Carta nº100 sobre a OBEDIÊNCIA
AO PADRE PAULO CAMERINO (GOA)
Cochim, 4 de Fevereiro 1552
Original ditado em português
IHS!
A graça e amor de Cristo Nosso
Senhor seja sempre em nossa ajuda e favor. Amen.
Morais e Gonçalves são despedidos da Companhia de Jesus. Teme que
outros se sigam
1. Micer
Paulo. Aí vão Manuel de Morais e Francisco Gonçalves. Logo que chegarem, vista
esta carta minha, ireis a casa do Senhor Bispo e direis a Sua Senhoria que
Manuel de Morais, uma vez que é Padre, o entregais em suas mãos, porque eu vos
escrevi que a Companhia o entrega a Sua Senhoria: que dele se sirva, porque é pessoa
que se pode servir dele. E assim, vós direis a Manuel de Morais que eu vos
escrevi para que o despedísseis.
Também
despedireis a Francisco Gonçalves; e isto vos mando que façais em virtude de
obediência. Não os deixareis entrar no colégio; e assim, mandareis a todos os
que estão no colégio que não tenham prática com eles. A mim me pesa muito de
haver causas para os despedir3. O que mais sinto ainda, é que tenho medo de que
não hão de ser [eles] sós4. Deus sabe com quanta mágoa escrevo esta carta!
Outros desgostos
2. Cuidava
[vir] achar cá alguma consolação, depois dos muitos trabalhos que tenho levado
e, em lugar de consolação, acho trabalhos que assaz me atribulam, como são
demandas e desavenças com o povo, que causam pouca edificação.
Obediência, parece-me
[pelo que tenho alcançado depois que cheguei], que há pouca ou nenhuma. Louvado
seja Deus por tudo.
Recados sobre alguns jesuítas. Cumprimentos ao Bispo
3. A Belchior
Gonçalves6 mandareis e escrevereis para Baçaim que, em virtude de obediência, venha
a Goa, que assim o mando.
Baltasar
Nunes7 recebê-lo-eis em casa até que eu aí vá. Um mancebo que aí vai, que se
chama Tomé Fernandes8, não o recebereis em casa até que eu aí vá. Dizei-lhe
que, se quiser servir a Deus na Companhia, o sirva em espírito até que eu aí
vá. Espero em Deus Nosso Senhor depressa estar aí.
Ao Senhor
Bispo, de minha parte, lhe beijareis a mão e lhe direis que em grandíssima
maneira desejo ver Sua Senhoria para consolar-me com ele; pois é tão grande a
obrigação que lhe tenho, que me acho indigno para lhe pagar o muito que devo a
Sua Senhoria.
A todos os Irmãos desejo muito de ver,
principalmente aos Padres, para me consolar com eles.
De Cochim, a 4
de Fevereiro de 1552
(Por mão de
Xavier): Todo vosso em Cristo, FRANCISCO
3
Ambos foram despedidos da Companhia por desobedecerem a João da Beira, superior
da Missão em que trabalhavam. Tinham sido enviados para as Molucas em 1549 com
Afonso de Castro, onde já se encontravam Nicolau Nunes e Nuno Ribeiro com João
da Beira (Xavier-doc. 82).
4
Além destes, Xavier despediu em Goa António Gomes e Melchior Gonçalves; outros
três (Manuel da Nóbrega, André Monteiro e João Rodrigues) despediram-se eles
mesmos de própria vontade.
6
a razão por que o chamou cf. Xavier-doc. 104,1: «pois está esse povo de nós tão
escandalizado».
7
Sobre ele cf. Xavier-doc. 68,2. Consta que era ainda estudante, muito doente e
hesitante na vocação. Mas em 1566 ainda continuava jesuíta / 8 Talvez um Tomé Fernandes que
em 1581 era sacerdote diocesano em Diu.
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