A CONVERSÃO DE
SÃO FRANCISCO XAVIER POR SANTO INÁCIO DE LOYOLA
Narrador: Os progressos de Xavier nos estudos e no mundo
lisonjeavam a sua vaidade a ponto de o distancia-lo das coisas de Deus.
N: Num dia, Inácio depois de lhe ter falado por longo
tempo sobre as vaidades do mundo, com tão mau resultado como sempre, terminou
com as mesmas palavras celestes:
Inácio: - De que serve ao homem ganhar todo o universo,
se vier a perder a sua alma? - Vós o compreendereis um dia, Francisco.
Xavier: - e
De que serve ao homem estar a pregar
todo o dia e perder o seu tempo? (tom de
mofa)
Inácio: - Cumpre com o seu dever, Francisco.
N: Francisco continuou sem dar atenção às conversas de
Inácio, seu colega de quarto na universidade de Paris. Inácio não desiste e em
tudo quer servir a Francisco
(CHEGANDO) Miguel: - Francisco, estava te
procurando, vamos a Festa, não se lembra?
- Inacio, vamos
também.
Inacio: Oh, não tenho alguns
afazeres agora a noite.
(SAEM E DIZ)
Xavier: Ele nunca
perde a missa, todos os dias esta lá.
(ENTRA RÁPIDAO O MENSAGEIRO) - Francisco, tenho noticias. Seus
pais...
(XAVIER
INTERROMPE E OLHANDO PRA TRAZ DIZ)
Xavier: há, meu
amigo, já sei, deixe o dinheiro da mesada que meus pais mandaram na minha cama
(E SAE)
Mensageiro: não
era isso
Inacio: o que foi então?
Mensageiro: é que
os pais dele mandou dizer que não tem mais como pagar os estudos dele aqui.
Inacio: deixe que eu resolvo
isso!
N: Inácio, então, como fazia todas as noites, após longo
dia de estudos, saiu para trabalhar num moinho. Trabalho
pesado, mas que, podia pagar seu estudos.
(INACIO ENTRA
COM UMA MOCHILA DE DINHEIRO)
N: Bem, ao fim da noite Inacio chega do trabalho com seu
pagamento e desta vez,
Vendo que seu colega de quarto não tinha mais recursos,
resolve dar do fruto de seu suor, aquela quantia para Xavier se manter, sem
avisar-lhe da real situação de seus pais.
(INACIO COLOCA A MOCHILA NA CAMA DE XAVIER E VAI PARA SUA CAMA E
AJOELHA-SE REZANDO)
(DEPOIS DISSO
XAVIER CHEGA, SENTA NA CAMA, OLHA A BOLSA E DIZ)
Xavier: Que bom,
que meu mensageiro deixou aqui o dinheiro que minha mae mandou!
O ultimo que tinha acabei de gastar.
(olhando para Inacio diz)
Xavier: Inacio,
por que não se diverte? Foi a missa e ainda ta ai ajoelhado
(Inacio levanta)
Inacio: caro
amigo, “De que serve ao homem ganhar todo o universo, se vier a perder a sua
alma?” - Vós o compreendereis um dia, Francisco
Xavier: De novo com essas
conversas?
Inácio (aproximando afetuosamente de Xavier): - Francisco, o vosso
coração é muito bom... é em extremo sensível, muito nobre, muito grande, muito
generoso para se
prender à terra! Não foi feito para este mundo!
N: E ele nada mais dizia. Xavier já percebia que todas as suas ambições, por mais grandiosas
que fosse, não o completava, e mesmo sem assumir, já refletia que Inacio, mesmo
sem as glorias do mundo estava sempre a acolhe-lo afetuosamente e com rosto
sempre alegre, apesar da sua frágil saúde e trabalho ardoroso.
Inacio: amanha mesmo me dirás “De que serve ao homem
ganhar todo o universo, se vier a perder a sua alma?
Xavier: não deixarei para amanhã,
Inacio. Reconheço que você tem razão.
Mas entenda
que não posso abandonar tudo para viver um mundo de ideias tão estreitas.
Inacio: Estreitas, Francisco.
Elas dizem respeito a este mundo e a vida eterna que há por vir, e chama isso
de estreitas. Me diga, De que serve ao homem ter riquezas, fama, poder, se vier
a perder a sua alma? Isto sim, é que é ideias estreitas que acabam com a morte.
Xavier: ah Inacio, veja como anda, pobre,
todo maltrapilho, nunca poderei concordar com esse tipo de vida. Além disso,
você sabe que na Espanha me espera o trono no Reino de Navarra.
N: Os
dias passam... Francisco descobre que seus pais não mandavam, a algum
tempo, a sua mesada e sabe que é Inacio, com trabulhos pesados, que o mantem
nos estudos, mas de forma secreta. Xavier, então, pôde estudar melhor as
perfeições de Inácio, e quanto mais o admirava, mais se arrependia da injustiça
das zombarias que lhe dirigira tão inconsideradamente, tornou-se amável e
atencioso para com ele, estimava-o verdadeiramente, mas não passava além.
Inácio não conseguia, portanto, o que mais ambicionava, mas não desiste.
Percebe que Francisco estar inquieto.
Inacio: o que lhe atormenta Francisco? Parece triste.
Xavier: é que me arrependo de vos ter
conhecido e apreciado tão tarde, me arrependo das zombarias e injustiças que
fiz contra ti. Mas não me vejo vivendo desse jeito.
Inácio: - A vossa ambição é
nobre, eu não a contesto; mas a que se dirige para o Céu, para a eternidade,
não a é ainda mais? é isto digno duma alma como a vossa?
Inácio: - Deus vos pede que
façais por Ele todo o sacrifício desde já.
N: Falando-lhe deste modo, Inácio aproximou-se
do seu jovem amigo e tomou-lhe a mão que sentiu estremecer entre as suas,
adivinhando a luta que se travava naquele coração tão ardente de 27 anos.
Francisco não respondeu.
Inácio: - O vosso silêncio responde
por vós;
N: Francisco converteu-se à gloria de Deus, não questionava mais.
Então, Inácio levantou-se, deu alguns passos pelo
quarto, e depois parando, ficou a contemplar o seu jovem amigo que parecia
absorvido nas suas reflexões. Não tardou, porém, muito que os seus olhares se
encontrassem. Francisco tinha os olhos cheios
de lágrimas. Inácio aproximou-se então dele e abriu-Lhe
os braços, aos quais Xavier se deixou atrair, entregando-se
completamente comovido... O homem do mundo, que pouco antes se confessara
vencido, rendia-se agora por completo. Dias depois, Francisco declarava-se
abertamente como um dos discípulos do seu caro mestre na vida espiritual. Podia,
finalmente, entregar a Deus e entregar-lhe toda inteira aquela formosa alma que
conhecia ser predestinada a coisas muito grandes, e que pelos desígnios da
Providência, devia ir, mais tarde, fundar o reino de Jesus Cristo no meio das
nações pagãs da India, Malásia, Indonésia e Japão, onde percorreu imensas
distancias, vindo a morrer desprovido de tudo numa ilha da China em 03 de
dezembro de 1552.