sexta-feira, 6 de maio de 2016

Sao Francisco Xaviee e Portugal

São Francisco Xavier. Confessor, nascido de nobre família, apóstolo das Índias e do Japão, Padroeiro especial de todas as missões. Século XVI. Na biografia de São Francisco Xavier de Daurignac, encontra-se o seguinte trecho de uma carta a D. João III, rei de Portugal, escrita pelo santo: “Senhor, deveis temer que quando Deus citar Vossa Alteza a comparecer perante Si, o que acontecerá infalivelmente e talvez em um momento em que menos espereis, e quando não haja razões ou esperança de declinar aquele tribunal, deveis temer, grande príncipe, que aquele Juiz, irritado, vos dirija essas terríveis palavras de acusação: Por que não tendes procedido com rigor contra vossos ministros, contra os vossos vassalos que nas Índias conspiravam contra Mim, e não receavam declarar-se em estado de rebelião? Por que razão a vossa severidade não pode feri-los senão quando eles eram negligentes na arrecadação dos impostos e na administração das vossas finanças? “Senhor, ignoro que valor poderão ter as vossas escusas quando responderdes: Senhor, eu escrevia todos os anos para aqueles países e todos os anos recomendava o maior zelo, os maiores trabalhos pela Vossa glória e pelo literal cumprimento de Vossos preceitos. Não vos responderá então Deus: Pois bem, mas vós deixáveis impunes todos aqueles que se mostravam indiferentes a essas ordens”.  Dom João III, Rei de Portugal (1502-1557) É um belíssimo trecho de carta. Realmente, o que se estava dando, como os Srs. acabam de ver, era isso: o rei de Portugal possuía importantes terras na Índia, em direção a Macau e próximo da China, e ele recomendava, em cartas anuais, que os seus servidores, naquelas regiões, fizessem tudo para promover a fé. Entretanto, São Francisco Xavier, que exercia ali seu apostolado, verificava que isso não ocorria e que aqueles homens até conspiravam para impedir que a fé católica se desenvolvesse. Era, muito provavelmente, cúpula podre opondo uma ação subreptícia, oculta, por debaixo do pano, aos desígnios do rei de Portugal. Então, São Francisco Xavier escreve a ele e diz a ele: Vós mandais cartas para aquela gente, mas por que vós não punis aquela gente? Não basta mandar, mas é preciso punir quem desobedece, porque a simples ordem desacompanhada de punição é uma veleidade sem valor, que não pode ser alegada perante Deus como cumprimento de dever. Vós tínheis a obrigação de, sendo desobedecido, punir. Tanto mais quanto no que diz respeito a arrecadamento dos impostos, quando não andam bem, vós punis. Se vós punis em matéria de imposto e não punis em matéria de religião, é – em última análise – porque amais mais os impostos do que a religião. É o que está insinuado na carta e, aliás, é o que está na evidência dos fatos. E acrescenta: Quando Deus vos chamar, o que é que deveis alegar? Lembrai-vos que Deus vos pode chamar de um momento para outro; e logo de uma vez em condições tais, que não tenhais esperança, nem possibilidade alguma de conservar a vossa vida. Realmente, uma doença tão grave, um ferimento tão grave, um atentado, um desastre, uma coisa qualquer, que não haja mais possibilidade de viver. O rei vê que vai morrer, daqui a pouco comparecerá perante Deus. O que dizer a Deus a respeito do uso que ele fez do seu poder? O uso do poder deve ser antes para a fé, do que para o dinheiro. E não há efetivo uso do poder da parte de quem apenas manda e depois não pune a quem desobedece.  Soberbo relicário com o antebraço direito de São Francisco Xavier, destacado do corpo do Santo pelo Geral da Companhia de Jesus Padre Cláudio Acquaviva, em 1614. Igreja do Gesù, Roma Esses são os dois grandes princípios que estão subjacentes na carta, em virtude dos quais o santo se dirige assim ao rei. Observem os Srs. com que liberdade um grande santo se dirige a um grande rei, a um dos potentados da terra naquele tempo e como o desempenho do mandato apostólico leva a pessoa a ter uma franqueza, a ter um denodo que antigamente tinha um lindo nome. Quando se referia a essa franqueza desabrida utilizada pelos que falavam em nome de Deus, dizia-se a “franqueza apostólica”. É a franqueza do apóstolo, a franqueza de quem representa a Deus e tem o direito de falar assim. E, portanto, tem o direito de dizer as coisas mais desagradáveis e tem o direito de ser ouvido. E fazendo uso disso, São Francisco Xavier falava ao rei e obtinha provavelmente ao menos alguma inflexão na linha de conduta real. Mas ainda que não obtivesse, não vem ao caso. As brasas estavam acesas sobre a cabeça do rei e quando ele morresse, teria que prestar contas a Deus. Os Srs. vêem como tudo isso é lógico, como tudo isso é belo... como tudo isso está envelhecido! Envelhecido não por uma senectude, por uma velhice intrínseca, não porque em si mesmas essas coisas tenham envelhecido. Mas é porque os homens decaíram de tal maneira que não aceitam esses princípios e não querem mais ouvir essa linguagem. E afirmam caluniosamente que é desalmado, sem caridade, sem espírito católico quem fala assim. Ora, aqui está a linguagem de um dos maiores santos da Igreja Católica que foi – sem dúvida – São Francisco Xavier. Esta era a linguagem dos santos e não essa linguagem adocicada de ecumenismo falso, de irenismo, de quantas outras coisas que assim haja.  Urna com o corpo de São Francisco Xavier na igreja do Bom Jesus de Goa, Índia _____________________________________________________ [O trecho abaixo foi acrescentado por este site] Da Carta Apostólica “Meditantibus Nobis” em homenagem a Santo Ignácio de Loyola e São Francisco Xavier no 3º centenário de sua canonização (3 de dezembro de 1922), afirma o Papa Pio XI: “(São Francisco) Xavier vivia todo entregue às vaidades da glória humana quando (Santo) Inácio (de Loyola) o encontrou. Por sua disciplina, ele o transformou ao ponto de torná-lo rapidamente um valoroso pregador do Evangelho e, consequentemente, um apóstolo para o Extremo Oriente. “Esta maravilhosa transformação deve ser justamente atribuída à virtude dos Exercícios (Espirituais). Se, mais de uma vez, ele percorreu imensas extensões pela terra e pelo mar; se foi o primeiro a levar o nome de Cristo ao Japão, o qual era chamado com razão de “ilha dos mártires”; se afrontou grandes perigos e realizou trabalhos incríveis; se derramou a água sagrada do Batismo em incontáveis multidões; se, além disso, realizou prodígios infinitos de toda espécie, isto se deve ao pai de sua alma, como ele chamava a Inácio, a quem Francisco em suas cartas afirmava lhe ser devedor – depois de Deus –, Inácio que no retiro espiritual dos Exercícios lhe imbuiu a fundo o conhecimento e o amor a Nosso Senhor Jesus Cristo” (cfr. Actes de S. S. Pie XI, Tome I, Maison de la Bonne Presse, Paris, pag. 125).   

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