umas cartas vossas recebi de
Roma e, de Portugal, duas de Mestre Simão6. Desejo cada ano saber notícias
vossas e de todos os da Companhia, particularmente. Bem sei que cada ano me
escreveis. Eu também escrevo todos os anos. Mas temo que, assim como eu não
recebo as vossas cartas, [também] não recebais as minhas. Dois da Companhia,
que vinham este ano [para a Índia], não chegou a nau em que vinham: não sei se
voltou para Portugal ou invernou em Moçambique, que é uma ilha nas partes da
Índia, onde costumam invernar muitas naus que vêm de Portugal.
Pede notícias e missionários
4. Desejo
saber notícias do Doutor Inigo López, se [já] anda de mula; porque se ainda
agora anda a cavalo, como quando eu o deixei, grande enfermidade e fraqueza é
a sua, pois com tantos médicos e medicinas não acaba de se curar e andar a pé.
Não há que mais fazer-vos saber destas
partes, senão que mandeis todos os que puderdes, pois há tanta falta de
operários nestas partes. Assim cesso, rogando a Deus Nosso Senhor que, se nesta
vida não nos virmos, seja na outra, com maior descanso do que nesta temos.
De Cochim, a
27 de Janeiro, ano 1545
Vosso mínimo
filho, MESTRE FRANCISCO
Carta 51, de Meliapor na India - 1545
Mansilhas com os Padres indígenas fica no Cabo de Comorim, os novos
jesuítas que vêm a caminho irão para Ceilão, Xavier espera embarcar para Malaca
na primeira monção
2. O Padre
Francisco de Mansilhas com os outros Padres malabares, ficam com os cristãos
do Cabo de Comorim: onde eles estão, não faço míngua. Os Padres que hibernaram
em Moçambique12, com outros que este ano espero13, irão em companhia desses príncipes14
de Ceilão, quando forem para as suas terras. Espero em Deus Nosso Senhor que,
nesta viagem, me há-de fazer muita mercê, pois com tanta satisfação da minha
alma e consolação espiritual [Ele] me fez mercê de dar-me a sentir ser sua
santíssima vontade eu ir àquelas partes de Macassar15 que novamente se fizeram
cristãs.
1
Neste modo ex abrupto com que inicia a carta aparece toda a dor de Xavier
decepcionado na sua esperança. Sobre este rei a entronizar, com a protecção dos
portugueses, ver Xavier-doc. 48,4.
2
Pegu é um reino situado no delta do rio Irawadi, cuja capital tem o mesmo nome.
Foi completamente conquistado em 1539 pelos birmaneses, comandados por
Tabinshwehti. A feitoria dos portugueses era Cosmin (a actual Bassein?) e o
porto dos turcos e gujarathes era Martavan.
3
Segundo o direito local.
4
A expedição contra Jaffna acabou por se realizar em 1560
5
O nome indígena é Mailapur (cidade dos pavões), actualmente reduzida a um
bairro da cidade de Madras. Os portugueses chamavam-lhe Meliapor e também S.
Tomé por aí se encontrar o sepulcro do apóstolo S. Tomé.
6
Na igreja sepulcral do apóstolo.
7
Fil. 1,6; 2,13.
8
Macassar (Celebes), para além de Malaca.
9
Ultimamente.
10
Língua malaia.
11
Xavier nunca chegou a saber suficientemente as línguas indígenas, nem da
Pescaria nem das Molucas, para poder atender confissões dos cristãos
(SCHURHAMMER, Die Bekehrung 232-233; Goa 12,516).
12
Refere-se a Pedro Lopes e Criminali, que tiveram de voltar a Portugal.
13
Em 1545 chegaram à Índia Criminali, Nicolau Lancillotto e João da Beira (Doc.
Indica I 30*).
14
Na carta de 27 de Janeiro (Xavier-doc. 48,4) Xavier fala apenas de um príncipe
de Ceilão (D. João). Mas, oito dias depois, chegou de Cota a Cochim outro
príncipe, irmão do Yugo assassinado, que ali foi batizado com o nome de D.
Luís. Ambos, D. Luís com o sobrinho D. João, tinham entretanto partido para Goa
com o seu protector André de Sousa.
15
Em árabe, Makasar. No texto é tomado pela Celebes ocidental.
Estou tão
determinado a cumprir o que Deus me deu a sentir na minha alma que, a não o
fazer, me parece que iria contra a vontade de Deus e que [nem] nesta vida nem
na outra me faria [mais] mercê. Se não forem navios de portugueses este ano
para Malaca, irei nalgum navio de mouros ou de gentios. Tenho tanta fé em Deus
Nosso Senhor, caríssimos Irmãos, por cujo amor somente faço esta viagem, que,
ainda que desta Costa não fosse este ano navio nenhum, e partisse um
catamaran16, iria confiadamente nele, [com] toda a minha esperança posta em Deus.
Por amor e serviço de Deus Nosso Senhor vos rogo, caríssimos em Cristo Irmãos,
que em vossos sacrifícios e contínuas orações vos lembreis de mim pecador,
encomendando-me a Deus. Ao fim do mês de Agosto espero partir para Malaca,
porque estão as naus, que vão partir, aguardando por aquela monção. Ao senhor
Governador escrevo, para que me mande uma provisão para o por este patamar
encomendareis muito. Não lhe escrevo, pois esta é para todos três. Ao nosso
grande amigo e verdadeiro, capitão de Malaca, [para] que me dê embarcação e
tudo o necessário para ir às ilhas de Macassar. Por amor de Deus Nosso Senhor
[vos rogo] que tenhais cargo de a arrecadar de Sua Senhoria e me mandá-la. Um
breviário romano pequeno me mandareis por Cosme Anes.
Os novos jesuítas aprendam primeiro o português para se entenderem ao
menos com os intérpretes. Voltará a escrever em Julho
3. Se da nossa
Companhia vierem alguns estrangeiros que não sabem falar português, é
necessário que aprendam a falar, porque doutro jeito não haverá topaz que os
entenda. De Malaca vos escreverei muito largo, dando-vos conta dos cristãos
que se fizeram e da disposição que há para fazerem-se [mais], para que daí
provejais de pessoas que acrescentem a nossa santa fé: pois essa casa se chama
Santa Fé, é necessário que as obras correspondam ao nome. Pelos patamares que
partirão por Julho, vos escreverei mais largo.
Nosso Senhor
nos junte em sua santa glória, porque nesta [vida] não sei se nos veremos.
De São Tomé, a
8 de Maio do ano 1545
Vosso mínimo
irmão, FRANCISCO
54
AOS SEUS COMPANHEIROS RESIDENTES EM GOA
Malaca, 16 de Dezembro 1545.
Duma cópia em castelhano, feita em 1553
Caríssimos Padres e Irmãos meus
A graça e amor de Cristo Nosso
Senhor seja sempre em nossa ajuda e favor. Amen.
Más notícias recebidas, impedem-no de ir para Macassar e prefere ir
para Amboino (Malucas)
1. Pelo Padre
Comendador1 vos escrevi largamente2, quando estava de partida para Macassar.
Por serem as noticias de lá não tão boas como pensávamos3, não fui lá. Vou para
Amboina4, onde há muitos cristãos5, e muita disposição para se fazerem mais. De
lá vos escreverei [sobre] a disposição da terra e o fruto que nela se pode
fazer. Pela experiência que tenho do Cabo de Comorim e de Goa, e da que,
prazendo a Deus, terei de Amboina e das partes de Maluco6, conforme vir onde
mais podeis servir a Deus e acrescentar a santíssima fé de Cristo Nosso
Senhor, vos escreverei.
Beira e Criminali irão para o Cabo de Comorim, onde Mansilhas os instruirá.
Lancillotto ficará em Goa, professor no colégio de S. Paulo
2. Por esta
carta vos peço, caríssimos Padres e Irmãos João da Beira7 e António Criminal,
que, vista esta, vos façais prestes para irdes para o Cabo de Comorim, onde
fareis mais serviço a Deus que estando em Goa. Lá achareis o P. Francisco
Mansilhas, que sabe da terra e do modo que haveis de ter nela. Se o P.
Francisco Mansilhas estiver em Goa, ireis todos três. Por amor de Deus vos rogo
que não façais o contrário, e não deixeis por nenhuma coisa de ir para o Cabo
de Comorim. O P. Nicolau Lanciloto ficará em S. Paulo a ensinar gramática, tal
como de Portugal vinha mandado8. E, porque confio nas Vossas Caridades que não
fareis o contrário do que escrevo, não digo mais.
Recomendações a Micer Paulo sobre a sua colaboração no colégio
3. Micer
Paulo, rogo-vos muito, por amor de Jesus Cristo, que olheis muito por essa
casa. Sobretudo vos encomendo que sejais obediente aos que têm cargo de
governar essa casa. Nisto me fareis um grandíssimo prazer, porque se eu
estivesse aí, nenhuma coisa faria contra vontade dos que têm cargo dessa santa
casa, senão obedecer-lhes em tudo o que me mandassem e [também] porque espero
em Deus que vos tenha dado a sentir dentro em vossa alma, que em nenhuma coisa
lhe podeis servir tanto quanto em negar, por seu amor, vossa própria vontade9.
1
Provavelmente um sacerdote secular, comendador de alguma Ordem Militar.
2
Não se encontrou esta carta.
3
Da expedição missionária de Vicente Viegas, sacerdote diocesano, a Macassar,
escreveu o seu companheiro Manuel Pinto e, menos fielmente, Godinho de Erédia, neto de
D. João, rei de Supa (EREDIA 42-44). Este conta que a sua mãe, D. Helena
Vesiva, então de 15 anos, filha do rei de Supa, com grande escândalo dos seus
parentes, tinha fugido para Malaca com o seu amante português João de Eredia
(pai de Godinho) num navio português em que vinha Vicente Viegas. Seriam essas
as «notícias não tão boas»? Noutra carta (Xavier-doc. 55,3), Xavier nega ter
recebido notícias de Viegas.
4
Amboina, ilha do arquipélago das Malucas, a sul.
5
Em 1538 já todos os habitantes de muitas aldeias eram batizados: 7 aldeias já
eram cristãs (cf. Xavier-doc. 55,3).
6
Maluco, naquela época, significava: 1) a cidade de Ternate; 2) a ilha de Ternate;
3) cinco ilhas das Malucas, a saber, Ternate, Tidore, Motir, Makian, Batjan; 4)
como no texto, as Malucas em sentido amplo (as Malucas do norte e do sul, com
Halmaeira, Seran, Amboina, etc.).
7
João da Beira, nascido em Pontevedra (Galiza), sendo cónego em La Coruña,
entrou na Companhia de Jesus em 1544 e em 1545 partiu para a Índia. Em
1547-1556 foi missionário nas Malucas, mas voltando doente a Goa aí morreu em
1564.
8
Cf. Xavier-doc. 16,6.
9
Refere-se aos Mordomos da Confraria da S. Fé, que tinham fundado o colégio e
pedido a colaboração da Companhia de Jesus. Os responsáveis mais directos eram
Cosme Anes e Mestre Diogo. Não asseguravam grande orientação pedagógica ao
colégio, apesar da boa vontade. Lancillotto lamentaria a seu tempo: a falta de
selecção nos alunos, as admissões em idades muito desiguais, o desconhecimento
das línguas dos alunos, a dificuldade de expulsão dos que mostravam maus
costumes. Só quando a Companhia de Jesus assumiu a plena responsabilidade pôde
remediar estes inconvenientes.
Pede cartas e orações
4.
Escrever-me-eis notícias de todos os Padres, nossos Irmãos, e do P. Francisco
de Mansilhas, pela nau que partir para Maluco10. E seja [de maneira] que me
escrevais muito longamente, porque muito folgarei com as vossas cartas. Rogo-vos,
caríssimos Irmãos, que rogueis sempre a Deus por mim em vossas devotas orações
e santos sacrifícios, que por terras ando onde tenho muita necessidade de
vossas orações.
Recomenda Simão Botelho a quem deve muitos favores em Malaca
5. Aí vai
Simão Botelho11, amigo dessa santa casa. Ele vos dará notícias, particularmente
minhas. Eu sou muito seu amigo, por ser ele homem muito de bem e amigo de Deus
e da verdade. Peço-vos que tenhais a sua amizade. Ele o fez muito bem comigo,
mandando-me dar tudo o necessário para o meu embarque, com muito amor e caridade:
Nosso Senhor lhe dê o galardão, que eu lhe fico com muita obrigação.
Deus Nosso Senhor, caríssimos
Irmãos em Cristo, nos ajunte na sua santa glória, pois nesta vida andamos tão
espalhados uns dos outros.
De Malaca, a
16 de Dezembro, ano de 1545
Vosso mínimo
Irmão em Cristo, FRANCISCO
10
Esta nau, «nau de Maluco», partia de Goa a 15 de Abril (REBELLO 299;
Xavier-doc. 56,3).
11
Simão Botelho de Andrade, nascido pelo ano de 1509, partiu em 1532 para a Índia
e em 1544 foi mandado por Martim Afonso de Sousa para Malaca para introduzir aí
nova administração das alfândegas. Mas como o capitão da fortaleza, Rodrigo Vaz
Pereira, morreu de repente em 1544, assumiu ele o lugar até à vinda de Garcia
de Sá em 1545. Regressando à Índia, visitou como «Vedor da fazenda» as
fortalezas de Ormuz, Diu, Baçaim e Chaul. Compôs aquela inestimável obra Tombo
da Índia. Já era considerado um grande perito, quando aos 45 anos desejou
entrar na Companhia de Jesus. Como o confessor o dissuadisse pela idade que
tinha, entrou na Ordem dos Dominicanos em Goa e nela morreu piedosamente em
1560 (SCHURHAMMER, Ceylon 269, n.1).
CARTA 56... DE AMBOINO 05/1546
Mansilhas e Beira venham para as Molucas; os que vierem de Portugal vão
para o Cabo de Comorim; tragam tudo o necessário para celebrar Missa
2. Dou-vos
esta conta, para que saibais a necessidade que, de vossas pessoas, nestas
partes há. Ainda que muito bem sei que aí éreis necessários, por serdes, porém,
mais necessários nestas partes, vos rogo muito, pelo amor de Cristo Nosso
Senhor, que vós, Padre Francisco de Mansilhas7, e vós, João da Beira, venhais a
estas partes. E, para que mais mereçais nesta vossa vinda, vos mando que, em
virtude da santa obediência8, venhais. Sendo caso que algum de vós for morto,
outro Padre com o Padre António Criminal vireis; de maneira que, dos três, [só]
um fique com os cristãos do Cabo de Comorim e com os Padres naturais da terra.
Se este ano vierem alguns da nossa Companhia, [dizei-lhes] que lhes rogo muito,
pelo amor de Deus Nosso Senhor, que vão todos para o Cabo de Comorim a
doutrinar e favorecer aqueles cristãos. Escrever-me-eis para Maluco,
largamente, noticias dos que de Portugal este ano vierem, e me mandareis as
cartas pelos Padres que hão-de vir a Maluco.
E, para mais
merecerem os que este ano do Reino vierem, pela virtude da santa obediência
irão para o Cabo de Comorim.
1
Fernando de Sousa de Távora, desde 1534 colaborava na Índia com Martim Afonso
de Sousa. Com ele navegou a Baçaim em 1534, a Diu em 1535 e obteve uma vitória
junto a Vêdâlai em 1538. Em 1541com ele, Governador, embarcou para Suez e em
1542 contra a cidade de Bhatkal. Em 1545 foi enviado às Molucas, onde obrigou
os castelhanos, em explorações coloniais na zona, a renderem-se e a regressar
por Malaca e Índia à Espanha (1546-1547). A seguir foi durante três anos capitão
da ilha de Moçambique (SCHURHAMMER, Quellen; CASTANHEDA; CORREA, Lendas da
Índia).
2
No dia 25 de Outubro de 1542 a frota de Rodrigo López de Villalobos zarpava do
porto de Navidad (porto mexicano ao norte de Acapulco) e no dia 1 de Novembro
do porto de Juan Gallego, último porto mexicano (ESCALANTE, Relación del Viaje
118). Da expedição tratam abundantemente, da parte espanhola, Escalante,
Jerónimo de Santisteban, Aganduru Moriz; da parte portuguesa, Rebello e Couto.
As fontes históricas daquela época recolheu-as SCHURHAMMER.
3
A Quaresma, naquele ano 1546, foi de 10 de Março a 24 de Abril.
4
Sobre o zelo missionário de Jordão de Freitas, ver SCHURHAMMER, Quellen 204,
384, 3596.
5
Foi uma grande decepção para Xavier ver Jordão de Freitas ser deposto em
Outubro de 1546, antes de terminar o mandato, e enviado preso para Goa.
6
Morotía (Galela).
7
Mansilhas, por desobediência, acabou por ser despedido da Companhia de Jesus
(SOUZA, Oriente conquistado.
8
Sobre mandatos «em virtude do voto de obediência» v. Determinationes 1544-1549
(MI Const. I 216) e Constituições, P.)
3. Estas
cartas minhas me parece que vos não podem ser dadas senão por todo o mês de
Fevereiro do ano de 1547(9). No mesmo ano, ao princípio de Abril, parte de Goa
uma nau do Rei para Maluco: naquela embarcação vireis. Vistas estas cartas
minhas, logo partireis do Cabo de Comorim para Goa, e far-vos-eis prestes para
[de lá] virdes para Maluco, como vos disse. Na mesma nau, esperam os de Maluco
que há-de vir o rei de Maluco, o qual levaram preso10. Esperam também, os
portugueses de Maluco, por outro capitão novo para entrar na fortaleza de
Maluco11. Se o rei aí se fizer cristão, espero em Deus Nosso Senhor que,
nestas partes de Maluco, se hão-de fazer muitos cristãos. Mas, ainda que ele se
não faça cristão, crede que, com a vossa vinda, Deus Nosso Senhor há-de ser
muito servido nestas partes.
Os dois, que para estas partes
vierdes, trareis, cada um de vós, todo o guizamento necessário para dizerdes
Missa. Os cálices sejam de cobre, porque é metal mais seguro que a prata, para
os que andamos entre gente não santa. Porque confio em vós como em pessoas da
Companhia, [e sei] que fareis o que tanto por amor de Deus Nosso Senhor vos
rogo e [que] para maior merecimento por obediência vos mando, não digo mais
senão que, com muito prazer, aguardo por vós. Prazerá a Deus que será para
muito serviço seu e consolação das nossas almas.
Micer Paulo obedeça em tudo aos responsáveis do colégio de S. Paulo,
como ele faria
4. Micer
Paulo, Irmão, o que muitas vezes vos tenho rogado12 pelo amor de Deus Nosso
Senhor, assim em presença como por cartas, outra vez vos torno a rogar, tanto
quanto posso: que procureis em tudo fazer a vontade aos que têm cargo da
governação desse santo colégio; porque se eu aí me achasse em vosso lugar, em
coisa nenhuma tanto trabalharia como em obedecer aos que regem essa santa casa.
E crede-me, Irmão meu Micer Paulo, que é coisa muito segura, para
continuadamente acertar, desejar sempre ser mandado, sem contradizer ao que [se]
vos manda; e, pelo contrário, coisa muito perigosa é fazer homem a sua própria
vontade, contra o que lhe mandam: ainda que acerteis fazendo o contrário do que
vos mandam, crede-me, Irmão meu Micer Paulo, que é maior o erro que o acerto.
Ao Padre
Mestre Diogo, em tudo lhe obedecereis e lhe fareis a vontade, por ser ele
sempre conforme à vontade de Deus Nosso Senhor. Fazendo isto, que tanto vos
rogo, crede que em coisa nenhuma me fareis tanto a vontade.
Recebam bem os frades Agostinhos que vão na armada espanhola
aprisionada
5.
Os frades castelhanos da Ordem de Santo Agostinho, que vão para Goa, vos darão
noticias de mim. Rogo-vos muito que, em tudo o que puderdes, os favoreçais,
mostrando-lhes muito amor e caridade, porque eles são pessoas tão religiosas e
santas que todo o bom gasalhado merecem13. Logo aos nossos Irmãos, que estão
no Cabo de Comorim, mandareis esta carta, para que venham a Goa, para [daí]
virem no mês de Abril para Maluco, na nau do Rei.
9
As naus costumavam partir de Amboino a 15 de Novembro, chegar a Malaca em fins
de Junho e daí sair a 15 de Novembro para aportar a Cochim no começo de
Janeiro. Descarregando aí as mercadorias, só chegavam a Goa a 15 de Março
(REBELLO, Informação 299-300).
10
Hairum (Aeiro), filho do rei Baiang Ullah (Boleife) e duma concubina javanesa,
nasceu em 1521. Em 1534 foi nomeado rei de Ternate, embora sem grandes poderes,
pelo capitão Tristão de Ataíde, em vez de rei Tabarija que mandou preso para
Goa. Apesar dos seus perversos costumes, foi protegido pelos seguintes capitães
(António Galvão e D. Jorge de Castro). Finalmente, o capitão Jordão de Freitas,
que desejava repor como rei Tabarija, entretanto convertido ao cristianismo,
depôs o rei Hairum por costumes depravados e de lesa majestade e em Fevereiro
de 1545 remeteu-o preso para Goa. Quando Hairum chegou a Malaca, em companhia
de D. Jorge de Castro, soube-se que o seu rival Tabarija tinha morrido em 30 de
Junho e que, portanto, era ele agora o sucessor do reino de Ternate. Ao saber
disto, o capitão de Malaca, Garcia de Sá, libertou-o logo, enquanto não
prosseguia viagem para ser julgado em Goa. Xavier ainda coincidiu com ele em
Malaca uns dois meses. Em Goa, foi julgado e absolvido pelo Governador D. João
de Castro e reenviado em 1546 para Ternate, com grandes honras à despedida.
Reinou de 1546 a 1570, até que um português o assassinou. Uns consideraram-no
um fiel vassalo de Portugal, outros um terrível inimigo do Reino e do
cristianismo (Xavier-doc. 59,10-11; 82,4; 126,1-3).
11
Tanto Hairum, como um novo capitão, Bernardino de Sousa, tomaram posse em
Ternate em 1546, antes que Xavier isso esperasse. Bernardino de Sousa era
filho de Henrique de Sousa e tinha ido para a Índia em 1537. Em 1545 conquistou
a praça forte de Catifa, perto de Ormuz. Em 1546 acompanhou o rei Hairum no
regresso a Ternate e aí foi capitão da fortaleza em 1546-1549 e 1550-1552. Foi
ele que submeteu Gilolo. Veio a morrer como capitão de Ormuz em 1557.
12
Xavier-doc. 54,3.
13
Eram quatro: Fr. Jerónimo de Santisteban (Prior) nascido em 1493 e falecido na
cidade do México em 1570; Fr. Sebastian de Trasierra (de Reyna), falecido em
1588 em Xacona (México); Fr. Nicolau de Salamanca (de Perea) nascido em 1519 e
falecido na cidade do México em 1598; Fr. Alfonso de Alvarado, falecido em Manilla
em 1576
Cada um dos que vêm para as Molucas traga um colaborador, sacerdote ou
leigo
6. Rogo-vos
muito, por serviço de Deus Nosso Senhor, Irmãos meus, que trabalheis por
trazerdes em vossa companhia algumas pessoas de boa vida, que nos possam ajudar
a ensinar a doutrina cristã pelos lugares destas ilhas: ao menos cada um de vós
trabalhe por trazer um companheiro. Se não for Padre de Missa, seja algum
leigo, que se sinta e tenha por injuriado do mundo, demónio e carne que o têm
desonrado diante de Deus e seus santos, e deseje vingar-se deles.
Nosso Senhor
nos ajunte em seu santo reino, pela sua infinita misericórdia, o que será com
mais prazer e descanso do que nesta vida temos.
De Amboino, a
dez de Maio de 1546 anos.
(Por mão de
Xavier): Vosso mínimo irmão, FRANCISCO
57
A D. JOÃO III, REI DE PORTUGAL
Amboino, 16 de Maio 1546
Original ditado por Xavier em português
Senhor!
A Índia necessita de pregadores que instruam o povo cristão
1. Por outra
via, escrevi a Vossa Alteza1 [acerca] da muita necessidade que a Índia tem de
pregadores2, porque, à míngua deles, a nossa santa fé entre os nossos
portugueses vai perdendo-se muito. Isto digo, pela muita experiência que tenho,
pelas fortalezas por onde ando. É tanta a contratação contínua que temos com os
infiéis, é tão pouca a nossa devoção, que mais azinha se trata com eles [de]
proveitos temporais, que [de] mistérios de Cristo Nosso Redentor e Salvador. As
mulheres dos casados3, naturais da terra, e os filhos e filhas mestiços,
contentam-se com dizer que são portugueses de geração e não da lei: a causa é a
míngua que há aqui de pregadores, que ensinem a lei de Cristo.
A influência dos judeus e mouros nos costumes e mentalidade dos
portugueses, torna necessária a Inquisição na Índia
2. A segunda
necessidade que a Índia tem, para serem bons cristãos os que nela vivem, é que
mande Vossa Alteza a santa Inquisição4, porque há muitos que vivem a lei
moisaica e a seita mourisca, sem nenhum temor de Deus nem vergonha do mundo5.
E, porque estes são muitos e espalhados por todas as fortalezas, é necessária a
santa Inquisição e muitos pregadores: proveja Vossa Alteza seus leais e fiéis
vassalos da Índia de coisas tão necessárias.
1
Dia 10 de Novembro de 1545. Não se conserva esta carta.
2
Mais vezes pede Xavier pregadores (cf. Xavier-doc. 61,10; 63, 1.3.6). E também
outros os pedem: o cabido da Sé de Goa em 1547; Cosme Anes em 1548; Fr. Vicente
de Lagos OFM em 1549; o Vigário geral Pedro Fernandes em 1549 e Fr. Vicente de
Laguna OP em 1550 (SCHURHAMMER, Quellen).
3
Os portugueses na Índia distinguiam-se entre casados e soldados. Não era permitido
às mulheres portuguesas, a não ser em raríssimas excepções, emigrar para a
Índia, como desde 1524 tinha sido rigorosamente proibido pelo Vice-rei sob severíssimas
penas (CORREA, Lendas da Índia II 819-820). Já Albuquerque favorecia casamentos
de portugueses com mulheres indígenas, a ponto de em 1512 haver já 200 casados
em Goa, 100 em Cochim, e 100 em Cananor. Em 1529, subiam já a 800 em Goa
(Cartas de Albuquerque I 63; SCHURHAMMER, Quellen 124) e 60 em Malaca em 1537.
4
Claramente Xavier acha necessária a Inquisição nos meios em que vivem portugueses,
já de costumes e fé cristãos. Noutra carta (Xavier-doc. 50,8) pede-a também
para proteger os cristãos recém-convertidos dos abusos de maus portugueses. De
maneira nenhuma, portanto, a pede para forçar judeus ou mouros a converter-se
à fé.
5 Xavier refere-se aos «cristãos novos», isto é, aos
descendentes daqueles judeus e mouros que forem batizados em Portugal no tempo
de D. Manuel I e na Índia abandonaram a fé e se tornaram estranhos perigosos
não só para a religião mas também para o governo. Por isso mesmo, a Inquisição
acabou por ser instituída na Índia em 1560, já depois da morte de Xavier
(JORDÃO DE FREITAS, A Inquisição de Goa.).
Recomenda dois capitães que se notabilizaram nas pazes com os espanhóis
nas Molucas
3. Com Fernão
de Sousa, capitão-mor duma armada que veio da Índia a Maluco em socorro da
fortaleza, por causa dos castelhanos que vieram da Nova Espanha, vieram três
capitães, leais e fiéis vassalos de Vossa Alteza. Destes, mataram um os mouros
de Yeilolo6, duma bombarda, chamado por nome João Galvão7. Dois outros, por
nomes chamados Manuel de Mesquita8 e Leonel de Lima9, serviram muito a Vossa
Alteza em ajudar a libertar a opressão em que estava a fortaleza de Vossa
Alteza de Maluco, gastando o seu e o de seus amigos em dar de comer a pobres
lascarins10 e agasalhando os castelhanos que da Nova Espanha vieram,
provendo-os de vestir e de comer, mais como a próximos que como inimigos.
Esperam o
galardão dos seus serviços, servido nesta trabalhosa viagem de Maluco, com
tanto perigo de suas almas e vidas. Estes capitães de Vossa Alteza, como são
mais cavaleiros que chatisou mercadores11, não se souberam aproveitar, para
ajuda de seus gastos, do fruto do de Deus primeiramente e, depois, de Vossa
Alteza, pois têm tão bem cravo que Deus nesta terra dá.
Lembre-se,
Vossa Alteza, de Manuel de Mesquita, que vai numa nau com muitos castelhanos e
portugueses, a quem dá de comer à sua custa e, assim, leva a sua fusta, em que
veio, a carga para quem dá de comer. Leonel de Lima leva também muito gasto.
Lembre-se Vossa Alteza deles, para lhes fazer mercê, pois bem lha merecem.
Deus Nosso
Senhor acrescente o estado e vida de Vossa Alteza por muitos anos, para muito
serviço de Deus e acrescentamento da nossa santa fé.
De Amboino, a dezesseis
de Maio, ano de 1546
(Por mão de Xavier):
Servo inútil de Vossa Alteza, FRANCISCO
6
Gilolo (Djailolo), reino de maometanos no litoral noroeste da ilha Halmaheira,
cuja capital, fortemente defendida, foi assediada pelos portugueses durante
três meses e finalmente por eles conquistada a 20 de Março de 1551. Desfeito
assim este reino, nunca mais pôde restabelecer-se.
7
João Galvão, filho de Pedro Galvão, escudeiro, partiu para a Índia em 1531,
onde se notabilizou como bravo cavaleiro. Em Agosto de 1545 partiu de Malaca para
Ternate, na armada de Fernando de Sousa de Távora, à frente duma fusta, a Nª
Srª da Vitória. De Ternate, seguiram a 23 de Novembro para Gilolo onde morreu,
ao décimo terceiro dia de assédio, atingido por uma bombarda (REBELLO,
Informação 231 235;).
8
Manuel de Mesquita, morador da casa real, partiu para a Índia em 1540. Em 1544
esteve em Diu ao serviço do Rei e, em 1545, tomou parte na expedição de Sousa
de Távora que foi desalojar os espanhóis das Molucas. Em 1547 foi nomeado
capitão da guarnição de Goa e, em 1553, da de Chaul, cargo este último que
parece não ter chegado a desempenhar.
9
Leonel de Lima, nascido em Alcochete em 1516, filho de Fernando Boto, partiu
para a Índia em 1538, onde permaneceu por dez anos ao serviço do Rei: primeiro,
três anos nas Molucas, onde libertou Banda de um cerco; depois como comandante
de navio na armada de Sousa de Távora. Em 1548 regressou a Portugal, onde
entrou na Companhia de Jesus em 1550. Promovido ao sacerdócio em 1564, veio a
morrer em Bragança onde fundara e fora primeiro reitor do colégio dos jesuítas
(F. RODRIGUES, Hist. I/1,450-451; EMMENTA 369; SCHURHAMMER, Quellen 1508).
10
Lascarins: soldados indígenas, tropas auxiliares dos portugueses no Oriente.
11
Chatim (Chetti): mercador (DALGADO, Glossário I 265-267).
CARTA 59, DE COCHIM 1548
Em Malaca, dá instruções missionárias a três jesuítas recém-chegados e
envia-os para as Molucas
12. No ano de
1546, escrevi de Amboino, antes de partir para Maluco, aos da Companhia que
naquele ano vieram de Portugal, para que no ano de 1547, nas naus que partissem
da Índia para Malaca, viessem para aquelas partes alguns deles. E assim o
fizeram. De maneira que partiram da Índia para Malaca três da Companhia: dois
de Missa, João da Beira e o P. Ribeiro51, e Nicolau52, leigo. Achei-os em
Malaca, quando de Maluco vim para Malaca. Com eles recebi muita consolação, um
mês que estivemos juntos53, em ver que eram servos de Deus e pessoas que,
naquelas partes de Maluco, haviam de servir muito a Deus Nosso Senhor. Eles
partiram de Malaca para Maluco no mês de Agosto de 1547. É navegação de dois
meses. Dei-lhes – neste tempo que com eles estive em Malaca – larga informação
da terra de Maluco, da maneira que se havia de fazer nela, conforme à
experiência que dela tinha. Estão tão longe da Índia que não podemos saber notícias
deles senão uma vez ao ano. Muito lhes encomendei que escrevessem muito
largamente para Roma, dando conta, miudamente, de todo o serviço que a Deus
Nosso Senhor fazem naquelas partes e da disposição que nelas há. Assim ficamos
em que o haviam de fazer.
CARTA 60, DE COHIM 1548
CARTA 60, DE COHIM 1548
...Dos três da
Companhia que foram para Maluco, pareceu-me bem eleger um que fosse superior
dos outros, e assim elegi João da Beira, a quem obedecessem os outros como a
vós. A ordem agradou-lhes muito. O mesmo penso fazer no Cabo de Comorim e nos
restantes lugares onde haja vários da Companhia. Desejo que vós e os vossos
devotos nos obtenhais graças celestiais para os que andamos entre estas gentes
bárbaras. Para que façais isto com mais fervor, rogo a Deus imortal que vos
faça ver sobrenaturalmente quanto necessito do vosso favor e ajuda.
De Cochim, a
20 de Janeiro de 1548, FRANCISCO
68
AO PADRE FRANCISCO HENRIQUES (TRAVANCOR)
Punicale-Cochim, 22 de Outubro 1548
Original ditado por Xavier em português
IHUS
A graça e amor de Cristo Nosso
Senhor seja sempre em nossa ajuda e favor. Amen.
Felicita-o pelos trabalhos suportados por Cristo
1. Deus Nosso
Senhor sabe quanto eu mais folgara de vos ver que escrever, e de me consolar
com vossos trabalhos, todos tomados por amor e serviço de Deus Nosso Senhor:
que com as consolações dos que levam vida descansada por se lograrem dos
deleites do mundo, destes é para haver grande compaixão; e dos outros, de quem
S. Paulo (*Hb
11,38) dizia que «o mundo não
era digno», é para haver grande inveja.
Envia Baltasar Nunes para o ajudar. Ele vai a Goa tratar de assuntos
dos cristãos. Se o Superior da missão achar necessário, também pode ir a Goa
tratar-se da saúde
2. Lá mando
Baltasar Nunes2 para que esteja nesse reino de Travancor para vos ajudar em
vossos trabalhos e consolar-vos neles, esperando de Deus Nosso Senhor o prémio
verdadeiro. Eu parto para Goa, para favorecer estes cristãos sobre um negócio,
o qual espero que virá a lume e será causa [de] que muitos se façam cristãos3:
encomendai-o a Deus, rogando-lhe que, ainda que nossos pecados sejam grandes
e não sejamos merecedores de ser instrumentos de tanto serviço seu, Ele, por
sua bondade infinda e amor sem fim, se queira servir de nós para
acrescentamento de sua santa fé. O P. António(*Criminali)
vos irá ver em breve. Se vos achardes doente do corpo e que, lá onde estais,
não podeis trabalhar, fareis o que o Padre vos disser acerca da vossa estada
nessas partes ou de ir para a Índia a vos fazer curar em Goa. De Duarte5, se
não tiverdes necessidade dele, mandai-o ao Padre António.
Previne-o contra desânimos enganadores do demónio
3. Não vos
desconsoleis em ver que não fazeis tanto fruto com esses cristãos como
desejais, por serem eles dados a idolatrias e o rei ser contra os que se fazem
cristãos6. Olhai que mais fruto fazeis do que cuidais, em dar vida espiritual
às crianças que nascem, batizando-as com muita diligência e cuidado, como
fazeis: é que, se bem olhais, achareis que poucos vão da Índia ao paraíso,
assim brancos como pretos, senão os que morrem em estado de inocência, como
são os que morrem de 14 anos para baixo. Olhai, Irmão meu Francisco Henriques,
que fazeis nesse reino de Travancor mais fruto do que cuidais! E olhai: depois
que vós estais nesse reino, quantas crianças batizadas espanteis [de] o inimigo
vos dar muitas turbações para vos lançar fora morreram7 e estão agora na glória
do paraíso, as quais não gozariam de Deus se vós aí não estivésseis! O inimigo
da humana natureza vos tem muito aborrecimento e vos deseja ver fora daí, para
que desse reino de Travancor não vá ninguém para o paraíso. Costume é, do
diabo, representar maiores serviços de Deus aos que servem a Jesus Cristo, e
isto, com má intenção: para (*des)inquietar e desassossegar uma alma que está
em parte onde faz serviço a Deus, para a tirar e lançar [fora] da terra na qual
faz serviço a Deus. Temo-me que o inimigo nesta parte vos combata, dando-vos
muitos trabalhos e desconsolações, para vos botar fora daí. Olhai que, depois
que estais nesta Costa – que podem ser oito meses – [já] salvastes mais almas,
batizando crianças que depois de baptizadas morrem, do que salvastes em Portugal
ou de Coulão para lá. Se, em tão pouco tempo, mais almas salvastes nesta Costa,
do que salvastes antes que a ela viésseis, não vos dessa terra, para onde não
façais tanto fruto como aí.
2
Baltasar Nunes, S.I., nascido por 1523, entrou na Companhia de Jesus em Coimbra
em 1544 e em 1546 partiu para a Índia. Em 1547 esteve em Chaul e em 1548-1552
foi missionário no Cabo de Comorim. Obrigado por doença a viver em Goa, ali
morreu na ilha de Chorão em 1569 (SCHURHAMMER, Ceylon 656; Doc. Indica I II
Índices).
3
Xavier visitou a Pescaria em Outubro e de lá trouxe alguns pedidos dos cristãos
para o Governador Garcia de Sá que lhos concedeu (Epp. Xav., epp. 75 a e b).
5
Ajudante indígena, de quem não temos mais dados.
6 Os reis de Coulão e Travancor, abandonados pelos
portugueses, tiveram de ceder a parte meridional da região de Tinnevelly ao
imperador de Vijayanagar e até, muito a seu pesar, ficar seus vassalos.
Irritado, o rei de Travancor, instigado pelos muçulmanos, proibiu aos seus
súbditos fazerem-se cristãos. Francisco Henriques protestou em Coulão e Goa,
mas sem resultado).
Vai mandar Cipriano e Manuel de Morais para Socotorá.
4. O Padre
Cipriano10 e Morais11 mandei-os para a ilha de Socotorá, onde há muitos cristãos
[e] onde não há Padre nem ninguém que os batize12.
Espera de dia para dia os que vêm da Europa. Não sabe se já chegou a
nau em que vem António Gomes
5. Os Padres
que este ano vieram do Reino13, espero cada dia por eles, que hão-de vir para
estas partes14, porque assim lhes mandei que viessem, quando de Goa parti para
estas partes. Eles trarão notícias de António Gomes15: se já é chegada a nau em
que ele vinha com seus companheiros16, porque à minha partida de Goa ainda não
era chegada17.
Nosso Senhor
vos dê muita saúde e vida para seu santo serviço e, depois desta vida acabada,
vos leve à glória do paraíso.
De Punicale, a
22 de Outubro de 1548 anos.
Depois que
viemos de lá.
(Por mão de
Xavier): Vosso Irmão em Cristo, FRANCISCO
CARTA 70 / CONTINUAÇÃO
AO PADRE INÁCIO DE LOYOLA (ROMA)
Cochim, 12 de Janeiro 1549
Virtudes requeridas nos missionários que se mandem para o Oriente
3.
Os índios desta terra, assim mouros como gentios, são muito ignorantes, todos
os que até agora tenho visto. Para os que hão--de andar entre estes infiéis
convertendo-os, são necessárias muitas virtudes: obediência, humildade,
perseverança, paciência, amor ao próximo e muita castidade pelas muitas
ocasiões que há para pecar; e que sejam de bons juízos e corpos para levar os
trabalhos. Esta conta dou a vossa Caridade, pela necessidade que me parece que
há para que prove os espíritos dos que daqui em diante há-de mandar a estas
partes da Índia. Se não forem provados por vossa Caridade, sejam por pessoas de
quem muito confieis, porque há necessidade disto: requerem-se pessoas de muita
castidade e humildade, de maneira que não sejam notados de soberba.
Necessidade de um reitor amável e
competente para o colégio de Goa
4.
Quem tiverdes de mandar, Pai meu, para que tenha cargo do colégio da Santa Fé
de Goa, e dos naturais da terra [aí] estudantes, e de todos os da Companhia3, é
necessário que tenha estas duas qualidades, deixando aparte todas as outras,
que há-de ter quem há-de reger e mandar a outros. A primeira, muita obediência
para se fazer amar, primeiramente, de todos os nossos maiores eclesiásticos e,
depois, dos seculares que mandam na terra, de maneira que não sintam nele
soberba mas antes muita humildade. Isto digo, Pai meu, porque a gente desta
terra, assim eclesiástica superior nossa, como secular que manda na terra, quer
ser muito obedecida. Quando sentem em nós esta obediência, fazem tudo o que lhe
pedimos e nos amam; mas quando vêem ou sentem o contrário, desedificam-se
muito. A segunda é que seja afável e aprazível, com os que trata, e não
rigoroso, usando de todos os modos que puder, para se fazer amar, principalmente
dos que há-de mandar, assim [dos] naturais índios como dos da Companhia que cá
estão e hão-de vir. Nos4 da Companhia de um mandato que trouxe de maneira que
não sintam nele que, por rigor ou por temor servil, se quer fazer obedecer: é
que sentindo nele rigor ou temor servil sairão da Companhia muitos e entrarão
nela poucos, assim índios como outros que não o são. Isto vos digo, Pai meu da
minha alma, porque cá pouco se edificaram para prender e mandar presos em
ferros para Portugal aos que a ele lhe parecesse que cá não edificam5.
A Companhia de Jesus é Companhia de amor e
não temor
5.
Até agora, a nenhum me pareceu ter na Companhia por força, contra sua vontade,
a não ser por força de amor e caridade. Pelo contrário, aos que não eram para
a nossa Companhia, os despedia desejando eles não sair dela6; e, aos que me
parecia que eram para a Companhia, trato-os com amor e caridade para mais os
confirmar nela – pois tantos trabalhos levam nestas partes para servir a Deus
Nosso Senhor – e também por me parecer que Companhia de Jesus quer dizer
Companhia de amor e conformidade de ânimos, e não de rigor nem temor servil.
Esta conta dou, a vossa santa Caridade, destas partes, para que proveja de
pessoa suficiente a este cargo para o ano, de maneira que saiba mandar sem que
se enxergue nele desejo de querer mandar ou de ser obedecido, mas antes de ser
mandado.
Não vê que entre os indianos possa recrutar
gente que dê continuidade ao cristianismo e à Companhia de Jesus sem os
missionários estrangeiros. Dificuldades para isso
6.
Pela experiência que tenho destas partes, vejo claramente, Pai meu único, que
pelos índios, naturais da terra, não se abre caminho de que por eles se
perpetue a nossa Companhia7. Tanto durará neles a cristandade, quanto durarmos
e vivermos os que cá estamos ou daí mandardes. A causa disto, são as muitas
perseguições que padecem os que se fazem cristãos, as quais seriam longas de
contar. Por não saber a cujas mãos estas cartas poderão chegar, as deixo de
escrever.
Em
todas as partes desta Índia, onde há cristãos, há Padres da Companhia: em
Maluco há quatro8; em Malaca, dois(*Pérez e
Oliveira); no Cabo de Comorim, seis10; em Coulão, dois11; em Baçaim, dois12;
em Socotorá, quatro13. Por estarem estes lugares tão remotos uns dos outros –
Maluco mais de mil léguas de Goa, Malaca quinhentas, o Cabo de Comorim
duzentas, Coulão cento e vinte e cinco, Baçaim sessenta, Socotorá trezentas –
em todos estes lugares estão Padres da Companhia a quem dão obediência os
outros da mesma Companhia que estão com eles, pois são pessoas de muita
edificação. Por isso, onde estão estas pessoas da Companhia, a quem dão
obediência os que estão com eles, não faço nenhuma falta.
7.
Também faço saber a vossa Caridade que os portugueses, nestas partes, não
senhoreiam senão o mar e os lugares que estão à beira-mar; de maneira que na
terra firme não são senhores, senão nos lugares em que eles vivem.
3
Alude a António Gomes, que Simão Rodrigues, provincial de Portugal e seus
domínios desde 1546, tinha nomeado reitor do colégio de Goa. As dificuldades
que podia haver solucionou-as Inácio, nomeando Xavier provincial da Índia, de
maneira que podia depor do seu posto a António Gomes (MI, Epp. II 557; 570).
4
António Gomes.
5
Já vimos anteriormente que os reis Tabarija e Hairun e o capitão Freitas foram
enviados para Goa atados com cadeias. De maneira semelhante, o mansíssimo Bispo
de Goa ordenou que remetessem para Goa, onde tinha os seus cárceres, alguns
clérigos encadeados. Inácio e Lainez, seu sucessor no generalato, foram
adversos a estabelecer cárceres na Comp. de Jesus.
6
No sumário de resposta de Inácio diz-se a isto:«Que faz bem em despedir os
admitidos à Companhia, que não dêem boas provas» (MI, Epp. II 570).
7
Inácio, na sua resposta, propõe cinco maneiras de promover as vocações
indígenas (MI, Epp. II 570;)
8
Beira, Ribeiro, Nunes; o quarto era talvez Afonso de Castro, destinado às
Molucas (cf. Xavier-doc. 82, 3).
10
Criminali, F. e H. Henriques, Adão Francisco, B. Nunes, P. do Vale (Doc. Indica
I 441-442).
11
Lancillotto e L. Mendes (Xavier-doc. 78,16). Foram para Coulão a 12 de Janeiro
(Xavier-doc. 71,6).
12
Belchior Gonçalves e Luís Frois.
Os índios,
naturais destas partes, são desta qualidade: por seus grandes pecados, não são
nada inclinados às coisas da nossa santa fé, mas antes lhes aborrecem muito e
lhes pesa mortalmente quando lhes falamos e rogamos que se façam cristãos. De
maneira que, ao presente, conservam-se os cristãos que estão feitos. Contudo,
se os fiéis destas partes fossem muito favorecidos pelos portugueses, muitos se
fariam cristãos. Mas vêem os gentios que são tão desfavorecidos e perseguidos
os que são cristãos, que por esta causa não se querem fazer.
73
AO PADRE SIMÃO RODRIGUES (PORTUGAL)
Cochim, 20 de Janeiro 1549
Duma cópia em castelhano, feita em 1549
Primeira via
IHS
A graça e amor de Cristo Nosso
Senhor seja sempre em nossa ajuda e favor. Amen.
Louva os missionários jesuítas recém-chegados e começa a dispor deles
1. Não poderia
acabar de escrever-vos, Irmão meu Mestre Simão, a consolação que recebi com a
vinda de António Gomes e de todos os outros Padres. Haveis de saber que fazem
muito fruto nas almas e grande serviço a Deus Nosso Senhor, assim na vida como
em pregar, confessar, dar Exercícios Espirituais e tratar com as pessoas. Estão
todos os que os conhecem muito edificados. São as necessidades de pessoas da
nossa Companhia muito grandes nestas partes. Principalmente na cidade de
Ormuz1 e de Diu2, mais que em Goa, porque por falta de pregadores e de pessoas
espirituais andam muitos portugueses fora da nossa lei. Por ver esta
necessidade tão grande, enviarei António Gomes para Diu ou para Ormuz, pois
Deus Nosso Senhor lhe deu tanto talento e fervor em pregar, confessar e dar
Exercícios Espirituais e tratar com os cristãos. E Mestre Gaspar3 ficará no
colégio de Santa Fé.
Pede que venha o próprio Simão Rodrigues com muitos mais, com as
devidas qualidades
2. Muito grande serviço a Deus
Nosso Senhor faríeis, Irmão meu caríssimo, se viésseis a estas partes da Índia
com muitos da Companhia: entre eles, sete ou oito pregadores e, outros, ainda
que não tivessem talento de pregar, sendo pessoas de muitas mortificações e
experiência de muitos anos, ainda que não tivessem tantas letras, para a
conversão dos infiéis fariam muito. É que, os infiéis destas partes, são gente
muito bárbara e ignorante. Com ter medíocres letras e muitas virtudes e forças
corporais para levar os trabalhos destas partes, fariam muito serviço a Deus
Nosso Senhor pelas fortalezas destas partes. Onde houvesse um pregador da nossa
Companhia e outro companheiro Padre que o ajudasse a confessar e dar Exercícios
Espirituais, fariam facilmente um colégio, em que recolhessem os filhos dos
portugueses, primeiramente e, depois, outros naturais da terra.
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