quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Xavier pede Indulgências Plenárias para os cristãos da India

Trecho da Carta nº 16 sobre as Indulgências
AO PADRE INÁCIO DE LOYOLA (ROMA)
Goa, 20 de Setembro 1542

*** Xavier, que com seu zelo de Apóstolo, ver necessário que o Papa conceda Indulgencias Plenárias para os fies na Índia, escreve a Inacio de Loyola, superior dos Jesuitas, mas como sinal de humildade prefere atribuir como este pedido de Indulgências seja do Governador da Índia. De fato, como zelo de obediencia, Xavier antes de escrever esta petição deve ter se entendido com o Governador sobre esta intenção. É evidente que tão sublime pedido partiu do Padre Francisco Xavier. O Governador, mesmo devotado como fosse, tinha outros assuntos administrativos a intervir, de modo que este parte do intelecto de Xavier, mas ele não atribui a si tao grande beneficio espiritual.

"Diz o senhor Governador*** que, os que hão-de vir, seria coisa santa e de muita estima e causa de muito grande devoção, nestas partes, se para o altar-mor do colégio trouxessem de Sua Santidade uma graça e privilégio: que todos aqueles que, no dito altar, celebrassem Missa por um defunto, tirassem uma alma do purgatório, tal como se, nos altares privilegiados de Roma, celebrassem9. Deseja muito o senhor Governador, para que, em coisa tão santa, não intervenha avareza dos que ali vierem a celebrar, que a concessão (*das Indulgências) fosse desta maneira: que, todos os que dissessem Missa nesse altar (*do Colégio de Santa Fé), fosse gratis e por amor de Deus, sem nenhuma esperança de prémio temporal, e que doutra forma não gozassem do privilégio; e que, o que a manda dizer, se confesse e comungue naquela Missa, porque é muito razoável que, quem é causa de que tirem uma alma do purgatório, tire a sua pri­meiro do inferno. Porém, aos que disserem Missa no dito altar, grátis etc., que Sua Santidade lhes concedesse algum prémio espiritual, ou indulgência plenária, ou outra, qual Sua Santidade mandasse; e isto, para que os sacerdotes, por amor do prémio espiritual, gostassem de dizer Missa grátis e por amor de Deus, sem nenhuma esperança de prémio temporal. Desta maneira diz Sua Senhoria (*o Governador da India) que deseja muito esta graça neste colégio, porque desta maneira seria causa de muita devoção, e estimar-se-ia, como é muita razão. Por esta e outras graças espirituais que manda pedir, podeis julgar o ânimo e zelo que tem, pois tão bem sente de coisas tão santas e pias e assim as procura.

Qualidades dos da Companhia que te­nham de vir para Índia: selectos, de boa saúde e de idade não avançada; variedade de ministérios que os esperam
5. Certo estou de que, os que hão-de vir da nossa Companhia, hão-de ser pessoa ou pessoas em quem vós muito confieis, pois hão de ter cargo de um tal colégio como este. Hão de passar muitos trabalhos, pois os desta terra são grandes, tanto ela debilita os que não são criados nela. Pensai numa coisa: que tanto o mar como a terra os hão-de provar para quanto são. Não é esta terra senão para homens de grande compleição e não de muita idade**. Mais é para mancebos que para velhos, embora para velhos saudáveis seja boa. Com muita caridade e amor da gente desta terra serão recebidos os que da nossa Companhia vierem. Hão-de ser muito importunados para muitas confissões, Exercícios Espirituais e pregações. Pensai que encontrarão muita messe10. Há já mais de sessenta rapazes, naturais da terra, dos quais está encarregado um Padre Reverendo11. Estes, neste Verão, irão habitar no colégio. Entre eles, há muitos, e quase todos, que sabem ler e rezar o ofício e, muitos deles, escrever. Estão já capazes de estudar gramática. Esta informação vos dou, para que daí provejais quem aqui se ocupe só em ensinar gramática, que terá muita ocupação.

**Nota: Esta frase de Xavier "Não é esta terra senão para homens de grande compleição e não de muita idade" confirmou-se. De fato, Xavier morreu de exaustão, fatigado dos imensos trabalhos que empreendeu pelo nome de Cristo. Ele quis dizer que haveria muito o que fazer e para isso precisaria de vigor físico, de fato, o dele esgotou-se quando tinha somente 46 anos de idade. De fato, a idade seria o principal obstáculo para "continuar dando conta" de tamanhos trabalhos.

Acima de tudo há necessidade de um pregador para os fiéis, missionários para os infiéis e professores para o colégio. Privilégios e indulgências a pedir à Santa Sé, devidamente confirmadas por Bulas
6. Dos que hão-de vir, deseja o senhor Governador que, entre eles, viesse algum pregador, o qual se ocupasse com os clérigos em Exercí­cios Espirituais, ou em ler-lhes alguma coisa da Sagrada Escritura ou de matéria de sacramentos, porque os clérigos que vêm para a Índia não são todos letrados12; e [que] juntamente com isto, pondo por obra o que lhes lesse e ensinasse, os movesse e inflamasse no amor de Deus e salvação dos próximos, ao verem-no pôr em execução o que lhes lesse, pois as obras é que movem mais que as palavras. E os outros se ocupassem em confissões, em ministrar sacramentos e conversar com os gentios desta ilha, porque haveriam de converter muitos, e fazer infinito fruto nas almas dadas à idolatria: que muitas delas, por não saberem quem as ajude a sair de tanta ignorância, chegam a tanta infidelidade por não conhecer o seu Criador e Senhor. Espera o senhor Governador que de Roma hão-de vir três clérigos e um mes­tre de gramática, porque assim me parece que escreve ao Rei: para que Sua Alteza escreva a Sua Santidade pedindo-lhe quatro da nossa Companhia, e também acerca das nossas indulgências, de que na outra carta vos escrevo13, para que o Rei proveja em Roma para que se despachem. Se as trouxerem os que da nossa Companhia vierem, tende a certeza que terão ganho as vontades de todos os portugueses que há na Índia, além de muita autoridade e crédito com todos eles, o que é grande parte para imprimir nas suas almas todas as coisas espirituais. Entre todas as nações que tenho visto, creio que a por­tuguesa leva vantagem a todas, em estimar as graças ou indulgências de Roma. A concessão destas graças será causa de que muitos mais se acerquem dos sacramentos e, tanto por esta razão como por serem os portugueses muito obedientes, virá a conceder-lhes as indulgências que esperam. Todas as graças que daí trouxerem os da nossa Compa­nhia, hão-de trazê-las muito autorizadas por Bulas de Sua Santidade, para maior autoridade e maior aumento de devoção.

Pede a Inácio que escreva ao Governador e lhe consiga algumas graças da Santa Sé
7. O senhor Governador, pelo que creio, também vos escreve. Embora não vos conheça de vista, é muito vosso devoto e de todos os da Companhia. Não deixeis de escrever-lhe e mandar-lhe um par de rosários de contas, um para sua mulher14 e outro para ele, com todas as graças, indulgências, que de Sua Santidade puderdes alcan­çar: há-de os muito estimar, tanto pelas graças, indulgências, que Sua Santidade lhe há-de conceder, como por enviar-lhas vós. Mais vos pede o senhor Governador e é que, pela muita confiança que em vós tem, lhe alcanceis esta graça e privilégio de Sua Santidade: que todas as vezes que se confessar ele e sua mulher, filhos e filhas15, lhes conceda Sua Santidade aquelas indulgências que ganhariam, se todas as sete igrejas de Roma em pessoa visitassem. Nisto receberia o senhor Governador grande caridade de vós; e pensaria, de mim, que algum crédito tenho convosco, se, por escrever-vos eu da sua parte, alcançar­des de Sua Santidade estas graças e as outras. Assim acabo, rogando a Cristo Nosso Senhor, pois por sua infinita misericórdia nos juntou nesta vida, que depois da morte nos leve à sua santíssima glória.
De Goa, a 20 de Setembro, ano 1542
Vosso filho em Cristo, FRANCISCO DE XABIER

Notas:_______________________

7 A Irmandade da Santa Fé foi fundada em 1541, na igreja de Nossa Senhora da Luz. A sua sede, naquela altura, era aí, na capela da Conversão de S. Paulo, seu padroeiro, e a ele foi dedicada também a futura igreja do colégio.
8 O nome da confraria era: «Irmandade da conversão à Fé».  Daí o cha­marem também ao colégio «da Santa Fé» .

Sobre esse pedido de Xavier:
9 O altar privilegiado, com indulgência plenária em favor dos defuntos, foi concedido em 1549.


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