sexta-feira, 11 de novembro de 2016

São Guido Confort falando de São Francisco Xavier

«A figura de Xavier surge para nós neste momento em toda sua grandeza, e nos faz exclamar que o Senhor é sempre admirável em seus Santos e, de modo particular, em Francisco Xavier. Admirável foi sua conversão, operada por Ignácio de Loyola ao proferir uma simples máxima do Evangelho. Admi-ráveis suas ascensões rápidas rumo aos mais altos cumes da perfeição cristã, admirável seu apostola-do, quer pela extensão, que abarcou uma grande parte do Extremo Oriente, quer pelo grande número de conquistas realizadas, admirável pelos inúmeros prodígios realizados por meio de Xavier, a con-firmar a divindade de sua missão; admirável, enfim, sua morte, acontecida no ano de 1552 na Ilha de Sanciano, à vista da imensa China, por cuja conquista suspirava Xavier».
(São Guido Ma. Conforti  1923, 22 de janeiro, Parma – Igreja S. Rocco, Discurso pela  passagem da  relíquia (o braço) de Xavier; FCT 27, 111)

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Xavier, O santo rejeitado pelos soteropolitanos segundo o site ibahia.com

→ São Francisco Xavier, o santo rejeitado pelos baianos (manchete do site ibahia.com - Publicado em maio 10, 2013)

"Ainda bem que Santo não convive com o pecado da vingança, digamos desforra para não carregar nas palavras, senão os baianos teriam razões para temer São Francisco Xavier; justificadas diante da rejeição atual a sua figura e representatividade. O Santo estava quetinho no seu canto quando os baianos por ocasião da terrível epidemia de febre amarela em 1686 invocaram a sua proteção. A epidemia foi contida e atribuída à graça de Francisco, o missionário co-fundador da Companhia de Jesus, que então mereceu uma procissão solene em agradecimento. E mais tarde por requerimento da Câmara de Salvador e com o apoio dos jesuítas obteve-se do Papa a proclamação de seu nome como padroeiro da cidade O fato é que a questão do padroeiro ficou no simbolismo e na tradição da procissão realizada sempre no dia 10 de maio, não mais com a solenidade e concorrência de público relatada pelos cronistas do século XIX. Os baianos logo esqueceram-se de seu padroeiro, lembrado apenas quando da epidemia de Colera Morbus de 1855 também devastadora como a anterior, com um terço da população da cidade vítima da doença, segundo algumas estimativas de historiadores. Lembrado na desgraça, mas esquecido na bonança, o fato é que São Francisco Xavier perdeu o seu simbolismo de padroeiro dos baianos para o Senhor do Bonfim e de santo milagroso de epidemias e doenças pestilentas para São Lázaro. A propósito o padroeiro da cidade, segundo a bula de Roma, apenas no papel, sequer mereceu algum dia a construção de uma igreja no seu nome nesta cidade de São Salvador."

domingo, 6 de novembro de 2016

As virtudes acompanham a história de são Francisco Xavier

Padroeiros e Santos Amigos São Francisco Xavier – Padroeiro do Apostolado da Oração – Santidade e Zelo 1- NASCIMENTO: No dia 3 de dezembro de 2005 foi proclamado em Xavier (Navarra, Espanha), com a presença do nosso Diretor mundial, o ano jubilar comemorativo dos 500 anos do nascimento de Francisco Xavier. O caçula de cinco filhos nascia num lar profundamente cristão, a sete de abril de 1506. Seus pais, Dr João e D. Maria (já com 42 anos), senhores de Xavier, mal podiam pensar que, um dia, aquele filhinho seria nomeado pelos Papas Padroeiro mundial das Missões e do Apostolado da Oração. 2- COMEÇANDO SUA HISTÓRIA: Aos 19 anos Francisco despede-se de sua mãe, agora viúva, para dirigir-se a Paris, buscando subir na ciência e nas honras. Na Universidade da Sorbonne estudará Filosofia e Teologia e lecionará como Mestre durante três anos. Na volta para a sua terra teria garantido um lugar na cúpula da hierarquia navarrense. 3- CONVERSÃO: Num convento de Clarissas, a abadessa Madalena, sua irmã mais velha, orava pela conversão do jovem Xavier dos ideais mundanos de dinheiro, de poder e de glória para os ideais do seguimento de Cristo pobre e humilde. E um piedoso colega de estudos, Inácio de Loyola que o ajudava nos momentos de aperto pecuniário e arranjava bons alunos para suas classes, repetia-lhe: “que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se vem a perder-se a si mesmo...?” Lc 9,25. Afinal, na luta travada no coração de Xavier vence a graça. Na manhã da festa da Assunção de 1534, na Capela de São Denis, em Montmartre, junto com Inácio e companheiros, Xavier se consagra a Deus com os votos de pobreza e castidade e o compromisso de passar à Terra Santa para pregar aos infiéis. Pouco depois fez um mês de Exercícios Espirituais sob a direção de Inácio. No final, um fogo novo ardia no seu coração: a decisão de conquistar o mundo para JESUS. Para si, pobreza e humildade. Para Deus e os homens todo seu coração e energias até a morte. 4- APOSTOLADO: Em 1536 parte de Paris com seus companheiros a pé até Veneza, porto de embarque para Jerusalém e Terra Santa. Ali é ordenado sacerdote. Com a bênção do Papa Paulo III esperam o momento oportuno para embarcar. Mas a guerra de Veneza com os turcos os impede de realizar seu sonho. Colocam-se então às ordens do Papa em Roma que, a pedidos de D. João, Rei de Portugal, envia a Francisco Xavier para evangelizar na Índia. A 15 de junho de 1540 chega a Lisboa, onde exercitará durante dez meses a língua portuguesa e os “ministérios da consolação” (confissões, direção espiritual, visitas aos enfermos). Em maio de 1542, aos 36 anos de idade, após treze meses de viagens em frágeis navios, chega a Goa, sua base, na Índia. Logo começa a visitar e consolidar as Comunidades cristãs. Em dois anos percorreu 13 vezes os 1.100 km de viagem de ida e volta visitando as Comunidades da Costa da Pescaria. Em 1545 eram já 30.000 as novas ovelhas acrescentadas ao rebanho. Preparou catequistas, revitalizou o Seminário, abriu escolas e obras sociais. Sólida base da hoje florescente Igreja da Índia. De 1545 a 1546, navegando milhares de km, iniciou e organizou as novas Comunidades cristãs em Malaca, no Arquipélago malaio, até a remota Papuásia, nos confins da hoje Indonésia. De 1549 a 1552 Francisco realizou a maravilhosa obra da missão japonesa: Estudou previamente a língua, conheceu as religiões do país, traduziu para o japonês o Evangelho de Mateus e o decorou. Conseguiu criar várias comunidades cristãs que as perseguições, longe de exterminar, consolidaram, formando a brilhante Igreja do Japão. Em 1552, a braços com grandes dificuldades, Francisco Xavier tentou abrir ao Cristianismo as portas do fechado Império Chinês. Morreu de cansaço e febre a 3 de dezembro desse ano, numa cabana de folhas de coqueiro na Ilha de Sancian, junto ao mar, de frente ao litoral do continente, esperando o barquinho que o introduziria na China.. 5- MISSIONÁRIO POPULAR: Ouçamos o relato do Santo em carta da Índia (20.9.1542) a seus companheiros de Roma: “Em Goa passei a residir no Hospital. Ouço confissões dos doentes e lhes dou a Comunhão. Outros de fora vêm confessar-se. Não daria conta de ouvir a todos nem que estivesse em dez lugares ao mesmo tempo... De tarde vou à cadeia ouvir confissões dos prisioneiros, dando-lhes antes alguma instrução sobre o modo de fazer uma confissão geral. Depois vou a uma Capela de Nossa Senhora... e ensino às crianças suas preces, o Credo, os Mandamentos. O número dos que vêm às instruções freqüentemente supera os 300. O Senhor Bispo ordenou que eu fizesse o mesmo em outros lugares, mas ainda não pude. Tenho sido tratado com muito amor e boa vontade por todos. Nos domingos e festas prego, depois da ceia, para os cristãos da terra na Capela de Nossa Senhora, a respeito dos artigos da fé. Vem tanta gente que não há lugar para todos na capela. Após o sermão lhes falo do Pai-nosso, da Ave-maria, do Credo e dos Mandamentos. Nos domingos vou rezar a Missa fora da cidade, para os leprosos. Ouço suas confissões e lhes dou a Comunhão. Prego para eles uma vez. Eles me são muito devotados e os meus melhores amigos” (F. Moreno, Cartas e Avisos espirituais de S. Francisco Xavier, Carta de 20.09.1542, n. 12-13) 6- ALMA ORANTE E EUCARÍSTICA: De dia era todo do próximo. À noite era todo de Deus. Assim imitava a JESUS que pregando de dia “passava a noite em oração” Lc 6,12 “Aqui em casa -relata um companheiro de Goa- dormia três ou quatro horas cada noite e pela uma da madrugada ia a um pequeno coro da Igreja donde se vê o Santíssimo Sacramento. Ficava em oração até o amanhecer”. “Na celebração da Santa Missa ficava de tal modo mergulhado e absorto em Deus que os acólitos, já impacientes, deviam puxar-lhe dos paramentos para que prosseguisse na celebração”. “Tamanho era o ardor do amor a JESUS no coração que foi visto caminhando com os olhos fixos no céu e o rosto em chamas a exclamar ‘basta, Senhor, basta!’...” de tanta consolação. “E não somente na vigília, mas também no sono o santo sacerdote repousa em Deus: Freqüentemente os companheiros o ouviam pronunciar, dormindo, o nome de JESUS” (Bula de Canonização) 7- RICO EM VIRTUDES: “Entre as virtudes, qual estrela matutina, resplandeceu em Xavier a caridade. Manifestava-a em todas as atividades, sobretudo quando servia aos doentes. E mais ainda aos doentes pobres. Esquecido da comida e do repouso, confortado por Deus, não se afastava da cabeceira do leito dos doentes graves. E lhes ministrava com profunda alegria os auxílios espirituais. Cuidados e atenção que prestou aos doentes toda sua vida”. “Apesar de ser enriquecido com variados dons do Senhor não sentia vaidade. Pelo contrário, crescia na humildade. Realizava os serviços domésticos como se fosse o último servo. Usava veste pobre e áspera, até o ponto de provocar o riso das crianças. Venerava com exímio respeito não só os bispos com também os sacerdotes. Ao Pe. Inácio, seu Superior, escrevia sempre de joelhos. Detestava honras e louvores à sua pessoa. Por isto só uma vez, coagido por grave motivo, usou da dignidade de Núncio Apostólico concedida pelo Papa” (Bula de Canonização).

sábado, 5 de novembro de 2016

Santa Francisca Xavier Cabrini devota de S.F.Xavier

Ficheiro:Francesca Cabrini.JPGSanta Francisca Xavier Cabrini 
(devota de São Francisco Xavier)

 Virgem da Terceira Ordem (1850-1917). 
Fundadora das Irmãs Missionárias do Sagrado Coração de Jesus. Canonizada por Pio XII no dia 7 de julho de 1946. 

           Nascida a 17 de julho de 1850 em S. Ângelo Lodigiano, de uma família de agricultores, tinha bebido, do ambiente e das pessoas que a cercavam, uma fé autêntica, vivida cotidianamente. Francisca Cabrini foi a penúltima de quinze filhos de Antônio e Estela. Desde pequena se entusiasmava ao ler a vida dos santos. A preferida era a de são Francisco Xavier, de quem era devota e a quem desejaria imitar sendo missionária na China, a quem venerou tanto que assumiu seu sobrenome, se auto-intitulando Xavier. 
        Sua infância e adolescência foram tristes e simples, cheia de sacrifícios e pesares. Franzina, de saúde fraca, não conseguiu ser aceita nos conventos. Apesar disso, era dona de uma alma grandiosa, digna de figurar entre os santos. Assim pode ser definida santa Francisca Cabrini, com sua vida voltada somente para a caridade e o bem do próximo. Sua formação pessoal e profissional desenvolveu-se nos anos das guerras da independência e das lutas políticas, que trouxeram a unificação da Itália; lutam que sacudiram também o quieto curso da vida provinciana e nela inseriram elementos insatisfeitos e contrastes entre grupos opostos. Foi educada com firmeza e fidelidade aos princípios da fé, na obediência à Igreja e aos seus representantes e sua fé tornou-se para ela em estilo de vida, sempre animado e alimentado pelo vivo desejo de transmitir a riqueza do conhecimento de Cristo e de sua mensagem de amor e salvação. 
         Como professora teve sempre em mira a formação da pessoa, cuidando do desenvolvimento dos valores humanos e cristãos com o método da simplicidade e da clareza, do respeito ao outro, que procura convencer, sem impor. Francisca, porém, gostava tanto de ler e se aplicava de tal forma nos estudos que seus pais fizeram o possível para que ela pudesse tornar-se professora. Mal se viu formada, porém, encontrou-se órfã. No prazo de um ano perdeu o pai e a mãe. 
        Enquanto lecionava e atuava em obras de caridade em sua cidade, acalentava o sonho de entregar-se de vez à vida religiosa. Aos poucos, foi criando coragem e, por fim, pediu admissão em dois conventos, mas não foi aceita em nenhum. A causa era a sua fragilidade física. Mas também influiu a displicência e o egoísmo do padre da paróquia, que a queria trabalhando junto dele nas obras de caridade da comunidade. Francisca, embora decepcionada, nunca desistiu do sonho. Passado o tempo, quando já tinha trinta anos de idade, desabafou com um bispo o quanto desejava abraçar uma obra missionária e esse a aconselhou: “Quer ser missionária? Pois se não existe ainda um instituto feminino para esse fim, funde um”. Foi, exatamente, o que ela fez. 
          Com o auxílio do vigário, em 1877 fundou o Instituto das Irmãs Missionárias do Sagrado Coração de Jesus, que colocou sob a proteção de são Francisco Xavier. Ainda: obteve o apoio do papa Leão XIII, que apontou o alvo para as missões de Francisca: “O Ocidente, não o Oriente, como fez são Francisco”. Era o período das grandes migrações rumo às Américas por causa das guerras que assolavam a Itália. As pessoas chegavam aos cais do Novo Mundo desorientadas, necessitadas de apoio, solidariedade e, sobretudo, orientação espiritual. 
         Francisca preparou missionárias dispostas e plenas de fé, como ela, para acompanhar os imigrantes em sua nova jornada. Tinham o objetivo de fundar, nas terras aonde chegavam, hospitais, asilos e escolas que lhes possibilitassem calor humano, amparo e conforto. Em trinta anos de intensa atividade, Francisca Cabrini fundou sessenta e sete Casas na Itália, França e nas Américas, no Brasil inclusive. 
         Mais de trinta vezes cruzou os oceanos aquela “pequena e fraca professora lombarda”, que enfrentava, destemida, as autoridades políticas em defesa dos direitos de seus imigrantes nos novos lares. Madre Cabrini, como era popularmente chamada, morreu em Chicago, Estados Unidos, em 22 de dezembro de 1917. Solenemente, seu corpo foi transportado para New York, onde o sepultaram na capela anexa à Escola Madre Cabrini, para ficar mais próxima dos imigrantes. 
          Canonizada em 1946, santa Francisca Xavier Cabrini é festejada no mundo todo, no dia de sua morte, como padroeira dos imigrantes. 

Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.

O desenvolvimento do catolicismo no Japão fundado por São Francisco Xavier

A evangelização do Japão a partir de Francisco Xavier e as perseguições

 Os jesuítas  ( Francisco Xavier e seus dois companheiros de missão) se surpreenderam com a cultura nipônica. Mas para difundir o cristianismo no Japão, eles enfrentaram traições e até massacres

                    Quando entraram em contato com os japoneses, em meados do século XVI, precisamente em 1549,  os padres da Companhia de Jesus julgaram ter encontrado a nata dos povos ultramarinos. Tendo uma cultura fortemente marcada pelo respeito às tradições e às hierarquias, o povo nipônico animou as expectativas dos católicos de uma larga difusão do cristianismo. No entanto, não foi bem assim que aconteceu. Por cerca de um século, os missionários enfrentaram muitas resistências no Japão. 

               A aproximação entre portugueses e japoneses se deu em 1543, quando comerciantes lusitanos aportaram na ilha de Tanegashima, em Kyushu, região no sul do país. 
No século XVI, o Japão se encontrava em processo de unificação política. No período, chamado de Sengoku-Jidai (do século XV ao XVII), o território foi dividido em várias províncias autônomas. Os mercadores souberam tirar proveito da anarquia política e do enfraquecimento do governo do xógum – líder político-militar que assessorava o imperador –, oferecendo espingardas e porcelana à aristocracia guerreira japonesa em troca de prata. 

                 Os jesuítas chegaram poucos anos depois, em 1549, mas com intenções bem mais ousadas: inciar as missões. Os padres encontraram o budismo e o xintoísmo, duas tradições religiosas que se entrelaçavam na região, e, aparentemente, o cristianismo não enfrentaria nenhuma hostilidade religiosa. Auxiliados por um intérprete cristão japonês, Anjirô, cujo nome cristão era Paulo de Santa Fé, os jesuítas Francisco Xavier, Cosme de Torres e João Fernandes foram recebidos em uma embaixada pelo daimyô (aristocrata) da província de Satsuma. Quando seguiram rumo à capital do Japão, Miyako (atual Kyoto), os padres conheceram a real situação do país, que vivia um momento de fraqueza do poder imperial. 
             Embora tivessem sido recebidos pelo xógum, sua empreitada foi malsucedida porque eles não conseguiram autorização para evangelizar o povo. Os missionários se estabeleceram, então, em Yamaguchi, na província de Suô, em Honshu, onde o padre Xavier foi autorizado a iniciar a missão. Para Xavier, as dificuldades com a língua e com a escrita ideográfica eram um dos obstáculos a serem enfrentados. Por isso, era preciso que os missionários aprendessem o idioma e investissem na criação de um corpo de cristãos japoneses para lhes servirem de auxiliares e intérpretes, os chamados dojukus. 
            Experiente em lidar com a aristocracia guerreira japonesa, o jesuíta pensou na possibilidade de converter o maior número de daimyôs e de samurais, com a intenção de estimular uma reação em cadeia na sociedade japonesa, já que a população estava hierarquicamente submetida à autoridade dessas elites. Essa estratégia até deu certo de início, mas esbarrou em sérios problemas. Devido à autonomia das províncias e à falta de unidade do país, era difícil manter as missões em vários locais. Quando os religiosos avançavam sobre novas cidades, as anteriores eram perdidas. 
         Outro grande entrave era que, além de serem reféns do jogo político dos daimyôs – mais interessados nas armas estrangeiras do que na diversidade religiosa –, os jesuítas eram acusados de incitar a população contra sacerdotes japoneses. Por isso, os padres foram violentamente expulsos da maioria das comunidades em que tentaram penetrar. Em outras regiões, o catolicismo conseguiu melhor inserção, pois os jesuítas puseram em prática suas estratégias de conversão e suas obras de caridade. 
         O padre Luís de Almeida foi responsável pela criação de um hospital e de um orfanato na cidade de Funai, em Bungo. Outros missionários se destacaram pela confecção de imagens religiosas e de catecismos em japonês, graças às técnicas de impressão trazidas pelos próprios religiosos. Em 1563, em Kyushu, a presença cristã ganhou um importante aliado: o daimyô de Hizen, Omura Sumitada, converteu-se e foi chamado de D. Bartolomeu. No tempo em que esteve no poder, defendeu a causa cristã, mandando queimar e destruir os templos e os santuários, além de autorizar a perseguição às pessoas que se negassem ao batismo. 
        Já na capital, Miyako, a vida dos padres não era confortável. Embora fundassem ali uma pequena igreja, tiveram que resistir à perseguição dos bonzos – conselheiros religiosos – e dos gentios. O xógum, após ter seu castelo invadido, acabou cometendo o seppuku – técnica de se matar cortando as próprias vísceras – em 1565. Por medida de segurança, os jesuítas foram expulsos da capital e, novamente reclusos em Kyushu, puderam dar atenção a suas antigas freguesias. Enquanto isso, durante a guerra civil que dividia o Japão, o daimyô Oda Nobunaga vinha se destacando nos campos de batalha. O aristocrata percebeu que poderia tirar proveito da aliança com os estrangeiros, e, seduzido pelas espingardas europeias, defendeu os jesuítas para enfraquecer o poder político dos bonzos. 
       No tempo em que liderou a guerra, parte de Kyushu e de Honshu, a maior ilha do Japão, estiveram sob seu domínio. Nesses locais, as missões prosperaram e os jesuítas puderam voltar a pregar na capital. Os padres concentravam grande parte de sua logística no povoado de Nagasaki, cujo porto se tornou um dos mais importantes para os negócios dos mercadores na década de 1580. Dois jesuítas se destacaram nesse período: Luís Fróis e Alessandro Valignano. O primeiro ganhou projeção ao se esforçar na compreensão do idioma, na produção de catecismos, na confecção de livros e tratados e na redação de um grande volume de cartas – 252 no século XVI. Circulou por quase todas as áreas de atuação dos jesuítas no Japão, o que deu a ele uma visão mais ampla do fenômeno missionário. 
        Já Valignano esteve no Japão três vezes. Na primeira visita, o padre já havia se preocupado em investir na capacitação dos dojukus, adaptando o método jesuítico aos costumes locais. Participou também dos preparativos para a criação da Santa Casa da Misericórdia de Nagasaki. Quando tudo parecia bem para a expansão jesuítica, Nobunaga foi traído por um membro do seu exército e cometeu o seppuku. Foi a partir daí que as relações luso-nipônicas sofreram uma reviravolta. Seu sucessor, Toyotomi Hideyoshi, alegou que a cultura cristã desarticulava as tradições do bushido – o código de conduta dos samurais – e do xintoísmo, ameaçando as estruturas de poder e as hierarquias da sociedade japonesa. Partidário de uma nova estratégia política, rompeu com os missionários ao promulgar, em 1587, o Édito de Hakata, primeiro documento anticristão japonês, que determinava a expulsão dos jesuítas da região central do país. A partir do Édito de Hakata, da rivalidade luso-espanhola e das demais ordens religiosas no Extremo Oriente, o monopólio dos jesuítas sobre o Japão ficou mais vulnerável. Apesar disso, o cristianismo não recuou. Em Funai, foi construída uma diocese em 1588, e Nagasaki continuou a prosperar. Os portugueses tentaram se aproximar de Hideyoshi, promovendo uma embaixada liderada por Valignano em 1591. Porém, a ação não surtiu o efeito esperado e o édito foi mantido. 
         Um ano depois, quando Hideyoshi reuniu os damiyôs vassalos de Kyushu para invadir a Coreia, os dominicanos chegaram ao Japão. Para estimular a rivalidade institucional entre os jesuítas e as ordens cristãs, o regente do imperador– título adotado – autorizou a presença dos franciscanos no país em 1593. Mas o radicalismo de Hideyoshi foi ainda maior: ordenou o assassinato coletivo de vinte e seis cristãos, entre os quais alguns religiosos franciscanos e jesuítas, além de leigos japoneses. Ocorrido em 1597, o episódio ficou conhecido como o primeiro Martírio de Nagasaki. 
         A partir daí, tanto os jesuítas quanto as demais ordens religiosas sentiram-se ameaçados. Após a morte de Hideyoshi, em 1598, o daimyô Tokugawa Ieyasu assumiu o xogunato, unificando o Japão. Nesse novo governo, os nanban-jins, como eram conhecidos os portugueses, perderam terreno no país. Além disso, as viagens entre Macau e Nagasaki foram interrompidas pela Companhia das Índias Orientais. Em 1609, os holandeses aumentaram sua presença em Kyushu e foram autorizados por Tokugawa Hidetada, filho de Ieyasu, a estabelecer uma feitoria na região. As restrições à presença estrangeira e ao cristianismo deram aos japoneses convertidos uma nova característica. 
       Após 1614, ano de publicação de outro édito anticristão, o país ficou fechado para os estrangeiros. Muitos missionários passaram a viver clandestinamente no país, chamados de kakure kirishitan (cristão escondido). Os católicos utilizaram várias técnicas para se camuflar entre a população, a fim de não levantar suspeitas. Sabe-se que essas comunidades secretas resistiram até meados de 1685, quando os Tokugawa resolveram investir definitivamente contra a presença estrangeira no Japão. 

fonte: Jorge Henrique Cardoso Leãoé pesquisador do Núcleo de Estudos Japoneses (UFSC) e autor da dissertação “A arte de evangelizar: jesuítas, dojukus e mediações culturais no Japão (1549-1587)” (UERJ, 2010).

A inculturação de Xavier no Oriente

São Francisco Xavier: símbolo do desafio da inculturação Redação A12. , 22 de Outubro de 2015 às 08h26. Atualizada em 22 de Outubro de 2015 às 08h36.    Enviar por e-mail 0 Foto de: reprodução  São Francisco Xavier tornou-se símbolo do desafio da inculturação. Continuando o clima de missão, neste mês de outubro, vamos recordar umas das figuras mais emblemáticas da experiência missionária da Igreja. Trata-se de São Francisco Xavier. Ele viveu no século 16, conturbado por tantos abalos eclesiais produzidos na Europa pela Reforma Protestante. São Francisco Xavier foi companheiro de Santo Inácio de Loyola, o fundador dos “jesuítas”. Mas ele se lançou logo em missão no Oriente, que naquele tempo exercia um fascínio muito grande aos europeus, que buscavam o caminho do Oriente, para incrementar seus negócios. Mas Xavier foi para o Oriente com outras intenções. Ele sentia a urgência de levar para aqueles povos a salvação trazida por Cristo para toda a humanidade. Começou pela Índia, mas foi se aprofundando em direção ao Oriente, indo dar nas terras da China e do Japão, onde em poucos anos conseguiu lançar as sementes do Evangelho, que continuam florescendo até hoje. São Francisco Xavier se tornou símbolo de um grande desafio, que ainda não foi bem equacionado. Trata-se da complexa questão da “inculturação” do Evangelho. A constatação é esta: o Evangelho pode ser acolhido por todas as culturas existentes neste mundo. E ao ser acolhido em cada cultura, ele não destrói nem ignora os valores já existentes na referida cultura. Inclusive o Evangelho acaba revelando como a ação de Deus já está presente nas culturas antes que chegue o seu anúncio explícito pelos missionários. Por sua vez, a cultura oferece ao Evangelho formas concretas para que ele se expresse e seja assim assumido pelas pessoas que vivem dentro daqueles parâmetros culturais. Compreender, e promover esta inculturação do Evangelho, é uma tarefa que São Francisco Xavier levou adiante com muito sucesso, e que ainda precisa ser entendida pela Igreja. São Francisco Xavier, rogai por nós! São Francisco Xavier é lembrado pela Igreja no dia 3 de dezembro. Fonte: Diocese de Jales

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Carta nº 34 de Inácio de Loyola AO PE. FRANCISCO XAVIER1 

Roma, 31 de Janeiro de 1552 (Ep. IV, 128)

 Jesus. A suma graça e o amor eterno de Cristo Nosso Senhor estejam sempre em nosso favor e ajuda contínua. 

Caríssimo Irmão em Nosso Senhor. Não temos recebido aqui este ano as vossas cartas, que sabemos ter escrito do Japão, pois ficaram retidas em Portugal. Apesar disso, alegramo-nos muito no Senhor por terdes chegado com saúde e por se terem aberto as portas à pregação do Evangelho nessa região. Praza Àquele que as abriu faça sair da infidelidade e entrar no conhecimento de Jesus Cristo, salvação nossa e redenção das suas almas, a essas gentes. Amen. 

As coisas da Companhia, graças unicamente à bondade de Deus, vão em progresso e contínuo aumento em todas as regiões da cristandade. Serve-se destes seus mínimos instrumentos Aquele que sem eles ou com eles é o autor de todo o bem. Sobre notícias em particular remeto-me a Mestre Polanco para que saibais que estou vivo na miséria desta triste vida. Praza Àquele que é a vida eterna de todos os viventes verdadeiros, dar-nos sua copiosa graça para que sempre conheçamos sua santíssima vontade e inteiramente a cumpramos.

 De Roma, 31 de Janeiro de 1552. Todo e sempre vosso no Senhor nosso2.

Inácio.

 1 Francisco Xavier, tendo partido para a Índia em 1541, desembarca no Japão em 1549. As suas cartas ficaram retidas em Portugal, mas Inácio alegra-se da sua chegada são e salvo dessa missão, e das suas esperanças do reino de Deus, que este facto significa. No fim do ano de 1552, Xavier morria solitário à vista da China, imensa região ainda fechada.

 

Carta 66 de Inácio de Loyola destinada  AO PE. FRANCISCO XAVIER1 


1 Esta carta chama para perto de Inácio aquele a quem o Japão acaba de se abrir. Seria que o fundador queria preparar um sucessor para si? É possível, mas os motivos do pedido para vir não o esclarecem. Evocam simplesmente a necessidade de alargar o campo do apostolado, a importância de informações precisas para a Santa Sé, que poderá tomar decisões com conhecimento de causa, a maior facilidade de recrutar pessoalmente missionários, sobretudo na Província de Portugal; e por fim a influência salutar que provocaria junto do rei D. João III a presença de Xavier. Inácio previne a objecção que poderia apresentar à ordem que ele dá e apresenta a consideração de um bem universal cada vez mais amplo que este chamamento significa (Dumeige, Lettres, 309-310).

Roma, 28 de Junho de 1553 (Ep. V, 148-151)
 Numa carta anterior, Inácio tinha comunicado a Xavier o desejo de o ver. Nesta, manda em virtude da santa obediência, que regresse à Europa, deixando qualquer tarefa que tenha entre mãos. As razões que lhe dá para tomar tão séria resolução, como diz na carta, são a conveniência de informar exactamente o rei de Portugal e a Santa Sé, para que possam tomar as medidas mais convenientes para a evangelização; dar um impulso ao envio de missionários, pois muitos com a sua presença se sentiriam animados a ir; poder seleccionar melhor as pessoas, conhecendo as qualidades que se requerem. Inácio ignorava, quando escrevia esta carta, que há mais de meio ano, Dezembro de 1552, Xavier tinha falecido.
 A suma graça e amor eterno de Cristo N. Senhor esteja sempre em nossa ajuda e favor.


 Caríssimo Irmão no Senhor nosso, Recebemos as vossas cartas de 28 de Janeiro de 52, mais tarde do que seria natural, por causa da dificuldade do envio de Portugal para Roma. Por este motivo não recebestes resposta tão depressa como eu desejaria2. Soubemos que Deus N. Senhor abriu as portas ao anúncio do Evangelho e conversão dos pagãos no Japão e na China por vosso ministério3. Consolámo-nos muito em sua Divina Majestade e esperamos que o seu conhecimento e glória se estenda cada dia mais e se possa perpetuar e progredir o rebanho dessas gentes com o favor divino. Pareceu-me também um acerto ter enviado à China Mestre Gaspar Berceo e outros4. E se vós mesmo fostes à China (aonde vos animais a ir), se não vos estorvam os assuntos da Índia, eu o considerarei bem feito, pois estou persuadido que é a Sabedoria divina que vos guia. Contudo, quanto aqui se pode pensar, julgo eu que será maior serviço de Deus para a vossa pessoa, se ficardes na Índia, enviando outros e orientando-os para que realizem o que vós realizaríeis, porque desta maneira fareis em muitas partes o que vossa pessoa faria numa. Acrescento mais: olhando para o maior serviço de Deus Nosso Senhor e auxílio das almas nessas regiões, e ao quanto depende de Portugal o bem delas, determinei mandar-vos em virtude da santa obediência que, entre tantos caminhos, empreendais este de Portugal, na primeira oportunidade de boa viagem; isto vos mando em nome de Cristo Nosso Senhor, embora seja para voltar depressa à Índia. Para que lá possais persuadir os que quereriam deter-vos para o bem das Índias, dir-vos-ei as razões que a isto me movem, olhando por outro lado ao bem delas5. Em primeiro lugar, já sabeis quanto importa para a conservação e aumento da cristandade nessas partes, na Guiné e no Brasil, a boa ordem que o rei de Portugal, quando informado de quem conhece, por experiência, os assuntos dessas terras, tão bem como vós, podeis pensar que se moverá a realizar muitas propostas vossas para o serviço de Deus N. Senhor e auxílio dessas regiões. Depois importa muito que a Sé Apostólica tenha informações certas e completas do estado das Índias, de pessoa fiável para ela. Pois deve tomar decisões sobre meios necessários ou muito importantes para o bem dessa cristandade nova e dos cristãos antigos que aí vivem. Também para isto vós sois mais indicado do que qualquer outro dos que aí se encontram, pelo conhecimento que tendes do país e do que se tem aqui da vossa pessoa. Igualmente sabeis quanto importa, para o bem das Índias, estarem lá os homens idôneos, para o fim que se pretende nessas e noutras regiões. A vossa vinda a Portugal e a Roma será grandemente útil para esta finalidade. Porque não somente se moverão muitos mais a desejarem ir para aí, mas ainda, dos candidatos vereis os que são mais aptos para ir ou não ir, os que são mais para um país ou para outro. Julgareis vós mesmo quanto importa o acerto neste ponto. Não basta o que escreveis de lá para nos dar ideia exata, se vós mesmo não tratais e conheceis os que se hão-de enviar6.
 Independentemente dessas razões, todas para o bem das Índias, penso que inflamareis o rei para o problema da Etiópia. Há tantos anos que se está para executar e não se acaba de concluir. O mesmo sucede no caso do Congo e do Brasil; podereis de Portugal ajudar muito, o que não podeis conseguir na Índia, por falta de comunicação. Se aí parecer que é importante para o governo a vossa presença, podeis governar não menos de Portugal do que do Japão ou da China; antes muito melhor. Numerosas e bem mais longas ausências tivestes de sofrer. Ajuntai esta, deixando aí os reitores que vos parecer e alguém encarregado do cargo geral de tudo, com os consultores que julgardes mais aptos. Deus N. Senhor estará com eles. Sobre outros assuntos, remeto-me a Mestre Polanco. Encomendo-me muito de coração às vossas orações e rogo à divina e suma bondade queira dar a sua inteira graça para sentirmos e perfeitamente cumprirmos a sua santíssima vontade.

 De Roma, 28 de Junho de 1553.

Vindo a Portugal, estareis à obediência do rei que disporá da vossa pessoa para glória de Deus N. Senhor. Todo vosso no Senhor nosso.
INÁCIO

Notas:
 2 Esta carta vai encontrar Xavier já falecido desde o início de Dezembro de 1552. Só em Outubro de 1555 se veio a saber na Europa essa notícia.
3 O anúncio do Evangelho no Japão, desde 15 de Agosto de 1549, já era uma realidade. Xavier detivera-se aqui mais de dois anos. O anúncio na China era só projecto. Às suas portas, na ilha de Sanchoão, a 10 km da costa, morria o Apóstolo na noite de 2 a 3 de Dezembro de 1552.
4 Grande missionário de Ormuz e da Índia.
5 Segue um modelo de discernimento pelo 3º tempo (EE. 177).
6 Xavier teve de remeter para Portugal vários que não eram aptos para a Índia.