Em 20 de janeiro de 1548, (uma
semana após chegar na India, em regresso a missão das Molucas ) Xavier escreveu
um conjunto de 05 cartas (59 a 63). Destas, 04 foram encaminhadas para a
Companhia de Jesus na Europa e ao Império Português. As cartas remetidas à
Europa haviam sido escritas há 1 ano e 8 meses, em maio de 1546.
Na carta 60 a Inácio, { 01.Já que não pode tratar da sua vida espiritual com
Inácio, pede que mande algum Padre espiritual que o ajude a ele e aos outros
jesuítas.}
Xavier
mostra nas primeiras linhas todo seu afeto a Inácio de Loyola. Ao regressar das
longínquas Molucas, no Extremo Oriente, parece confortar-se com a diminuição da
distância de seu amado Pai Espiritual. Xavier diz: “Deus
me é testemunha, pai caríssimo, de quão intensamente lhe peço para vos ver ainda
nesta vida, para convosco falar de muitas coisas que requerem a vossa ajuda e
remédio, pois nenhuma distância se opõe à obediência1.”
Inácio, é para Xavier, a figura paternal, aquele que cuida,
que zela pelo bem espiritual dos filhos e, com isso, Francisco dirige um pedido
muito nobre a Inácio. Pedido este, não para si somente, mas em preocupação pelo
numero crescente de irmãos jesuítas nas missões das Índias.“Vejo que nestas paragens há muitos da
Companhia2,... Eram 17 ao todo: Xavier, micer Paulo, Mansilhas, Beira, Criminali, Lancillotto, e os que chegaram em 1547 (Francisco Henriques, Henrique Henriques, Pérez, Ribeiro, Cipriano, Moraes júnior, Adão Francisco, Baltasar Nunes, Nicolau Nunes), mais dois que foram admitidos na Companhia em 1547 (Alcáçova e António Vaz).
...e vejo igualmente que necessitamos
médico das nossas almas. Pelo Senhor Jesus vos rogo e suplico, pai
boníssimo, que olheis também por estes
vossos filhos que estamos na Índia, e envieis uma pessoa eminente em virtude e
santidade, cuja firmeza e alento sacuda o meu torpor. Tenho grande
esperança de que, pois vedes tão segura e sobrenaturalmente as afeições das
nossas almas, poreis diligentemente mãos à obra, para que a virtude já lânguida
de todos nós se anime com mais entusiasmo ao desejo de perfeição3.”
A humildade de Xavier não fê-lo perceber que, no
entendimento de Inácio (Superior Jesuita) a dita ‘pessoa eminente em virtude e santidade’ era o próprio Xavier. Quanto a isso, Inácio não havia o que
se preocupar. O homem santo como pediu Xavier para zelo dos demais irmãos
missionários era ele próprio. Mas então o que faltava? Talvez Xavier não se
visse como regente, superior dos demais jesuítas na Índia, tendo em vista, que
alguns dos novos missionários chegados á India, ainda não tinha se encontrado
com o Ilustre Xavier. As missões não permitiam essa confraternização. Cada um,
logo tinha um destino a zelar na messe e isso, era mais sublime, mais ocupante
e, não sobravam tempo. Xavier se via como mais um servo apesar de ter ganhado a
função de Nuncio Apostolico na sua partida para as Indias. Francisco Xavier,
espera que Inácio envie alguém, de sua estima, para o zelo espiritual e
paternal dos jesuítas nas Indias, já que , pela distancia, emanam pouco dos
cuidados de Inácio, a não ser pelas poucas e demoradas cartas e por suas
orações.
Para os portugueses, pede bons pregadores; para os gentios, missionários
seguros
2. “Nenhuma coisa mais deseja, esta terra,
da nossa Companhia, que pregadores4. Entre os que Mestre Simão enviou a estas
partes, não há, que eu saiba, nenhum pregador. Os portugueses que vivem na
Índia, pelo seu grande amor e benevolência para connosco, desejam grandemente
pregadores da nossa Companhia. Portanto, rogo-vos, por Deus e seu serviço, que,
em vista de tão piedoso e justo pedido, envieis a estas terras alguns padres
aptos para este ministério, que mostra aos que andam desviados o caminho recto
da salvação. Além disso, os que enviardes da Companhia para percorrer os lugares
dos gentios, para pregar-lhes o Evangelho, convém que sejam de tão assinalada
virtude que possam ir com segurança, acompanhados ou sós5, aonde quer que os
reclame a causa cristã: seja a Maluco, à China ou ao Japão. Pela descrição da
China e do Japão e das suas gentes, que vos envio dentro desta carta,
entendereis facilmente que classe de pessoas requer este assunto6.”
Aqui Xavier tem duas intenções distintas, conforme a
realidade cultural na India. Pede a Inácio que envie pregadores, homens culto,
letrados para cuidar da manutenção da fé dos colonos portugueses tão numerosos
na India, especialmente nas cidades portuárias. Mas também pede missionários
que devam ter mais vigor físico, menos idade e com boa saúde, mesmo que poucos instruídos
na doutrina, para empreenderam a missão entre os pagãos. Para estes, de fato,
não era preciso tanta eloquência ou experiência religiosa pois a missão
evangelizadora entre os pagãos servia-se, especialmente dos princípios básicos
da doutrina, tais como ensinar as orações e seus significados, administrar os
sacramentos aos convertidos, responder as indagações curiosas sobre a natureza,
céu, inferno, pecado, etc. e organizar pequenas comunidades “ruralizadas”.
Xavier era muito detalhista, repare que mesmo entre os “pagãos” (orientais)
haviem culturas mais avançadas, cultas e para isso, requer também outras
qualidades de missionários, ou seja, mais pregador e também com vigor físico
para a jornada.
Urge as indulgências e faculdades já pedidas e desiste de mudanças da
Quaresma
Também aqui, Xavier trata de dois assuntos, mais teológicos. Manten-se
firme no pedido de Indulgencias para reavivar a devoção e respeito pela fé que, facilmente, ficava em desvredito,
segundo plano, as praticas devocionais e sacramentais. Refere , especialmente à
tibieza dos portugueses que faziam pouco caso da prática religiosa e
privilegiavam os lucros do comércio e dos cargos na realeza imperial. 3.
“Ainda estamos esperando, com incrível
ânsia, as indulgências pontifícias e o privilégio do altar privilegiado para o
nosso colégio, e a faculdade de os sacerdotes poderem confirmar os povos em vez
do Bispo: de tudo isso vos escrevi em anos anteriores7”.
Quanto ao outro pedido , mais para favorecer os
neoconvertidos, pescadores, que na época da pascoa estavam em alto mar na
temporada trienal da pesca, mas Xavier, mesmo percebe que tantos nas diversas
partes das Indias como em Malaca e Molucas, este período varia, e assim, não é possível
privilegiar a participação de todos esses povos. Mas repare que Xavier não cita
esses povos, mas sim os portugueses colonos, como estratégia, pois na realidade
europeia, a missão entre os pagãos era coisa desconhecida. A Europa só teve
contato e evangelizou os pagãos que adentraram seus territórios, os Bárbaros,
dos reinos do Norte da Europa que se fixaram no Antigo Imperio Romano. Com
Xavier foi a Igreja que foi em direção aos pagãos e não os pagãos que foram em
direção a Igreja. Ou seja, Xavier
entende que as autoridades da Igreja não fariam tamanha mudança (logo, a Pascoa)
apenas em beneficio dos pagãos. “Pelo que toca à Quaresma, a experiência
me ensinou que não é necessário mudar nada8. Uma vez que os portugueses da
Índia vivem tão separados entre si, olhando ao bem comum, não há necessidade de
mudança nenhuma. Porque nem o Inverno é ao mesmo tempo em todas as cidades e
povoações onde há portugueses. Por isso, tendo em conta o bem comum, julgo
preferível que nada de novo se decida sobre isto, embora veja que não falta
quem pense o contrário.”
Irá ao Japão ele ou outros, e deixa superiores locais em todos os
grupos de jesuítas
Por fim, nesta curta carta, dirigida estritamente a Inácio
para assuntos mais particulares, pois na mesa data escreveu carta direcionada a
todos os jesuítas em Roma, o que Inclui Inácio. A ansiedade por uma nova “grande
viagem missionária” a do Japão, faz Xavier, ainda sem conhecer essa nova missão, pois ouvira do
Japão no seu retorno das Molucas, algo novo ainda, a citar para Inácio que
regressaria para terras mais distantes, totalmente pagã. 4. “Ainda não resolvi definitivamente se eu
mesmo irei ao Japão, com um ou dois da Companhia, daqui a ano e meio, ou
enviarei adiante dois dos nossos: o certo é que ou irei eu ou enviarei a
outros. Actualmente estou inclinado a ir eu mesmo. Peço a Deus que me inspire,
com toda a clareza, o que for mais do seu agrado. Dos três da Companhia que
foram para Maluco, pareceu-me bem eleger um que fosse superior dos outros, e
assim elegi João da Beira, a quem obedecessem os outros como a vós. A ordem
agradou-lhes muito. O mesmo penso fazer no Cabo de Comorim e nos restantes
lugares onde haja vários da Companhia. Desejo que vós e os vossos devotos nos
obtenhais graças celestiais para os que andamos entre estas gentes bárbaras.
Para que façais isto com mais fervor, rogo a Deus imortal que vos faça ver
sobrenaturalmente quanto necessito do vosso favor e ajuda.”
Xavier conclui a carta, conciliando com Inácio no modo de
administrar seus irmãos nas diversas missões. Ele preza pela obediência e
subdivide sua função provincial de administrar. Rege grupos pequenos com um líder,
a quem remeterá cartas e informes das missões.
De Cochim, a
20 de Janeiro de 1548, FRANCISCO
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