quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

O zelo de São Francisco Xavier pela oração



            Conhecemos cento e trinta e sete documentos, os quais foram considerados pelo P. Georg Schurhammer(1) como tendo sido escritos, ditados ou pelo menos inspirados por Francisco Xavier. Entre estes cento e trinta e sete documentos, trinta e sete são importantes para o tema da oração. Trata-se de textos que podem incluir referências mais ou menos vagas até textos que são quase tratados acerca da oração. Não será ainda demais mencionar o fato de que as biografias escritas pelos primeiros hagiógrafos de Francisco Xavier, entre eles, Manuel Teixeira e João de Lucena, incluem cartas ou trechos de escritos de S. Francisco Xavier.
Nota: 1 Georg Schurhammer SJ, o maior especialista em S. Francisco Xavier de todos os tempos, considera no artigo Die Xaveriusreliquien und ihre Geschichte que os documentos 2, 4,5,9, 99 foram escritos pelo próprio Santo, os documentos 52, 58, 59, 67, 77, 100, 102, 115, 122, 23, 125, 128, 132 como cartascom endereço ou assinatura de Xavier, os documentos 139, 140, 141 extractos e carta completamente de sua mão, enquanto os documentos 151 153 162, 362 teriam sido apenas assinados por ele.
            A documentação atribuída a S. Francisco Xavier, que para a época não era particularmente vasta, incluía majoritariamente hijuelas ou cartas privadas destinadas ao Padre Geral, cartas endereçadas a seus companheiros na Europa, cartas para não jesuítas, incluindo as cartas ao Rei D. João III, assim como instruções ou cartas – regulamentos para os missionários no Oriente, como a Instrução Terceira ao Padre Barzeus, Reitor do Colégio de S. Paulo, as instruções para os missionários da Costa da Pescaria, e sobretudo as vinte e seis cartas dirigidas a Francisco Mansilhas, textos para a catequese (Instrução para os Catequistas da Companhia de Jesus), escritos espirituais que compreendem textos como as anotações aos Exercícios Espirituais, até textos como o Catecismo Breve (1542), o Modo de Rezar e salvar a alma (1548?), a Oração pela conversão dos gentios, Goa, (1548?), e ainda documentos vários de difícil classificação.
            O documento mais antigo que se conhece é uma carta que Francisco Xavier escreveu durante a sua estadia em Paris em 1535 ao seu irmão João de Azpilcueta (Obanos). Do ano da sua morte data a grande maioria das epístolas escritas por Francisco Xavier e que chegaram à atualidade, ou seja, quarenta e duas cartas, quase um terço do total do seu legado epistolar.
Entre os seus textos mais famosos e que tratam diretamente a questão da oração, começamos por referir a sua Doutrina Cristão ou Catecismo Breve, composto em Goa em Maio de 1542. Trata-se duma adaptação do Catecismo publicado pelo cronista João de Barros entre 1539 e 1540 em Lisboa. Todavia, Francisco Xavier realizou importantes alterações. Francisco Xavier introduziu o seu catecismo com uma Oração à Santíssima Trindade e terminou o mesmo escrito com uma oração dedicada a S. Miguel Arcanjo, que são precisamente duas das principais devoções da Companhia de Jesus.
De igual forma, o Catecismo Breve reflete o contexto missionário em que foi composto. Pois S. Francisco Xavier, grande devoto do Apóstolo S. Tomé, acrescentou, provavelmente pela mesma razão e devido ao fato de S. Tomé ser Padroeiro da Índia Portuguesa, uma especial intercessão a S. Tomé. Francisco Xavier juntou ainda no mesmo texto uma oração por si composta e na qual renegava todos os sinais de heresia representados na sua opinião pelos «pagodes, que são deuses dos gentios em figuras de bestas e alimárias do diabo».
A mesma preocupação é visível no texto doutrinal Explicação do Símbolo da Fé (Credo), composto em Ternate em 1545, no qual afirma: «E assim, os que adoram em pagodes, como fazem os infiéis, e os que crêem em feitiços e sortes e adivinhadores pecam, gravemente, contra Deus, porque adoram e crêem no diabo e o tomam por seu senhor, deixando a Deus que os criou e lhes deu alma e vida o corpo e quanto têm, perdendo, os tristes, por suas idolatrias, o céu, (..). Mas, os cristãos verdadeiros e leais a seu Deus e Senhor crêem e adoram, de vontade e coração, um só Deus verdadeiro, Criador dos Céus e da terra. Bem o mostram quando vão às igrejas e vêem suas imagens que são lembranças dos santos que estão com Deus, em a glória do paraíso; põem, então, os cristãos os joelhos no chão, …, e alevantam as mãos para os céus.
De acordo com o espírito da época, Francisco Xavier considerava a profissão de religiões diferentes do Cristianismo um pecado grave. Defendia que sinais do ritual cristão, tais como ajoelhar-se nas igrejas, venerar as imagens dos santos, são sinais inequívocos da pertença à única e verdadeira religião: o Cristianismo.


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