terça-feira, 6 de setembro de 2016

"S. F. Xavier, modelo de obediência religiosa" - Carta n°100

Carta nº100 sobre a OBEDIÊNCIA
AO PADRE PAULO CAMERINO (GOA)
Cochim, 4 de Fevereiro 1552
Original ditado em português
IHS!
A graça e amor de Cristo Nosso Senhor seja sempre em nossa ajuda e favor. Amen.
Morais e Gonçalves são despedidos da Companhia de Jesus. Teme que outros se sigam
1. Micer Paulo. Aí vão Manuel de Morais e Francisco Gon­çalves. Logo que chegarem, vista esta carta minha, ireis a casa do Senhor Bispo e direis a Sua Senhoria que Manuel de Morais, uma vez que é Padre, o entregais em suas mãos, porque eu vos escrevi que a Companhia o entrega a Sua Senhoria: que dele se sirva, porque é pessoa que se pode servir dele. E assim, vós direis a Manuel de Mo­rais que eu vos escrevi para que o despedísseis.
Também despedireis a Francisco Gonçalves; e isto vos mando que façais em virtude de obediência. Não os deixareis entrar no colégio; e assim, mandareis a todos os que estão no colégio que não tenham prática com eles. A mim me pesa muito de haver causas para os despedir3. O que mais sinto ainda, é que tenho medo de que não hão de ser [eles] sós4. Deus sabe com quanta mágoa escre­vo esta carta!
Outros desgostos
2. Cuidava [vir] achar cá alguma consolação, depois dos muitos trabalhos que tenho levado e, em lugar de consolação, acho traba­lhos que assaz me atribulam, como são demandas e desavenças com o povo, que causam pouca edificação.
Obediência, parece-me [pelo que tenho alcançado depois que cheguei], que há pouca ou nenhuma. Louvado seja Deus por tudo.

Recados sobre alguns jesuítas. Cumprimen­tos ao Bispo
3. A Belchior Gonçalves6 mandareis e escrevereis para Baçaim que, em virtude de obediência, venha a Goa, que assim o mando.
Baltasar Nunes7 recebê-lo-eis em casa até que eu aí vá. Um man­cebo que aí vai, que se chama Tomé Fernandes8, não o recebereis em casa até que eu aí vá. Dizei-lhe que, se quiser servir a Deus na Companhia, o sirva em espírito até que eu aí vá. Espero em Deus Nosso Senhor depressa estar aí.
Ao Senhor Bispo, de minha parte, lhe beijareis a mão e lhe direis que em grandíssima maneira desejo ver Sua Senhoria para consolar-me com ele; pois é tão grande a obrigação que lhe tenho, que me acho indigno para lhe pagar o muito que devo a Sua Senhoria.
     A todos os Irmãos desejo muito de ver, principalmente aos Pa­dres, para me consolar com eles.
De Cochim, a 4 de Fevereiro de 1552
(Por mão de Xavier): Todo vosso em Cristo, FRANCISCO

3 Ambos foram despedidos da Companhia por desobedecerem a João da Beira, superior da Missão em que trabalhavam. Tinham sido enviados para as Molucas em 1549 com Afonso de Castro, onde já se encontravam Nicolau Nunes e Nuno Ribeiro com João da Beira (Xavier-doc. 82).
4 Além destes, Xavier despediu em Goa António Gomes e Melchior Gonçal­ves; outros três (Manuel da Nóbrega, André Monteiro e João Rodrigues) despedi­ram-se eles mesmos de própria vontade.
6 a razão por que o chamou cf. Xavier-doc. 104,1: «pois está esse povo de nós tão escandalizado».

7 Sobre ele cf. Xavier-doc. 68,2. Consta que era ainda estudante, muito doente e hesitante na vocação. Mas em 1566 ainda continuava jesuíta               /               8 Talvez um Tomé Fernandes que em 1581 era sacerdote diocesano em Diu. 

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