Os paravás[1] batizados e evangelizados pelo missionário Francisco Xavier na Costa da Pescaria[2] tinham verdadeira paixão pelo jesuíta. Eles foram os que mais conservaram a fé dentre todos os povos indianos. Quando os holandeses assumiram a Costa da Pescaria auxiliados pela ação maléfica do Marques de Pombal, os missionários cristãos embrenharam-se nas florestas e, ocultamente, continuaram a exercer seu ministério cristão atendendo os paravás. Eles compareciam em massa todos os domingos na floresta para assistirem a santa missa às ocultas.
Convencidos de que ganhariam os paravás, e preocupados com a ausência de plateia nas pregações, os novos colonizadores mandaram vir um ministro protestante da Batávia[3] tido como de grande eloquência. O chefe dos paravás ouviu humildemente a fala do holandês que por três horas seguidas expos as vantagens da sua doutrina. No final e já fatigado, perguntou ao nativo sobre o que pensava do exposto e recebeu a resposta:
– A fé que nós professamos foi-nos pregada pelo grande padre Francisco Xavier que operava tantos milagres quantas palavras proferia. Se vós quereis fazer-nos crer a vossa doutrina, tente superar maior número de milagres do que ele fez.
A seguir começou a enumerá-los:
_ Ele ressuscitou três mortos aquí e curou muitos dos doentes na Costa da Pescaria e em Travancor. Lá em Malaca, dizem e confirmam que, logo após seu corpo chegar na cidade, a peste parou. Citam que mais de 800 milagres ocorreram por lá no ano seguinte. Faça mais do que ele fez para eu acreditar em ti.
O missionário holandês sentindo que perdia o seu tempo, agradeceu e embarcou de regresso.
[1] Povos da Índia
[2] “Costa de Pescaria”, na costa este do Sul da Índia, a norte do Cabo Comorim, território dos paravás.
[3] A Batávia é uma região histórica nos Países Baixos.
Colaboração: Ubirajara de Carvalho
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